Por Leandro “Leo” Banner

Se alguém duvida que John Byrne fez escola e influenciou o cânone do Homem de Aço com sua abordagem mais humana e vulnerável do Superman, basta ler – entre várias outras – histórias como Superman – As Quatro Estações, que já foi objeto de análise neste espaço, e a surpreendente minissérie em 7 partes originalmente publicada sob o título SUPERMAN: AMERICAN ALIEN de 2016, publicada por aqui pela Panini Comics em 2018 na edição encadernada SUPERMAN: ALIENÍGENA AMERICANO, magistralmente escrita por MAX LANDIS e ilustrada por um panteão de artistas fora de série, cada qual ilustrando um determinado momento essencial da vida de… CLARK KENT. A edição #1 começa com a história POMBO, ilustrada por NICK DRAGOTTA e cores de ALEX GUIMARÃES, e mostra as dificuldades de um adorável Clark Kent entre 5-6 anos de idade que começa a descobrir suas habilidades e fica aterrorizado com elas. Contando com a ajuda e boas atitudes de seus pais Jonathan e Martha, que fazem de tudo para educá-lo da melhor forma e lhe dar apoio incondicional, essa história leve e tocante evidencia detalhes da infância de Clark, descoberta de seus poderes e seus receios infantis. A história de uma página chamada OS NÁUFRAGOS é ilustrada por MATTHEW CLARK e colorizada por ROB SCHWAGET, mostra em uma série de recortes vários pontos da vida pregressa de Jonathan Kent, originalmente formado em Direito, e Martha Adrienne Clark, formada em Veterinária, bem como detalhes de seu casamento, a perda do primeiro filho natural, a indisposição de Jonathan em assumir a fazenda de seu pai, seu contato com outro amigo advogado para lhe ajudar a forjar uma certidão de nascimento e etc. Vale muito a pena ler os recortes e ir montando o quebra-cabeça cronológico do que foi a vida de Jonathan e Martha antes de Clark.

A história da edição #2, intitulada FALCÃO, é ilustrada e colorizada por TOMMY LEE EDWARDS, e mostra um Clark adolescente com hormônios à flor da pele e fazendo coisas típicas da sua idade, até que um crime inesperado choca a todos em Smallville. O xerife pede ajuda a Clark que, mesmo rastreando o paradeiro dos assassinos, decide se calar para poder empreender ele mesmo a busca pelo grupo. Ao confrontar os fascínoras, ainda alheio aos limites de suas habilidades, Clark involuntariamente incinera os braços de um dos assassinos com sua visão de calor, para em seguida receber um tiro no rosto à queima-roupa que teria sido capaz de matar uma pessoa comum. Clark fica atordoado e inseguro quanto a reagir a essa investida, uma vez que não desejava ferir mais ninguém, sendo salvo no último momento por Pete Ross, que leva a nocaute a assassina armada com arma de fogo. Na delegacia Clark é repreendido pelo xerife, que lhe diz ser difícil encobrir suas habilidades se ele não tomar mais cuidado, e também é admoestado pela mãe ao retornar à fazenda. Martha exagera no tom usando palavras duras, mas percebe que exagerou e se arrepende depois de se aperceber que o filho só queria fazer o certo.

PAPAGAIO é ilustrada por JOËLLE JONES com cores de RICO RENZI, e mostra Clark aos seus 20 anos tentando desfrutar de um prêmio, uma viagem às Bermudas a bordo de um avião de pequeno porte. Tudo ia muito bem até uma pane no motor causar a queda do avião em pleno oceano. Clark consegue resgatar o piloto e ambos são içados do mar por um imenso iate onde se desenrola uma festa para o jovem milionário Bruce Wayne. Ao chegar a bordo, todos acham que Clark É Wayne que tentara fazer uma entrada chamativa na própria festa, com o jovem do Kansas tentando a todo tempo desfazer o mal-entendido, mas uma cínica socialite integrante da festa (uma certa Bárbara Minerva) lhe aconselha a aproveitar o momento e “fingir ser outra pessoa”, considerando que todo mundo praticamente age dessa forma (finge ser algo que não é). Depois de uma certa resistência, Clark aceita a sugestão e cai na farra, passando dias se divertindo, conversando, bebendo (sim, ele bebe bebidas alcoólicas) e flertando com a bela e voluptuosa socialite, desfrutando de momentos bem “calientes” com ela.😈😈 A conversa muito bem estruturada entre os dois promove uma mudança de postura em Clark, que pretendia seguir os passos da mãe e ser veterinário em Smallville. No entanto, Clark decide ampliar seus horizontes e opta por conhecer o Mundo. No final da história, a festa de arromba de “Bruce Wayne” é noticiado em todo o Mundo, chegando a um recanto isolado onde o verdadeiro Bruce Wayne em pleno treinamento olha para seu dublê proferindo a pergunta “quem é você?”.

A edição #4 traz a história CORUJA, com arte de JAE LEE e cores de JUNE CHUNG, na qual o estudante de jornalismo Clark Kent tenta obter uma entrevista com um dos três maiores e promissores jovens milionários da atualidade (Bruce Wayne, Oliver Queen e Lex Luthor), mas se depara com um concorrente insistente chamado “Louis Lane”… até descobrir que “Louis” não é um “cara”, mas sim a bela Lois Lane. No meio da multidão, em franca discussão com Lois, Clark ouve alguém chamá-lo “BRUCE WAYNE”! Era Oliver Queen que estava no iate anos atrás e não esquecera o episódio. Oliver chama Clark, lhe dá uma entrevista contendo várias ponderações sobre várias situações, e diz que pode lhe conseguir também uma entrevista com Luthor, o que o estudante prontamente aceita. A conversa entre Kent e Luthor é repleta de considerações e termina de forma inesperada. À noite, ao transcrever as entrevistas, Clark é atacado pelo Batman, que lhe pergunta porque sua certidão de nascimento é forjada antes de ser subjugado por Kent, que descobre tratar-se de Bruce Wayne sob o manto do vigilante. A história de uma página chamada VAMPIRO, ilustrada pelo saudoso STEVE DILLON e colorizada por ROD REIS traz a origem do Parasita. A quinta história do encadernado – ÁGUIA– tem arte e cores de FRANCIS MANAPUL e mostra Clark se utilizando da capa do Batman (num uniforme improvisado) com um “S” estilizado no peito já atuando como Superman, salvando vidas e enfrentando a grande ameaça do Parasita, que percorre a cidade de forma enlouquecida. Por mais que tenha a disposição e a boa vontade, nesse momento Clark ainda não tem muita experiência no combate ao crime, e ao descobrir que Luthor está por trás da criação do vilão, toma uma atitude impensada que o magnata inescrupuloso consegue reverter a seu favor. Aqui já se vê um pouco mais também da evolução da relação entre Clark e Lois, já repórteres do consagrado Planeta Diário, numa conversa que ajudará o Homem de Aço a colocar as coisas sob melhores perspectivas. ANJO, história da edição #6 com arte e cores de JONATHAN CASE, traz os amigos de infância e juventude de Clark, Pete Ross e Kenny Braverman, fazendo uma visita a Metrópolis. A visita tem ótimos e divertidos momentos entremeados com tensão e discussões entre amigos que se conhecem muito bem, levando a extremos que resultam numa atitude arrogante e impensada de Clark que o leva a descobrir mais sobre suas origens, ainda que de forma inadvertida. Interessante Clark admitir para o amigo Pete Ross que ele nem sempre é perfeito.

Concluindo o encadernado, a história VALQUÍRIA tem arte de JOCK e cores de LEE LOUGHRIDGE, e traz um violento embate entre o Superman e o LOBO, em uma história onde é possível ver todos os tipos de golpes (até os mais baixos😬), mas que também traz uma dinâmica perfeita da relação entre Lois e Clark, sobretudo em seu desfecho. Ainda que visualmente toda série seja muito atrativa, o grande destaque vai para MAX LANDIS, que faz um trabalho sensacional, indo muito além do que qualquer outro roteirista fora anteriormente no sentido de humanizar o Homem de Aço, conseguindo estabelecer muito bem pontos chaves da evolução e do amadurecimento da criança alienígena que caiu no Kansas e que viria a se tornar um dos maiores campeões da Humanidade, tudo isso com roteiros simples (e isso não é nenhum demérito), concisos e muito bem escritos. Infelizmente não são histórias canônicas, mas seria muito melhor se fossem, pois apresentam uma abordagem do personagem que o tornam muito mais crível, interessante e capaz de despertar simpatia e empatia.
Uma história relativamente recente e que, contrariando todas as expectativas, se mostra uma obra muito acima da média ratificando aquela máxima de que não há personagem ruim, apenas personagem mal-escrito. Uma excelente opção para quem está saturado das megassagas megalomaníacas que inundam o mercado mainstream de quadrinhos há décadas. Altamente recomendável.
Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻