CLÁSSICO REVISITADO | O PODEROSO CHEFÃO II – 40 ANOS

Por Adilson Carvalho

Oscar de melhor filme, direção, roteiro adaptado, ator coadjuvante para Robert DeNiro, cenografia e trilha sonora para Nino Rota, essa superprodução custou 13 milhões de dólares conseguiu o feito de superar uma obra original já caracterizada por superlativos. O best-seller de Mario Puzo que narra a saga da família Corleone é um primor de narrativa e edição. Coppola conseguiu fazer de O Poderoso Chefão II (The Godfather II) um filme que ao mesmo tempo funciona de prequela (em uma época em que não era tão comum em Hollywood) e uma sequência. Uma narrativa paralela em perfeita sincronia entre o passado representando na tela as duas primeiras décadas do século XX quando o jovem Vito Corleone (DeNiro) chega à América, saltando para o início da década de 60 com Michael Corleone (Al Pacino) exercendo o poder que lhe foi legado a todo custo. Coppola e Puzo exploram as contradições da subcultura mafiosa com seu distorcido código de honra, intrigas familiares e evidente misogenia. Diretor e roteirista alcançam um ápice de perfeição para conduzir a trama mesclando eficientemente duas linhas temporais sem jamais perder o ritmo. O elenco é um primor em todos os momentos de cena. Robert De Niro passou quatro meses aprendendo a falar o dialeto siciliano do italiano para interpretar Vito Corleone. Quase todo o diálogo que seu personagem fala no filme é em siciliano. Em cena, Lee Strasberg (1901-1982), o fundador do mítico Actor’s Studio, faz uma rara aparição nas telas como Hyman Roth, personagem vagamente baseado no mafioso da vida real Meyer Lansky. Este, que na época do lançamento do filme estava morando em Miami, teria telefonado para Lee Strasberg e dito: “Por que você não poderia ter me tornado mais simpático? Afinal de contas, eu sou um avô.” Um dos pontos mais altos, no entanto, é o momento em que Michael (Pacino) confronta Kay (Diane Keaton) sobre sua gravidez e posterior aborto. A intensidade de ambos em cena é impactante e exalta o talento de ambos os intérpretes. A morte de Fredo (John Cazale) também é extremamente envolvente e funciona como um elemento crucial para a construção da vilania de Michael Corleone.

Apesar de tantos adjetivos elogiosos, o filme quase não aconteceu desta forma. Coppola a princípio não queria dirigir O Poderoso Chefão II depois dos vários aborrecimentos que tivera no set de filmagem do primeiro filme. Coppola indicou Martin Scorcese mas os executivos da Paramount recusaram e convenceram Coppola a voltar, com um acordo que determinava que a sequência deveria ser interligada ao primeiro filme com a intenção de exibi-los juntos posteriormente; que ele fosse autorizado a dirigir seu próprio roteiro de A Conversação (1974); que ele fosse autorizado a dirigir uma produção para a Ópera de São Francisco; e que ele fosse autorizado a escrever o roteiro de O Grande Gatsby (1974), tudo isso antes da produção da sequência para lançamento no Natal de 1974. Coppola tentou trazer Marlon Brando de volta mas lembrando do teste de Robert DeNiro para o primeiro filme, o contratou para fazer Vito Corleone jovem. Ainda assim pensou em Brando para cenas de flashbacks, mas o tempestuoso ator desistiu em cima da hora e a cena teve de ser reescrita por Coppola. As atribulações continuaram e até mesmo Al Pacino causou problemas durante toda a produção do segundo filme , exigindo um salário enorme e muitas reescrituras do roteiro. O icônico produtor e diretor Roger Corman, recentemente falecido, aparece no filme como um senador. Corman foi quem deu a Coppola sua primeira oportunidade para dirigir um filme (Dementia 13) em 1968, trabalhando juntos por um tempo.

Essa foi a primeira sequência a ganhar o Oscar de Melhor Filme. A segunda, e a partir de 2022 a última, foi O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003). É também o único filme com uma história prequel a ser indicado ao prêmio de Melhor Filme. A frase do filme, “Keep your friends close, but your enemies closer” (Mantenha seus amigos por perto, mas seus inimigos por perto), foi eleita entre as 100 melhores frases do cinema, como a 58ª segundo o American Film Institute . Foram 104 dias de filmagem, com 200 minutos de projeção, 11 indicações ao Oscar com 6 vitórias. Anos depois, Coppola conseguiu reeditar os dois filmes para exibição na TV americana de “The Corleone Saga” seguindo ordem cronológica. E em 1990, houve um terceiro capítulo, rejeitado por muitos fãs, mas que servem de epílogo para um épico primoroso que marcou seu tempo e a história do cinema. Disponível para assistir no Prime Video e no Paramount +.

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