Por Adilson Carvalho

Quando criança o jornal de domingo era especial pois trazia o Globinho. Nos jornais americanos os suplementos de quadrinhos sempre foram uma tradição, e foram o berço de vários personagens como Fantasma, Flash Gordon, Hagar etc. No Brasil, o jornalista Adolfo Aizen foi o pioneiro e lançou em 1934 o Suplemento Juvenil , encartado no jornal A Nação, com histórias dos personagens publicados originalmente pela King Features Syndicate Já a primeira versão de O Globinho foi lançada em 17 de novembro de 1938 para disputar a atenção dos leitores. Era na ocasião apenas uma sessão publicada na edição vespertina de sexta-feira trazendo duas páginas de quadrinhos e reportagens sobre personalidades históricas e outros assuntos destinados às crianças. Entre os quadrinhos publicados estavam As Grandes Vidas de Premiani e O Galeão Perdido de Hélio Queiroz. A partir de 1940 foi reduzido a uma página e logo descontinuado. Somente em 1972, foi lançado o suplemento dominical O Globinho Supercolorido com oito páginas coloridas trazendo quadrinhos, passatempos, cartas dos leitores, reportagens e dicas culturais. Entre os personagens publicados tínhamos o cowboy Lucky Luke, Tarzan, Asterix, Os Flintstones, Rex Morgan Médico, Recruta Zero, Príncipe Valente, Pafúncio e Popeye. Não demoraria para o sucesso do suplemento trazer outros personagens como Pato Donald, Mortadelo & Salaminho, Pinduca, Bronco Billy, Os Bichos, Zé do Boné, Crock & Os Legionários entre outros. Em meio aos quadrinhos, o Globinho incluía brincadeiras como Jogo dos Sete Erros e Labirinto para distrair a garotada que implorava para o pai comprar o Globo de domingo para poder ler o Globinho.
O espaço do suplemento era bem eclético com clássicos das tiras como Capitão Cesar (1929) de Roy Crane, O Incrível Hulk (1963) de Stan Lee, que escrevia as tiras com seu irmão Larry Lieber, os populares Recruta Zero (1950) de Mort Walker, Hagar (1973) de Dirk Brownie, Mãe (1970) de Mell Lazarus, e Woody Allen (1976) de Stuart Hample. Confesso que eu tinha zero maturidade para entender a sutileza da ironia e o humor nais cerebral das tiras de Woody Allen, que na época da produção de suas tiras vinha em uma linha de sucessos crescentes, levando à premiação do Oscar por Noivo Neurótico Noiva Nervosa (1977). Em contraponto eu devorava as tiras de aventuras que ainda incluíam Dick Tracy (1929) de Chester Gould, Mandrake (1934) de Lee Falk, Fantasma (1936) de Lee Falk também, os já citados Hulk e Tarzan e os Super Heróis da DC que estavam muito populares nas décadas de 70 e 80 na TV devido ao desenho dos Super Amigos. A partir da década de 80, as páginas de O Globinho Supercolorido ganharam o Globinho Pesquisa, sempre trazendo um tema didático para ajudar a gurizada com trabalhos escolares, e olha que ajudava muito se tratando de uma época pré internet. Era o didatismo e o entretenimento aliados. O espaço desde o início brindava o leitor com uma diversidade de personagens admirável com quadrinhos belgas, franceses, espanhois, americanos, brasileiros entre outros. A partir de 1984 vieram também Valérian de Pierre Christin e Jean-Claude Mézieres, Ed Mort de Luís Fernando Veríssimo, Zeferino de Henfil, Calvin de Bill Watterson e até mesmo hqs de He Man, embalados pelo mega sucesso dos desenhos da TV. Logo em 1986, depois de um concurso de tiras juntou-se ao material o excelente Urbano, O Aposentado, de Antonio Silvério seguido, e no ano seguinte um novo concurso trazendo Leão Negro de Cynthia Carvalho e Ofeliano de Almeida . A tira foi publicada durante dois anos no jornal, em meio a censura e críticas por parte dos leitores do jornal. Urbano, o aposentado é a única tira publicada ininterruptamente no suplemento desde 1986. A última edição de O Globinho foi publicada em 6 de julho de 2013, passando a existir apenas como um blog dentro do portal do jornal O Globo. Porém, este novo espaço online foi atualizado apenas até 21 de julho de 2015.[O Globinho ganhou o Troféu HQ Mix de melhor suplemento infantil em 1989 e 1990 (os dois únicos anos em que essa categoria foi premiada). Encerrou-se assim uma era que marcou profundamente os leitores da mídia física, os fãs de quadrinhos e o acesso a um material que nunca mais encontrou seu público ou a chance de ser descoberto por uma nova geração.
