UM SÉCULO DE LUZES | DE METROPOLIS A MEGALOPOLIS

Por Adilson Carvalho

Não há relação direta entre o filme clássico de Fritz Lang e o novo filme do icônico Francis Ford Coppola, que estreou no Brasil recentemente. Estabelecendo uma referência entre os dois termos: Uma metrópole é uma cidade grande que gera dependência econômica, política e social em outras cidades do seu entorno, formando uma região com mais de 1 milhão de habitantes. Já uma megalópole é uma região ou área superurbanizada, que congrega metrópoles, regiões metropolitanas e pequenas cidades, interligadas em termos de transporte e comunicação. Ambos os filmes, claro, têm suas metáforas e leituras entrelinhas, mas cada qual em contextos históricos distintos. Coppola cutuca a América de hoje como uma nova Roma com a cultura das fake news equiparadas à política do pão e circo. Coppola não faz concessão a Hollywood, muito pelo contrário, ele afronta o mesmo sistema que o criou, mas que não o quer mais, como o próprio diretor declarou em entrevistas. Já Metrópolis é fruto de uma outra realidade, remontando a ascenção do Nazismo. Foi, na época, a mais cara produção até então filmada na Europa, e é considerado, por especialistas, um dos grandes expoentes do expressionismo alemão. Na época, foi considerado um tanto controverso, fazendo com que sua bilheteria fosse um desastre.

O roteiro, baseado em romance de Thea von Harbou, foi escrito por ela em parceria com Lang. Na história, na futurista cidade de 2026, a estrutura da civilização se divide rigidamente entre os poderosos no plano superior e os operários, em regime de escravidão, vivendo num local subterrâneo com suas famílias. Tudo é governado por Joh Fredersen (Alfred Abel), um insensível capitalista, cujo único filho, Freder (Gustav Frohlich) leva uma vida idílica, desfrutando de suas riquezas. Mas tudo muda quando o jovem conhece Maria (Brigitte Helm), a líder espiritual dos operários, e se apaixona perdidamente por ela, cuja aparência é usada para criar um robô e, consequentemente parte de um plano para enterrar qualquer revolta. O impacto do filme de Lang é fortíssimo 97 anos depois de seu lançamento. A cultura pop se apropriou de sua estética seja no clip Radio Ga Ga (1984) da banda Queen, no clip de Express Yourself da estrela pop Madonna, e até mesmo nos quadrinhos, quando o nome Metropolis foi usado por Jerry Siegel e Joe Shuster para batizar a cidade em que habita o Superman. Outra apropriação é o visual do robô, que inspirou o visual do C-3PO na franquia Star Wars desde seu lançamento em 1977. Sendo um dos filmes mais caros da época, com um custo de cerca de 5 milhões de marcos, Metrópolis quase levou a UFA (Universum Film) à falência. A ligação do filme de Lang com o regime nazista é, no entanto, bastante notável. Thea von Harbou, esposa de Fritz Lang, foi uma fervorosa e precoce apoiadora do partido. Não apenas Adolf Hitler, mas todo o círculo interno ficou encantado com o filme e o considerou como uma espécie de modelo social. Lang, é claro, era judeu, mas o Fuehrer lhe deu um passe livre por sua engenhosidade e visão, muito raras na Alemanha nazista. Ele fugiu para Paris e, por fim, para os Estados Unidos onde morou o resto de sua vida. Metropolis está disponível completo no You Tube.

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