CICLO FRANK CAPRA | O ULTIMO CHÁ DO GENERAL YEN

Por Adilson Carvalho

O Italo- americano Frank Capra (1897/1991) está esquecido hoje em dia mas é um dos maiores cineastas da era de ouro de Hollywood. Sua obra soube criar alegorias para as amarguras de um país que engatilhava da crise para a superação. Capra dirigia histórias que levavam o cidadão comum ao protagonismo com mensagens que iram de encontro aos anseios da sociedade de sua época, mas cujas lições ainda são válidas no contexto atual: acreditar em si mesmo, vencer por honestidade indomita e jamais se permitir corromper são características de Mortimer Brewster, Jefferson Smith, Longfellow Deeds, John Willoughby, Tony Kirby, George Bailey e todos os heróis capraninanos. Poucas vezes o cinema, seja clássico ou atual, conseguiu ser tão inspirador. Por isso, no mês em que o CinemaComPoesia complete 3 anos vai levar até vocês os principais filmes desse fantástico idealizador.

Para começar falo de O Último Chá do General Yen (The Bitter Tea of General Yen) de 1932, baseado no romance de Grace Zering-Stone, em que Capra narra um inusitado romance entre Megan (Barbara Stanwyck). uma missionária americana em Shanghai, durante a guerra civil, e o General chinês Yen (Nils Ashter). Megan, a princípio, sente repulsa pelo comportamento bárbaro do seu captor, mas logo percebe que por trás da crueldade de Yen existe a alma de um poeta e filósofo. E conforme a guerra explode intensamente ao redor deles, ambos acabam atraidos um pelo outro  apesar da teia de intriga, que torna esse amor impossível.

O filme foi o primeiro a ser exibido no lendário Radio City Music Hall de Manhatten, em sua inauguração em 6 de janeiro de 1933. Foi também um dos primeiros filmes a tratar abertamente da atração sexual inter-racial. Foi um fracasso de bilheteria em seu lançamento e, desde então, foi ofuscado pelos esforços posteriores de Capra. Nos últimos anos, o filme cresceu na opinião da crítica. Em 2000, o filme foi escolhido pelo crítico de cinema Derek Malcolm como um dos 100 melhores filmes do século XX. Na época de seu lançamento funcionários da embaixada chinesa em Washington, DC, reclamaram da representação do tratamento de prisioneiros de guerra nesse filme (embora muitos senhores da guerra chineses reais fossem conhecidos por torturar e executar soldados inimigos capturados, esse tratamento foi um pouco atenuado no filme) e de algumas expressões desumanas sobre o povo chinês, como “A vida humana é a coisa mais barata na China” (que permanece no filme). O filme foi um consequente fracasso nas bilheterias.

Revisto hoje, as conotações racistas são consequências da epoca em que o filme foi realizado. O ator sueco Nils Asther interpretou o general Yen porque naquela época, atores asiáticos nunca eram escalados para papéis principais em produções americanas. Embora multilíngue, Asther não falava mandarim, mas usou um dialeto similar para o papel. A produção foi bem cuidada com sua direção de arte magistralmente trabalhada ao recriar os palácios majestosos e as ruas cheias de gente da revolta chinesa.  Capra filmou o filme com uma meia de seda sobre a lente para dar à imagem uma aparência difusa e romântica. Quando era necessário obter uma imagem mais nítida de um indivíduo, um cigarro era usado para abrir um buraco na meia. Diferentemente da maioria dos filmes do diretor, esse filme contém uma sequência de sonho surrealista e uma cena notável (por ser tão incomum para Capra) em que uma impressora óptica é usada para sobrepor imagens de tumultos ao rosto de Megan para fazer com que sua confusão emocional pareça mais palpável. Embora o filme tenha envelhecido bastante seja na forma de abordar a temática inter racial ou na própria lentidão da narrativa, este permanece um exemplo do excelente contador de histórias que Capra foi.

Voltamos essa semana ainda com o romance de um repórter com uma herdeira.

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