Por Adilson Carvalho

Extremamente impactante ainda passados 45 anos de seu lançamento Apocalipse Now, de Francis Ford Coppola é o melhor filme de qualquer lista que relacione as produções que tratam dos horrores da guerra do Vietnã (1955/1975). Levou 16 meses para ser filmado, tendo sido inicialmente estimado para durar seis semanas ; o diretor investiu cerca de US$ 7 milhões de seu próprio dinheiro depois que o filme ultrapassou gravemente o orçamento. Ele acabou tendo que hipotecar sua casa e a vinícola de Napa Valley para terminar o filme, e ainda sobreviveu a uma crise nervosa e a um ataque cardíaco quase fatal para terminar o filme. A coragem e a determinação de Coppola é uma prova de seu virtuosimo e paixão pela sétima arte, como pode a nva geração conferir com sua vinda ao Brasil para divulgar Megalopolis (2024), seu mais recente trabalho.

No auge da guerra no Vietnã, e o capitão Willard (Martin Sheen), do Exército dos EUA, é enviado pelo coronel Lucas (Harrison Ford) e por um general (G.D. Spradin) para realizar uma missão que, oficialmente, “não existe – nem nunca existirá”. A missão: Procurar um misterioso coronel boina verde, Walter Kurtz (Marlon Brando), cujo exército cruzou a fronteira com o Camboja e está realizando missões de ataque e fuga contra os vietcongues. O exército acredita que Kurtz ficou completamente louco e o trabalho de Willard é eliminá-lo. Willard, enviado para subir o rio Nung em um barco de patrulha da Marinha dos EUA, descobre que seu alvo é um dos oficiais mais condecorados do Exército dos EUA. Sua tripulação se encontra com o tenente-coronel Kilgore (Robert Duvall), do tipo surfista, chefe de um grupo de cavalaria de helicópteros do Exército dos EUA que elimina um posto avançado vietcongue para fornecer um ponto de entrada no rio Nung. Após alguns encontros de arrepiar os cabelos, nos quais alguns membros de sua equipe são mortos, Willard (Sheen), Lance (Sam Buttoms) e Chef (Frederic Forrest) chegam ao posto avançado do Coronel Kurtz, além da ponte Do Lung. Agora, depois de se tornarem prisioneiros de Kurtz, será que Willard e os outros conseguirão cumprir sua missão?

O roteiro de John Millius e do próprio Coppola é uma adaptação do romance Coração de Trevas, do autor inglês Joseph Conrad. O diretor acreditava que Marlon Brando conhecia o livro de Joseph Conrad no qual o filme é baseado. Quando Brando chegou ao set de filmagem, Coppola ficou horrorizado ao descobrir que Brando nunca havia lido Coração de Trevas, não sabia suas falas e estava extremamente acima do peso. Kurtz sempre foi descrito como alto e muito magro. Depois de um pouco de pânico, Coppola decidiu filmar Brando, de 1,70 m, como se ele fosse um brutamontes de 1,80 m para explicar seu tamanho, e manteve a câmera longe de sua enorme barriga.O diretor passou vários dias lendo o livro de Conrad, em voz alta para Marlon Brando no set de filmagem. Francis Ford Coppola chegou a passar vários dias lendo Coração de Trevas em voz alta para Marlon Brando no set de filmagem. Ainda assim, o relacioanmento do astro com Coppola só piorou ao longo das filmagens. Brando ameaçou desistir e ficar com o adiantamento de US$ 1 milhão que recebera. Francis Ford Coppola disse a seu agente que não se importava e que, se Brando desistisse, tentariam Jack Nicholson, Robert Redford ou Al Pacino. Brando acabou aparecendo tarde, completamente bêbado. Coppola passou as filmagens das cenas de Brando para o assistente de direção Jerry Ziesmer, e permitiu que o decadente astro improvisasse suas falas já que simplesmente não conseguia memorizá-las.

Os problemas em torno de Coppola só aumentaram, depois que Martin Sheen teve um ataque cardíaco durante as filmagens nas Filipinas. Algumas imagens das costas de Willard são de dublês, incluindo o irmão de Sheen, Joe Estevez, que foi levado de avião especialmente. Francis Ford Coppola e Sheen estavam tão preocupados com a possibilidade do estúdio e a distribuidora retirarem o apoio se a notícia do ataque cardíaco de Sheen vazasse, que ambos mantiveram o silêncio. A programação oficial das filmagens dizia que Sheen havia sido hospitalizado devido à exaustão pelo calor. Além disso o ator Sam Buttoms estava sob efeito de speed, LSD e maconha durante as filmagens de suas cenas para o filme. Apesar de tantos obstáculos, Coppola conseguiu finalizar sua visão da obra, costurou em nosso imaginário a cena dos helicopteros surgindo no horizonte ao som de The Ride With The Valkyries, acrescentada por sugestão de Millius. O título também foi sugestão de Millius, que explicou ter visto uma tatuagem muito popular entre a comunidade hippie de um sinal de paz que dizia “Nirvana Now”. Milius, acrescentando apenas algumas linhas extras, editou o símbolo da paz para que parecesse um círculo com um bombardeiro B52 no meio e mudou o slogan para Apocalypse Now, surgindo assim o clássico que foi indicado para 8 Oscars, vencendo nas categorias de Melhor Fotografia de Vittorio Storaro e Melhor Som. Uma obra-prima disponibilizado em versão integral na Mubi.