ENTREVISTA | MÁRIO JORGE ANDRADE

Por Adilson Carvalho

Adilson : Um dos maiores dubladores do elenco estelar do Brasil, goo a primeira voz de Luke Skywalker (Mark Hamil) em Star Wars, dublou Animações como Carros (2006), Bolt (2008) e o Burro em Shrek (2001 e todas as sequencias),  sendo tambem a voz oficial de Eddie Murphy e John Travolta. Tambem esteve no elenco da saudosa TV Colosso, e chega a Netflix mais uma vez na voz de Johnny Lawrence em Cobra Kai. Ator, diretor e dublador, estou falando com Mário Jorge Andrade. Como vai Mário ?

Mario Jorge: Graças a Deus muito bem,  prazer estar aqui e conhecê-lo.

Adilson : Muito prazer também em ter essa oportunidade de te conhecer. Minha vida toda ouvi sua voz em tantos personagens que não caberia aqui mencionar todos em uma frase. Como foi  o momento inicial da sua carreira, até para a nova geração que gostaria de seguir seus passos, como foi começar atuando bem cedo ?

Mario Jorge: Meu tio, Alberto Pieralisi,  era um grande diretor de cinema e eu comecei com ele aos 13 anos, trabalhando de office-boy. Eu pedi a ele que me deixasse de continuista, ele relutou a princípio e pouco depois deixou. Eu assistia ele dirigindo e e eu fiquei muito animado. No meio de um filme, o assistente de direção largou o filme e eu fiquei com a função. Fiz filmes com tantas pessoas, incluindo J. B. Tanko, até que conheci o Carlos Imperial. Comecei a trabalhar para o Imperial, incluindo dirigindo o programa de televisão dele. Foi o Imperial que me levou para a dublagem, me apresentando ao filho do Herbert Ritchers. Fiz teste para um filme do Larry Hagman chamado A Volta do Maior Detetive do Mundo (1976). Para minha surpresa eu fui contratado e tive minha carteira assinada. Fui escalado pelo José Santana e tive sorte de já começar fazendo o papel principal do filme, e fui logo escalado para outro principal, e assim começou minha história na dublagem. Graças às pessoas que me ajudaram eu comecei de maneira diferente, né eu comecei bem.

Adilson: Você tem uma capacidade vocal incrível, que se ajusta a cada personagem com a personalidade dele, como a dublagem de John Travolta em diversos filmes, o Eddie Murphy e o Johnny Lawrence de Cobra Kai. Você também tem passagem pela TV tendo trabalhado em A Marquesa dos Santos da Rede Manchete. Poderia falar para a gente como foi trabalhar em meios tão distintos como na televisão e na dublagem ?

Mario Jorge:  Eu nunca achei nada difícil eu só não faço televisão hoje porque eu não quero, eu não quero decorar milhares de falas eu não tenho mais paciência para decorar textos longos,  eu não tenho mais paciência para ficar esperando horas para entrar em cena Então por essas coisas que eu não faço a televisão Eu trabalhei como diretor de muita coisa da TV Globo principalmente, no SBT, no programa do Carlos Imperial sábado à noite. Eu fiz o Gilmar da TV Colosso, mas me encontrei mesmo foi na dublagem. Mas ator é ator não importa que seja teatro, cinema ou TV.Acho que a maior escola que eu tive, no entanto,  foi no rádio-teatro, uma tremenda escola para mim porque você interpreta apenas com um papel na tua frente, você tem que passar toda a sua emoção na voz e você não tem uma imagem que te ajude, não tem nada,  é tudo na voz. Essa foi a maior escola para mim como para os grandes profissionais da dublagem que tive o prazer de conhecer. 

Adilson: A cultura pop vem buscando os anos 80 de uma forma para mim muito agradável porque eu fui adolescente na década e todos os filmes dos anos famosos eu tipo o prazer de assistir suas estreias,  e agora recentemente chegou a Netflix Um Tira da Pesada : Axel Foley, o quarto da franquia. Como foi você para você reencontrar o personagem tão marcante ? Lembrando que você fez a voz de Eddie Murphy não só neste, mas em Os Donos da Noite (1989), Um Príncipe em Nova York (1988), O Rapto do Menino Dourado (1987), e tantos outros.

Mario Jorge: Olha é uma coisa que eu esperava muito tempo  e eu tenho certeza que mas na verdade o que mudou do primeiro filme para o atual foi a tecnologia porque o Axel continua o mesmo, ele ele tá igual esteve em 1984, mesma malandragem, mesma ginga, então é muito mais fácil fazer porque eu sei todos os maneirismos do ator, eu conheço o Murphy do lado do Avesso então quando me chamaram quando me disseram que tinha chegado do Brasil Um Tira da Pesada 4 eu fiquei pensando “Poxa, tomara que eu seja chamado.” Se bem que é muito difícil não ser eu porque já vem já vem escolhido lá dos Estados Unidos , desde que o Eddie me considerou o melhor dublador dele no mundo. Até um dos meus gatos se chama Eddie Murphy. Apesar de toda dificuldade que é acompanhar o timing do ator em cena, é um prazer porque eu jogo nele e toda malandragem do Carioca. O Eddie Murphy é muito carioca, ele é muito Mario Jorge. Eu procuro e pesquiso gírias modernas para não falar “compadre”, que é mais antigo, e minha filha me ajuda muito nisso Então imagina agora já diria algo como “Eu e Adilson brotamos agora aqui

Adilson: Fale mais um pouco sobre como foi a volta à Axel Foley.

Mario Jorge: Eu ganhei da Netflix vários presentes, além de mais de 2000 comentários de fãs. Sabe, tem momentos que alguns fãs me levam às lágrimas. Sou muito grato a eles.  Eu cheguei a 71 anos trabalhando graças a Deus fazendo algo que eu gosto e com a mesma voz que eu tinha há 40 anos atrás. Tenho todos os motivos do mundo de ser muito grato a todos os fãs porque isso me incentiva muito mais. Tenho uma turma de seguidores e eles torcem muito por mim, muitos deles escreveram assim “Mário eu só peço a Deus que dê muitos anos de vida para poder curtir durante todos esses anos” .Isso é emocionante cara sabe isso é emocionante pois você ouve isso de uma pessoa que nunca te viu pessoalmente,  que nunca te abraçou e isso é muito emocionante. O Eddie Murphy me traz essas emoções e agradeço sempre a Netflix porque foi pela primeira vez em 48 anos de dublagem que eu fui tratado como uma estrela. A Netflix me levou para São Paulo para promover o filme, fiz várias entrevistas, fiquei no melhor hotel de São Paulo como motorista minha disposição 24 horas. Agradeço ao meu Ogum pelas coisas que chegam até mim.

Adilson: Que outros projetos envolvendo o Eddie Murphy vem por aí?

Mario Jorge: Já anunciaram Shrek 5 e o Eddie disse que depois do Shrek 5 vai ter um filme só do burro, ótimo !

Adilson:  Que outros trabalhos você fez além do Murphy, que você lembra tão bem ?

Mario Jorge: Eu dirigi a dublagem da série  Sabrina – Aprendiz de Feiticeira (1995) , adoro o Gilmar da TV Colosso, um faxineiro que a princípio  não tinha tanta importância até que depois de um tempo tinha tanta popularidade quanto a Priscila. Muita gente diz que o Gilmar é meu alter ego.  Tem o Dudley Moore, o Steve Guttenberg em Loucademia de Polícia, são muitos papeis que adorei fazer. 

Adilson: Exato, adorava ouvir sua risada em Arthur – O Milionário Sedutor (1980) e você fez o Dudley Moore várias vezes né?

Mario Jorge: Fiz todos os filmes dele. Adorava  Dudley Moore e fiquei muito triste com a morte dele.  Foi maravilhosa de fazer porque era genial, ele era um ator genial e você sabe quando você tá dublando uma ator , você tem que acompanhá-lo. Eu amei aquela sequência dele. Quando você dubla, você não pode estar abaixo do tom ou acima do tom, tem que acompanhar o ator. E o Dudley era sensacional.

Adilson: Há rumores de que a Warner vai refilmar Loucademia de Polícia (1984). Voce dublou o Mahoney (Steve Gutenberg) na franquia. Acha que este remake pode funcionar em tempos tão engessados pelo “politicamente correto”?

Mário Jorge : Muita coisa que dublei há 10 anos atrás eu não poderia falar hoje. Acho que a Warner até consegue atualizar para os tempos de hoje, como por exemplo o sucesso de Um Tira da Pesada : Axel Foley. Eu dublei muito o Steve como em Coccon (1983) e Três Solteirões e um Bebê (1988). 

DUDLEY MOORE EM ARTHUR

Adilson: Havia um pouco de Recruta Zero no Mahoney, não ?

Mário Jorge: Bom, eu dublei o desenho do Recruta Zero, então de repente eu nem me dei conta.

Adilson: Vamos falar aqui agora de Cobra Kai, que tem sua sexta temporada chegando agora na Netflix.  Esse é um dos momentos que eu te falei que a sua voz trabalha muito emoção como o personagem Johnny Lawrence (William Zabka), que era afrontoso, valentão no Karatê Kid 1 (1984) onde desafiava o Daniel Larusso (Ralph Machio) e no Cobra Kai ele ganhou camadas de humanidade, e você sobre explorar essas camadas com seu tom de voz a cada momento temporada após-temporada. Para você  o que que faz Karate Kid ganhar tanto destaque até hoje através do Cobra Kai ?

Mário Jorge: Adilson, realmente eu não sei dar essa explicação porque quando eu fiz o primeiro Karatê Kid eu achei que não não passaria dali e o filme cresceu, criou um espaço tão grande e quando fizeram agora o Cobra Kai, eu pensei que loucura que é todo esse sucesso que uniu gerações diferentes. 

Adilson: Como foi esse momento aí de você gravar o Gorpo do desenho He-Man

Mário Jorge: Todos nós fomos testados na época, o Garcia Junior como He Man, a Juraciara Diácovo como Drielle, e eu também. Sempre achei que aquele desenho seria um sucesso. A musiquinha que cantávamos ainda é lembrada “O Bem vence o mal, espanta o temporal”. E tinha o Orlando Drummond como Pacato / gato Guerreiro e o Isaac Bardavid como Esqueleto. Era muito bom. Naquela época gravamos todos juntos no estúdio. Hoje é diferente. Em Cobra Kai, por exemplo, eu gravo aqui do Rio e o Nizo Netto, que faz o Daniel Larusso, grava de São Paulo. Nunca nos encontramos para gravar. No começo estranhei, mas hoje já me acostumei. 

Johnny Lawrence em Cobra Kai

Agora o questionário de Bernard Pivot que finaliza as entrevistas que faço;

Adilson: Que som você mais gosta?

Mário Jorge: A voz da Monica Rossi, minha ex esposa, uma das mais belas vozes que já ouvi. A Mônica fez a Demi Moore e a Julia Roberts. Fui eu quem a escolhi e ao Garcia Junior em Ghost (1990). A Mônica é, na minha opinião, a melhor dubladora do Brasil. Tenho orgulho de ter casado com ela, e de tê-la trazido para a dublagem. Ela faz a Meredith Grey de Grey ‘s Anatomy.

Adilson: Que som você mais desgosta?

Mário Jorge: Não gosto de batidão.

Adilson: Que profissão você jamais exerceria?

Mário Jorge: Policial. Não é para mim. Perdemos um colega, que era o dublador de Harry Potter que morreu quando se tornou policial.

Adilson: Que profissão você gostaria de ter, além da sua própria?

Mário Jorge: Motorista de carreta.

Adilson: O que você gostaria de ouvir de Deus quando chegar ao Paraíso ?

Mário Jorge: Cara, você cumpriu bem sua missão.

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