HQ TERRITÓRIO NEUTRO | BÓRGIA (EDIÇÃO INTEGRAL)

Por Leandro “Leo” Banner

A minissérie BÓRGIA foi publicada originalmente na França em 4 edições, cada qual saindo nos anos de 2004, 2006, 2008 e 2010, com sua primeira publicação no Brasil pela Editora Conrad, nos mesmos moldes de minissérie, nos anos de 2005, 2006, 2010 e 2011, encontrando-se esgotada há anos, só retornando em 2023 graças a Editora Pipoca e Nanquim que reuniu toda a série numa bela e caprichada edição encadernada com capa dura compilando BORGIA – INTÉGRALE. A série reúne os principais fatos envolvendo a vida de Rodrigo Bórgia , sua família e seu polêmico papado na Igreja Católica sob o epíteto de Alexandre VI. E essa fantástica obra não poderia ser concebida por outros que não fossem ALEJANDRO JODOROWSKY e MILO MANARA, duas grandes lendas vivas ainda em plena atividade e expoentes dos quadrinhos mundiais. Valendo-se de criteriosa pesquisa histórica (ainda que os registros históricos desse período não sejam tão numerosos nem tão assertivos), Jodorowsky começa a trama em 1492, acompanhando a vida do cardeal Rodrigo Bórgia e os últimos momentos do Papa Inocêncio VIII, com a saúde combalida tentando se valer de tratamentos incomuns para manter sua vida. Após a morte de Inocêncio VIII, o então cardeal Bórgia começa a agir nos bastidores para conseguir ser eleito como a autoridade máxima da Igreja Católica, e assim dar vazão à sua enorme sede de poder.
Após todo tipo de suborno e atrocidade possíveis, consegue ser nomeado Papa Alexandre VI, iniciando assim sua saga para beneficiar seus filhos e manter sua família no poder, lançando mão das mais abjetas condutas e crimes como simonia, envenenamento, fratricídio, corrupção, suborno, mutilação e diversos outros tipos de transgressão. Não obstante a pesquisa histórica realizada, o roteirista ALEJANDRO JODOROWSKY procurou criar um narrativa que traça um incômodo paralelo com os acontecimentos do mundo atual, não sendo difícil percebê-los na medida que a trama evolui (de qualquer forma, há um texto excelente no final da obra que enumera essas correlações). Não é difícil perceber que Bórgia foi a primeira família mafiosa de que se teve notícia no Mundo em função de tudo de que se utilizaram para se manterem no poder a qualquer custo. Ainda que se careçam de registros históricos mais exatos sobre esse que, certamente, é considerado o papado mais polêmico da história da Igreja Católica, JODOROWSKY não deixou de retratar as comprovadas presenças do frei dominicano Girolamo Savonarola, contundente opositor à corrupção da Igreja e, depois, de Alexandre VI, nem do cardeal Giuliano Della Rovere, que mesmo depois de ter participado das manobras que elegeram Rodrigo Bórgia ao maior cargo do Clero, passou a despender todos os esforços no sentido de um novo conclave para escolha de um novo Papa.
JODOROWSKY suprimiu a falta de acurácia de registros históricos com extrapolações verdadeiramente perturbadoras, como as circunstâncias da morte de Savonarola e algumas outras envolvendo a intimidade e os filhos de Alexandre VI (Giovanni, César, Lucrécia e Godofredo). A arte de MILO MANARA está simplesmente mais fantástica do que nunca. O mestre encontra-se no auge de seu talento, e no topo de sua prolífica carreira, em que ficou conhecido como o maior ilustrador de quadrinhos eróticos de todos os tempos, consegue mostrar aqui toda sua versatilidade em retratar cenas e momentos perturbadores e viscerais, sem qualquer tipo de concessão ou subterfúgio nas cenas que envolvam nudez, ou qualquer outra, por mais polêmicas que possa ser, de modo a dar toda verossimilhança que uma obra desse quilate exige. Não é uma história que se possa recomendar a qualquer religioso fervoroso, mas certamente é o tipo de trama que vai marcar os apreciadores de uma história de altíssimo nível – tanto em texto como em arte – e impressionar ainda mais pela sua ousadia e destemor.

Recomendadíssimo.

Avaliação: 4/5

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

Deixe um comentário