TV CLÁSSICOS | O HOMEM QUE VEIO DO CÉU

Por Adilson Carvalho

Histórias de anjos que vê à Terra já apareceram no cinema diversas vezes como o Sr. Jordan de Que Espere o Céu (1941) e O Céu Pode Esperar (1978) ou Clarence no maravilhoso A Felicidade Não Se Compra (1944). Era 1984 e Michael Landon se apropriou da ideia de um anjo caminhando sobre a Terra para emplacar no horário nobre americano sua terceira série de sucesso, depois de Bonanza (1959/1971) e Os Pioneiros (1973/1983). A ideia para O Homem que Veio do Céu (Highway to Heaven) veio quando o ator se viu preso em um engarrafamento como o próprio conta :  “Estava dirigindo por Beverly Hills para buscar meus filhos em uma sexta-feira à noite e as pessoas buzinavam umas para as outras. Não há lugar pior para isso do que Beverly Hills; acho que quando as pessoas têm um pouco mais de dinheiro, elas realmente acreditam que o Mar Vermelho se abrirá para elas e seu carro irá para a frente. E eu pensei: ‘Por que todo mundo está tão irritado? Se eles passassem o mesmo tempo sendo gentis… É óbvio que o fluxo do tráfego será muito melhor se todos tiverem sua oportunidade‘.”

Helen Hunt, Lorne Greene, James Eral Jones, Matthew Perry e Paul Walker

A série estreou em 19 de setembro de 1984 na NBC, chegando ao Brasil pelo SBT em 1985 que exibia a série nas noites de quinta feira. A abertura já entrega a premissa da série: o ex policial Mark Gordon (Victor French) da carona ao desconhecido Jonathan Smith (Landon), que se revela um anjo enviado a Terra por Deus para ajudar as pessoas que precisam. A cada episódio Jonathan e Mark chegam a uma cidade, arranjam empregos comuns para focarem próximos de sua missão. Alcoolismo, violência doméstica, homossexualidade, AIDS, mães solteiras, racismo, intolerância e pobreza, os mais variados assuntos eram abordados, sempre destacando que o espírito humano pode triunfar o desenvolvimento houver o amor, a determinação e a boa vontade. A NBC a princípio não gostou da premissa e tentou forçar Michael Landon a fazer várias mudanças no roteiro, incluindo colocar um ator jovem para o papel de Mark Gordon. Michael bateu o pé e garantiu o controle da série escalando Victor French, seu amigo de longa data com quem fez Os Pioneiros, para o papel de Mark Gordon. O programa trouxe vários atores jovens antes de se tornarem estrelas da TV e do cinema, incluindo: Brian Austin Green, Shannen Doherty (que também trabalhou em Os Pioneiros), Matthew Perry, Helen Hunt, Paul Walker, Wil Wheaton entre outros. Artistas renomados da TV e do cinema também tiveram participação especial em vários episódios como Ned Beatty, James Earl Jones, Leslie Nielsen, Dick Van Dyke e Lorne Greene, que trabalhou com Michael Landon em Bonanza.

O dubladores Elcio Romar (à direita) e Silvio Navas (à esquerda)

A série, embalada pelo belíssimo tema musical de David Rose, se destacou por oferecer oportunidades a vários atores com deficiências físicas, como James Troesh, que interpreta Scotty Wilson em vários episódios e aparece com mais frequência na série do que qualquer outra pessoa além de Mark e Jonathan. Apesar de ter tetraplegia, Scotty se torna um advogado bem-sucedido, casa-se e adota um filho. Tom Sullivan e Robert David Hall, que também aparecem em vários episódios, fizeram campanha pelos direitos das pessoas com deficiência na vida real. Em alguns episódios, Jonathan dá presentes a outras pessoas, como decorar uma casa de repouso com flores ou dar uma bicicleta a alguém. Quando necessário, Deus fornece ao protagonista uma força sobrehumana para se defender de agressões. A personalidade de Jonathan e Mark também é bem dicotômica, com Jonathan sendo ingênuo muitas vezes e Mark sendo cínico a respeito da natureza humana. Ao longo da série é revelado que o nome real de Jonathan é Arthur Thompson, que morreu nos anos 40. No belíssimo episódio Keep Smiling (2ªT/Ep.16) Jonathan encontra sua viúva (Dorothy Maguire) e sua missão e ensiná-la a viver sem ele. Vários episódios eram emotivos e pungentes ao tratar das mazelas humanas, e problemas que tocam cada um de nós independente de nacionalidade ou credo religioso. O próprio Michael Landon, que escreveu e dirigiu a maioria dos episódios, não era um católico praticante ou seguidor de uma religião. O ator era um humanista e acreditava na capacidade humana de superar grandes adversidades através da fé em si próprio e em Deus.

Durante 4 temporadas a série foi um sucesso absoluto com várias indicações ao Emmy. A partir da 5ª temporada (1988/1989) a NBC convencida de que a série estava perdendo seu público decidiu cancelá-la veiculando seus últimos episódios como tapa-buraco na programação do canal, sem dias ou horários fixos, o que desagradou Michael Landon que trabalhara para a NBC desde a época de Bonanza. Em março de 1989, Victor French foi diagnosticado com câncer no pulmão, morrendo três meses depois em 15 de junho de 1989 aos 54 anos. A NBC chegou a cogitar uma spin-off centrada em uma versão jovem de Mark, mas a ideia foi deixada de lado. Dez anos depois a CBS teve sucesso com uma série de mesma temática protagonizada por Roma Downey em O Toque de Um Anjo. Pouco tempo depois do cancelamento de O Homem que Veio do Céu, Michael Landon escrevia o roteiro de uma nova série que planejava fazer na CBS, mas o ator veio a falecer de câncer no pâncreas em 1º de julho de 1991, aos 54 anos. O Homem Que Veio do Céu foi dublada nos estúdios da Herbert Ritchers com Elcio Romar como Jonathan Smith e Silvio Navas como Mark Gordon. A série está disponível na Pluto TV.

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