NA TELA DA NETFLIX | SENNA

Por Adilson Caravalho

Na segunda metade dos anos 80 e início da década de 90 eu era daqueles que não perdia uma corrida do campeonato mundial de Fórmula 1, e se emocionava com o tema da vitória. A vida de Ayrton Senna da Silva (1960/1994) há muito tempo flertava com uma adaptação para o cinema e já teve o nome de Antonio Banderas atrelado ao projeto, que acabou se tornando a minissérie que a Netflix disponibilizou na última sexta (29/11). Mas se você esperar conhecer a fundo a vida e a carreira desse ícone, então melhor saber que o roteiro de Vicente Amorim é uma obra de ficção, com pouco do verdadeiro Ayrton. Apesar do esforço da produção de imprimir realismo usando imagens e gravações da época mescladas à dramatização, e até recriando o cenário do Xou da Xuxa quando Ayrton (Gabriel Leone) e Xuxa (Pamela Tomé) começaram a namorar, a série reimagina vários episódios de sua vida desde criança, do início de carreira até as pistas mundiais. A jornalista britânica Laura Harrison (a brasileira Kaya Scodelario) não existiu de verdade, e representa a ação dos reporteres que influenciavam a opinião pública mundial da época. Trinta anos após sua morte, o piloto brasileiro segue aparecendo em listas de melhores pilotos da história da F1, embora com menos títulos do que pilotos como Michael Schumacher, Lewis Hamilton e o próprio Alain Prost (Matt Mella), seu maior rival nas pistas. Outro ponto ficcional mostrado na série é sua suposta noite de amor com um membro da realeza de Mônaco. A passagem de Adrianne Galisteu (Julia Foti) é insignificante na narrativa da série, embora na vida real esta ocupou um grande espaço em vários momentos, não mostrados por força da família de Senna que não aprovou. A atuação de Gabriel Leone (Eduardo & Mônica) é fundamental para o desenrolar de cada episódio. Ele consegue reproduzir o jeito de andar e falar do ídolo. Vários de seus diálogos com Milton (Marco Ricca), seu pai, são extremamente emocionantes, bem como sua química com a Xuxa (Pamela Tomé), esta de semelhança física impressionante com a Rainha dos Baixinhos. A decisão de fazer uma série de 6 episódios em vez de um longa tradicional permite que o roteiro abrace mais de sua vida, mas também por outro lado favorece a ficcionalização do ídolo em detrimento do homem que levou o nome do seu país a um pódio de orgulho e que dizia a cada vitória “Nós ganhamos“. Fica a impressão de um homem ousado, que se posicionava contra o favoritismo dado a pilotos europeus, e à politicagem nos bastidores da FIA. Fica a humildade de um homem que virou herói, mas nunca deixou de ser o homem de família, o brasileiro orgulhoso e o ser humano que na velocidade se superou acima dos medos e se fez inspiração para os que vieram depois. Nesse sentido, vale muito a pena assistir.

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