PRELO & PELICULA | O CONDE DE MONTE CRISTO

Por Adilson Carvalho

Incontestável dizer que Alexandre Dumas (1802/1870) é um dos maiores dramaturgos/romancistas de todos os tempos. Seu estilo único de entrelaçar fatos históricos e ficção o tornou popular em toda a Europa durante seu período de atividade, ultrapassou gerações e todas as fronteiras para se firmar entre os mais célebres, os mais geniais de todos os tempos. Entre tantas obras fabulosas, destaco a impressionante narrativa de O Conde de Monte Cristo (Le Conte de Monte Cristo), escrito em colaboração com Auguste Maquet e publicado pela primeira vez há 180 anos.

Jim Caviezel, Henry Cavill e Guy Pearce

A história trata de vingança, inveja, e do poder do dinheiro regendo o destino. Fernand Mondego não consegue mais suportar a inveja que possui de Edmond Dantes, por este seguir uma carreira promissora, primeiro como imediato, e depois nomeado capitão do navio Faraó. Além disso, está prestes a se casar com a belíssima Mercedes. Influente, Mondego se alia aos ambiciosos Danglars e DeVillefort para fazer com que o honesto e ingênuo Dantes seja acusado de traição e assassinato, indo parar no Chateau D’If, uma prisão ilhada e isolada do mundo. Dantes, ao longo dos anos que fica preso, vai perdendo a fé em Deus, até que encontra o Abade Farias, um padre que também estava preso e possuía o mapa de um lendário tesouro na ilha de Monte Cristo. Depois da morte no padre em um acidente na prisão, Dante então escapa da prisão. encontra o tesouro e se torna o Conde de Monte Cristo, cheio de ódio e sedento por vingança.

James O’Neill em 1913

A história foi publicada em forma serializada em três partes de 28 de agosto de 1944 a 15 de janeiro de 1846, inspirado na vida do sapateiro François Pierre Picaud que traído por três homens foi acusado de ser um espião inglês. Enriquecido depois de encontrar um tesouro cujo mapa lhe foi entregue por um padre, Picaud o usa como um instrumento de vingança. Dumas fez da história um estudo sobre a ambição ilimitada, sobre o poder do dinheiro acima de tudo e dos limites questionáveis da vingança. Todos são assuntos atemporais e mexem com o instinto humano. O cinema e a TV sempre souberam adaptar a clássica história de Dumas com sucesso garantido. A primeira adaptação para o cinema não foi autorizada pelos herdeiros de Dumas, acontecendo em 1912, filme silencioso dirigido por Colin Campbell e dirigido por Hobart Bosworth. Um ano depois Daniel Frohman e Adolph Zukor adaptaram a peça teatral baseada no livro e entraram com ação judicial para tirar o filme de Campbell de circulação por infringir direitos autorais. Assim, Joseph A. Golden e Edwin S. Porter dirigiram a primeira versão oficial para as telas estrelado por James O’Neill (pai do dramaturgo Eugene O’Neill) , que havia feito o papel nos palcos. O filme está preservado em papel na Biblioteca do Congresso. Encontra-se também nas coleções dos Arquivos Nacionais do Canadá, em Ottawa, da George Eastman House, do BFI National Film and Television Archive. Em 1918, a Pathé Frères francesa produziu um seriado em 15 capítulos ao longo de dois meses adaptando a obra ainda no período silencioso. Foi a hoje desconhecida Reliance Pictures que produziu e lançou em 1934 a primeira versão sonora da história de Dumas. O Conde de Monte Cristo foi dirigido por Rowland V. Lee e estrelado pelo excelente ator britânico Robert Donat (1905-1958), que sofria de asma crónica, o que afetou a sua carreira e o limitou a participar em apenas 19 filmes, sendo O Conde de Monte Cristo seu único filme feito em Hollywood.

Robert Donat e Elissa Landi

As diversas mudanças em relação ao texto original começaram desde então. O filme de 1934 altera alguns pormenores importantes da história. Personagens proeminentes do romance como Bertuccio, Caderousse, Franz D’Épinay, Andrea Cavalcanti, Louise d’Armilly, Eugénie Danglars, Maximilian Morrel, Edouard de Villefort e Heloise de Villefort são omitidos. O papel de Haydee é reduzido a duas breves aparições, e o seu envolvimento romântico com Monte Cristo não é referido. No romance, Dantes e Mercedes não reatam a sua relação. Danglars e Fernand traíram Dantes anonimamente através de uma carta e não pessoalmente, e Dantes só descobriu a sua traição quando estava na prisão. Mercedes era filha de um pescador e não de uma família rica, como sugerido no filme, e não há qualquer indicação de que a sua mãe se opusesse ao casamento de Dantes. Monte Cristo e Fernand não se envolveram numa luta de espadas. Monte Cristo não foi levado a julgamento, como acontece no final do filme. Quem enlouqueceu foi Villefort e não Danglars. Em 1934 a Universal lançou A Condessa de Monte Cristo, sem nenhuma relação com a obra de Dumas, e estrelada por Fay Wray (King Kong). A United Artists, de posse dos direitos, produziu as sequências O Filho de Monte Cristo (1940) com Louis Hayward fazendo Edmond Dante Jr e A Volta de Monte Cristo (1946) com Hayward no papel de um parente do Conde de Monte Cristo original envaido para a prisão sob falsas acusações enquanto vigaristas o substituem pela impostora Barbara Britton (Angela) como a verdadeira herdeira legal da fortuna.

Richard Chamberlain

Em 1974, comemorando os 130 anos de publicação da obra a TV inglesa refilmou O Conde de Monte Cristo com Richard Chamberlain no papel título, Tony Curtis como Mondego, Kate Nelligan como Mercedes, Donald Pleasance como Danglars e Louis Jourdan como DeVillefort. Este curiosamente interpretara o próprio Edmond Dante em A Vingança de Monte Cristo (1961). O filme de Chamberlain chegou a ser exibido nos cinemas rebatizado de Monte Cristo 1975. Todas as versões são bem sucedidas em destacar o tema da riqueza como única garantia da honra e da liberdade, mas nenhuma explora toda a complexidade e reviravoltas da trama, nem mesmo a excelente adaptação de 2002 dirigida por Kevin Reynolds. No elenco Jim Caviezel, Guy Pearce, Richard Harris, Dagmara Dominczik, James Frain, Henry Calvin e Luis Gusman. O eletrizante duelo final entre Dante e Mondego nunca foi escrito por Dumas. No livro Mondego se mata quando descobre que Dante está vivo. Originalmente também Albert é filho de Mondego e Mercedes, que não termina a história com Dante. Os vários disfarces que este usa ao longo da história para interferir no destino das pessoas que encontra também não foi explorado nesta adaptação. Ainda houve a minisérie da TV francesa O Conde de Monte Cristo (1998), em 4 capítulos, estrelada por Gerard Depardieu. A influência da obra de Dumas é ilimitada e já inspirou obras diversas como a série Revenge (2011) estrelada por Emily VanCamp e a novela Começar de Novo (2005) da Rede Globo. Este ano ainda teremos uma nova versão francesa dos mesmos realizadores que Os Três Mosqueteiros : D’Artagnan e Os Três Mosqueteiros : Milady, perpetuando para novas gerações a força da narrativa de Dumas e de uma história atemporal e por que não dizer imortal !

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