Por Adilson Carvalho

Aos 12 anos Fabrício fez parte do elenco da novela Mulheres de Areia (1993), e cinco anos depois já trabalhava no cinema em Super Xuxa Contra o Alto Astral (1998). Hoje é diretor tendo sido responsável por trabalhos como Bugados (2016) e Como Hackear seu Chefe (2021). Seu mais novo sucesso é o belíssimo filme Inexplicável (2024) estrelado por Letícia Spiller e Eriberto Leão que estreou nesta última quinta (5/12). Tive o prazer de conversar com Fabrício Bittar nesta excelente entrevista.
Adilson : O filme é uma mensagem de superação muito bonita. Ele também representa uma tendência de desenvolver um cinema de conteúdo maior que o mero entretenimento ? Fabrício: Então, eu acho que, na verdade, falta a gente fazer mais. A gente precisa dar mais oportunidade para que cineastas façam seus filmes. Eu acho que o Brasil tem muito a dizer. Eu acho que os profissionais brasileiros, os artistas brasileiros são muito talentosos. Eu acho que a gente precisa mesmo dar mais oportunidade para que a gente faça mais filmes, que a gente corra mais riscos, consiga fazer filmes diferentes, filmes que ninguém pensou. Eu acho que é preciso dar liberdade para que o artista crie os seus filmes e, com isso, a gente chegue lá. Eu acho que a gente está muito próximo com o sucesso de Ainda Estou Aqui. Fico muito feliz com isso. Acho que é um filme que pode abrir muitas portas. E a gente também está aqui, num caminho de tentar levar o nosso filme para o mercado internacional. Ele vai ser distribuído internacionalmente pela Angel Studios, que é uma grande produtora e distribuidora americana. Então, eu acho que a gente tem tudo para realmente levar o nosso cinema cada vez mais para outros lugares do mundo.
Adilson: A conexão entre espiritualidade e a medicina é algo que você também acredita ? Fabrício : Então, eu acho que muitas vezes a gente confunde acreditar com ter respostas. Então, o filme se chama Inexplicável porque eu tenho consciência de que a gente não vai ter respostas para muitas coisas da vida e eu acho que é isso que faz com que a gente precise acreditar em coisas que estão dentro da gente, refletir sobre o que de uma certa maneira a gente faz sentido pra gente, né? Eu acho que a ciência, a medicina, a gente vem evoluindo cada vez mais, é fundamental que a gente entenda a importância da medicina, a gente tá vivendo mais, acho que a gente tem avanços, acho que os nossos profissionais da saúde são empenhados e competentes para que a gente tenha cada vez uma vida melhor, mas eu acho que muitas vezes a ciência, a medicina não dá conta de todos os questionamentos que nós temos e aí a espiritualidade e a fé nos dá as respostas que procuramos.
Adilson: Com tantos filmes blockbusters nas salas de cinema, como o público reage a um filme com mensagem? Fabrício: Então, na verdade, eu acho que todo filme tem a sua mensagem. Eu acho que mesmo os filmes que parecem só entretenimento acabam ajudando as pessoas. Eu acredito muito no poder do cinema como não só entretenimento, mas para reflexão, e até mesmo quando você vai ao cinema só para se divertir, eu acho que você tem esse fim terapêutico importante pra gente, acho que a gente se reconhece também nesses filmes. Mas, sem dúvidas, eu acho que o Inexplicável é muito pela história real, traz reflexões potentes, porque eu acho que quando a gente se depara com a dor do outro, quando a gente se depara com experiência que outros vivenciaram, a gente consegue refletir muito mais sobre a nossa própria vida.
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Adilson: Filmes de temática espírita se tornaram um nicho bem explorado ultimamente, disputando espaço com as comédias e as cinebiografias. Que outros gêneros o cinema nacional deveria experimentar como forma de diversificar ainda mais nossa riqueza cultural ? Fabrício : Eu adoro o cinema de gênero, né? Eu cresci na década de 80, a gente teve um boom do cinema de gênero, né? Ação, terror, suspense, porque um filme de gênero é um filme que tem esse apelo, que pode, de uma certa maneira, juntar todo mundo, né? Quem gosta daquele gênero, então assim, eu acho que ele tem fãs, e acho que isso é muito importante. Filmes de ação, filmes para a família, filmes de terror. O Brasil consome muito filme de terror e a gente até agora não teve um grande sucesso de filme de terror aqui. Então acho que o público gosta de filmes de gênero e acho que deveríamos de explorar mais isso.
Adilson : A sociedade pós pandemia mergulhou em um período de descrença e medo. Que outras histórias inspiradoras assim como a de Inexplicável mereciam ser contadas em um novo filme como forma de reacender a esperança ? Fabrício : Olha, eu acho que eu encontrei a história do Gabriel, que é a história que a gente conta no Inexplicável, pesquisando histórias de pessoas comuns. E achei as notícias na internet, depois o livro de Felipe Caldas. Eu acho que tem muitas, muitas, muitas histórias e a gente precisa olhar para essas histórias que estão do nosso lado. Às vezes a gente fica olhando muito para as histórias famosas, mas eu sinto que olhar também para as histórias que estão próximas, histórias de pessoas comuns, que passam por situações que são até cinematográficas e que estão bem mais perto e não percebemos.
Adilson: Qual será seu próximo projeto depois de Inexplicável ? Fabrício : Então, meu próximo filme também é uma história real, é a história do Daniel Nascimento, que com 16 anos foi considerado um dos maiores hackers do Brasil. É uma história muito interessante, acho que fala também sobre várias questões da sociedade, fala de como muitas vezes a gente não olha pra para um adolescente e vê o potencial dele, mas que o crime pode olhar. Lançaremos esse filme provavelmente no segundo semestre do ano que vem com João Guilherme e Marcelo Serrado no elenco.
Muito obrigado pela gentileza, pelo espaço e oportunidade de poder fazer essa breve entrevista com vocês.