Jack Grandão (1971): John Wayne em Western de Contagiante Aventura aos Moldes do Mestre Ford.
John Wayne e Maureen O’ Hara em JAKE GRANDÃO (1970) de George Sherman
Considerado o mais animado e genuíno Western dentre os quais estrelou, John Wayne (1907-1979), após sua conquista com o Oscar de melhor ator
no ano anterior por Bravura Indômita, optou
por fazer uma espécie de homenagem ao bom e velho estilo de seu compadre e
amigo, o Mestre John Ford (1895-1973), ao estrelar JAKE GRANDÃO (Big Jake), em
1971. Muito mais superior do que Jamais
Foram Vencidos (1969), Chisum
(1970) e Rio Lobo (1971), a aventura
da vez ancorada pelo Duke é traçada
em linha reta e cheia de ação, contagiada por bom humor e às vezes por lirismo rústico,
bem aos moldes dos grandes trabalhos do diretor Ford. E o melhor de tudo isso,
é que Jake Grandão tem, de fato, o
clima festivo que tão bem caracterizou o trabalho deste cineasta, como se fosse
uma “reunião de família”, tirando férias em passagem pelo México (onde o filme foi inteiramente
rodado).
John Wayne como Jacob “Big Jake” McCandles
Big Jake volta por uns instantes ao lar, para rever sua esposa Martha (Maureen O’ Hara), que requer sua ajuda.
E
também não é para menos: O produtor-executivo Michael Wayne (1934-2003) – filho
mais velho de John que comandava a Batjac,
a velha empresa de seu pai –Patrick Wayne, e até mesmo John Ethan Wayne, filho
caçula de Duke, então com oito anos,
estiveram envolvidos na produção de Jack
Grandão. E é importante dizer que velhos companheiros de John Wayne na Ford’s Stock Company, como sua amiga
Maureen O’ Hara (1920-2015), com quem o ator fez os clássicosRio Bravo (1950), Depois do Vendaval (1952), Asas
de Águia (1955), e Quando um Homem é
Homem (1963) – e também Harry Carey Jr (1921-2012), Hank Worden
(1901-1992), John Agar (1921-2002), o fotógrafo William Clothier (1903-1996) e
o diretor de segunda unidade Cliff Lyons (1901-1974) – todos antigos
colaboradores do Mestre em muitos de seus grandes e inesquecíveis clássicos,
fizeram parte desta empreitada. Logo, podemos dizer que Big Jake, assim como outros westerns estrelados por Wayne, como Caminhos Ásperos(1953), Fúria no Alaska (1960), e Os Comancheros (1961), é um dos mais
“fordianos” faroestes que o cineasta John Ford não dirigiu.
Maureen O’ Hara é Martha McCandles, disposta a pagar o resgate pelo neto raptado, mas para isso, ela pede ajuda à um “desagradável homem”…
…o marido, Jacob McClandles, conhecido como Big Jake (John Wayne).
Aos 65 anos de idade, o bom e velho Duke retoma a pista legendária dos justiceiros do Oeste que tão bem
o consagrou. Wayne, no papel do aventureiro Jacob “Big Jake” McCandles, em realidade um rico barão do
gado, afastado de sua casa no Texas, da mulher Martha (Maureen O’ Hara), e dos
filhos James (Patrick Wayne), Jeff (Bobby Vinton),
e Michael (Christopher Mitchum, filho do lendário ator Robert Mitchum, com quem
Wayne contracenou em El-Dorado, em
1967. O papel havia sido oferecido à Jeff Bridges, que se recusou a trabalhar com Wayne), é chamado pela esposa, que a contragosto, por achar o marido uma pessoa
“desagradável demais”, vai precisar de sua ajuda. O neto que Jake ainda não
conhece, chamado de “Pequeno Jake”, foi raptado pelo bando de John Fain
(Richard Boone, 1917-1981), um renegado que agora provoca pânico nos arredores
do Rio Grande com sua quadrilha de facínoras. Boone, formidável vilão no
cinema e herói como o Paladino do Oeste
na TV, foi um amigo querido de John Wayne na vida real, com quem havia
trabalhado em O Alamo(1960), e
ainda contracenaria em 1976 no derradeiro O Último
Pistoleiro, de Don Siegel, o último filme de Wayne.
Jacob e seu filho James McCandles, vivido por Patrick Wayne, filho de John Wayne.
Jacob e seu filho Michael McCandles, interpretado por Christopher Mitchum.
Jacob e seus dois filhos na caçada aos raptores do menino
Um dos monólogos do personagem de Boone, direcionado ao capataz
Bert Ryan (vivido por John Agar), é uma das mais sugestivas em um filme, ao sacar o revólver e mata o capataz, pronto para assaltar a casa dos McCandles: “O Pior que quando se tem muito dinheiro,
tem sempre alguém querendo tirar da gente”. Curiosamente, John Agar e Richard Boone já haviam se defrontado em um faroeste – Crimes Vingados, de Charles F. Haas em
1956 .
Richard Boone é John Fain, renegado e líder de quadrilha, que raptou o neto de Big Jake.
Fain e sua quadrilha, que espalha pânico pelas fronteiras do Texas e México.
John Wayne & Richard Boone: inimigos em Big Jake, amigos na vida real.
A
aventura já começa com um verdadeiro massacre, com Fain e seus homens matando a
maioria dos rancheiros e ainda exigindo um milhão de dólares pelo resgate do
menino. De prontidão, Jake cede aos apelos da esposa Martha, que não a via há
anos. De primeira impressão, a narrativa sugestiona com que Jake Grandão seja até uma sequencia de Quando um Homem é um Homem, último
faroeste que havia reunido Wayne e Maureen oito anos antes.
Os McCandles em missão de resgate.
O “Pequeno Jake”, neto de Jacob, vivido por Ethan Wayne, filho caçula do Duke.
John Doucette é Buck Dugan, chefe dos Texas Rangers, que também tenta salvar o menino, contudo sem sucesso.
A caçada a Fain e seus asseclas para resgatar o menino se
processa sem a força trágica de Rastros
de Ódio, clássico de John Ford estrelado por Wayne em 1956 – mas com vigor
e rispidez que normalmente não seria esperado do diretor George Sherman. A
trama se passa em 1909, portanto se torna distanciado da mitologia do Velho
Oeste, onde Big Jake estabelece
curioso paralelismo entre a vida selvagem dos últimos pistoleiros e o mundo
exterior em completo desenvolvimento, com automóveis competindo até mesmo com
os cavalos. Mesmo com estas diferenças, o cavalo de John Wayne é ainda muito
mais eficiente do que os calhambeques e as motocicletas que começam a invadir a
fronteira. Uma parábola da fábula “a tartaruga e a lebre” se faz pertinente
nesta aventura, pois o bom e velho Duke,
com sua montaria, chega mesmo na frente de tudo e todos para decidir todas as
paradas, mesmo a base de socos, do palavrão, e do “tudo ou nada!”. Monólogos, nem pensar! É o que
ordena o figurino do faroeste verdadeiro e do melhor da Sétima Arte no quesito
das aventuras. Juntamente com dois de seus filhos, James e Michael, Jacob
“Big Jake” parte para alcançar a quadrilha de Fain, e ainda tem o auxílio do
amigo apache Sam Sharpnose (Bruce Cabot, 1904-1972, em seu último desempenho
para o cinema). Jake passa a frente dos Texas Rangers, liderados por Buck Dugan
(John Doucette, 1921-1994), que também buscam a quadrilha, levando uma mala
cheia de dinheiro para o resgate. A partir daí, uma maratona movimentada de
ação se processa em todo percurso da fita, até o menino ser resgatado pelo avô
e os tios, liquidando Fain e toda a quadrilha.
Bruce Cabot, em sua última atuação para o cinema, no papel de Sam Shapnose, ex-batedor e amigo de Jacob.
Muita ação em JAKE GRANDÃO.
Enfim, o encontro entre avô e neto, em momento de perigo.
O “Pequeno Jake” é salvo pelo avô, o “Grande Jake”.
Para
os amantes dos faroestes, Jake Grandão tem
certamente um significado muito especial, principalmente para os amantes do
cineasta John Ford. Na época da realização de Big Jake, o lendário diretor já estava aposentado (seu último filme, 7 Mulheres, foi realizado em 1966),
doente e quase cego, entretanto, sua aposentadoria afastou o homem de seus
trabalhos, mas não afastou e nem impediu a transferência de seu espírito
inconfundível a sobrevivência de seu universo cinematográfico. Ele continuou
dando vida aos filmes de Wayne e aos dirigidos pelo seu afilhado, o diretor
Andrew V. McLaglen (1920-2014), discípulo do Mestre. Para aqueles que se privam da
intimidade do universo fordiano, Big Jake
já começa antes mesmo do filme começar, pois em realidade, é apenas mais uma
peça monumental, cuja saga começou em 1939 e tem o título de Stagecoach, por nós aqui intitulado de No Tempo das Diligências.
O Diretor George Sherman
A Família McCandles
Patrick Wayne e Maureen O’ Hara, brincando com o filho de Patrick em um intervalo das filmagens.
John
Wayne convocou um bom especialista em westerns, o veterano e experiente George
Sherman (1908-1991) para cuidar de todos os detalhes técnicos da direção.
Artesão impessoal, mas correto e conhecedor da linguagem do gênero, Sherman deu
conta da missão, adornando a narrativa com firmeza no que se trata com a
violência, deixando Wayne livre para cuidar do que diz respeito a John Ford. Jake Grandão foi o último filme dirigido
por Sherman para o cinema (chegou a dirigir alguns trabalhos para TV até 1978),
que na época das filmagens não encontrava-se bem de saúde. Filmar no México foi
difícil para o cineasta e ele teve que se afastar em alguns momentos de suas
funções, e John Wayne assumiu a direção. Quando o filme foi concluído, Wayne,
que era amigo de longa data de Sherman, não quis ser creditado como diretor,
passando total crédito para Sherman. JAKE GRANDÃO foi a 26ª maior bilheteria
nos Estados Unidos em 1971, colocando John Wayne ao topo dos astros campeões de
renda no mesmo ano. O filme foi lançado nos cinemas do Rio de Janeiro em maio
de 1972. A trilha sonora é de Elmer Bernstein (1922-2004).
Em cartaz nos cinemas do Rio de Janeiro em 1971
John Wayne & Maureen O’ Hara, pela última vez parceiros nas telas.
Por breves momentos, o Duke aposentou o cavalo e aderiu à uma motocicleta, em uma folga das filmagens de JAKE GRANDÃO.
Divulgação do filme nos cinemas cariocas, em maio de 1972.
FICHA
TECNICA
POSTER ORIGINAL
JAKE GRANDÃO
(Big Jake)
País – Estados Unidos
Ano: 1971
Gênero: Western
Direção: George
Sherman, e John Wayne (não creditado)
Produção: Michael
Wayne, para Batjac Produções e Cinema Center Films (John Wayne como Produtor
Executivo)
Roteiro: Harry Julian
Fink e Rita M. Fink
Fotografia: William
Clothier, em cores
Música: Elmer
Bernstein
Metragem: 110 minutos
DIVULGAÇÃO
ELENCO
John Wayne – Jacob
“Big Jake” McCandles
Richard Boone – John
Fain
Maureen O’ Hara –
Martha McCandles
Patrick Wayne – James
McCandles
Christopher Mitchum –
Michael McCandles
Bobby Vinton – Jeff
McCandles
Bruce Cabot – Sam
Sharpnose
Ethan Wayne – Pequeno
Jake
Glenn Corbert –
O’Brien
John Doucette – Buck
Dugan
Harry Carey Jr – Pop
Dawson
Jim Davis – Líder de
Linchamento
John Agar – Bert Ryan
Gregg Palmer – John
Goodfellow
Dean Smith – Kid
Duffy
Hank Worden – Hank
Roy Jenson – Homem de
Fain
Matéria publicada originalmente no extinto espaço “Filmes Antigos Club” em 2017.