por Adilson Carvalho
Foi o filme pelo qual a Academia devia o Oscar a Steven Spielberg, a história de Celie, uma jovem de 14 anos, que é estuprada pelo pai e atravessa uma vida de sofrimento sem fim, casada anos depois com um outro homem que estava interessado em sua irmã Nettie. Tratada como empregada e humilhada de todas as formas, sendo expulsa de casa, e depois convivendo com a amante de seu marido, com quem acaba desenvolvendo uma grande amizade. Uma história pungente, saída da mente da escritora afro-americana Alice Walker (atualmente com 79 anos) e que lhe rendeu o National Book Award e o Prémio Pulitzer de Ficção.

O romance epistolar de Walker é contado através de cartas pessoais de Celie, escritas tal qual sua personagem fala, ou seja refletindo a oralidade e a classe social de Celie. São várias as gírias e expressões típicas do local e tempo (A Georgia dos anos 20) vividos representados na narrativa de Walker. Publicado em 1982, o livro foi adaptado em 1985 com co- produção do Maestro Quincy Jones que ofereceu o filme para Spielberg. Este a princípio recusou por não se achar à altura da obra, sendo um homem branco retratando uma historia que fala da população negra do Sul do pais. Quincy teria persuadido Spielberg dizendo “Não precisa ser um alienígena para se fazer um filme como E.T‘.

O filme veio a ser o primeiro trabalho “sério” do diretor e também o primeiro filme das atrizes Oprah Winfrey e Whoopi Goldberg, que tiveram atrito durante as filmagens. Na adaptação, a amizade entre Celia (Whoopi Goldberg) e Shrug (Margareth Avery) ficou restrita a uma forte amizade, mas no livro as personagens desenvolvem uma relação homossexual que Spielberg não se sentiu à vontade para tratar na época. O filme, contudo, triunfa por tratar não apenas de racismo, mas também por tratar de abuso sexual, preconceito social e ferrenho critica à sociedade patriarcal. Dos 11 Oscars, não ganhou nenhum, mas conquistou o Globo de Ouro para Whoopi. Uma obra forte, que cria discussões e impacta pela força e ousadia de sua autora e pela sensibilidade mostrada por Spielberg.