40 ANOS DO PRIMEIRO ROCK IN RIO

Por Adilson Carvalho

Se a vida começasse agora / E o mundo fosse nosso outra vez / Se a gente não parasse mais de cantar / De sonhar / Se a vida começasse agora / E o mundo fosse nosso de vez / Se a gente não parasse mais de se amar / De se dar, de viver / Woo, woo, woo / Rock in Rioooo … ” Com essa canção, há exatos 40 anos toda uma geração se viu representada no palco de um dos eventos musicais mais importantes da história. E mesmo que já tenham tido 22 edições, nove no Brasil, nove em Portugal, três na Espanha e uma nos Estados Unidos, aquela primeira, que durou de 11 a 20 de janeiro de 1985 deixou momentos memoráveis na lembrança de quem viveu. A Cidade do Rock, como ficou conhecida, ocupou um terreno de 250 mil metros quadrados na Barra da Tijuca, e contava com o maior palco do mundo já construído até então: com 5 mil metros quadrados de área. Até então nenhum evento similar havia acontecido em toda a América do Sul, e até então os grandes nomes do Rock internacional raramente miravam aqui com shows de grande porte. O empresário Roberto Medina conseguiu atrair um público de mais de 150 mil pessoas e trazer um elenco estelar como já se vê na programação oficial do primeiro dia: Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Iron Maiden, Whitesnake e Queen. A banda de Freddy Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon gravou na eternidade sua apresentação como no momento em que Freddy regeu a platéia ao som de “Love Of My Life“. Entre os astros que ocuparam aqueles 10 dias de magia também estavam Ivan Lins, Barão Vermelho (Com Cazuza), Blitz, Alceu Valença, Paralamas do Sucesso, Lulu Santos, Elba Ramalho, Nina Hagen, Ozzy Osbourne, Rod Stewart, James Stewart, Gilberto Gil, Al Jarreau, George Benson, Scorpions, AC/DC, Kid Abelha, Rita Lee, Eduardo Dusek, Moraes Moreira, B-52’s, The Go Go’s e Yes. A ideia do festival era trazer ao público todas as correntes musicais do Brasil e do exterior em um momento privilegiado pela abertura política, o fim da ditadura militar e os anseios jovens que agora podiam ser ouvidos. Medina já tinha alguma experiência com atrações internacionais, quando trouxe Frank Sinatra para um show no Maracanã no início dos anos 80, e foi por ajuda de Frank Sinatra que Medina conseguiu os contatos necessários para convidar todos os artistas e negociar seus cachês. A mistura de gêneros chegou a gerar polêmica na ocasião como o show do eterno tremendão Erasmo Carlos no mesmo dia que os acordes pesados do Heavy Metal de Whitesnake e Iron Maiden; Eduardo Dussek comparou os metaleiros a malufistas (partidários do ex ministro Paulo Maluf); Paula Toller e os integrantes do Kid Abelha foram vaiados na terça dia 15 de janeiro pelo público impaciente que queria assistir AC/DC e Scorpions. Apesar dos tropeços, o evento foi vital para a criação de um mercado musical no país. “Não existia cultura anterior de evento de música. Não tinha nada. Foi uma intuição, uma visão de um projeto… acho que o Rock in Rio me buscou, não fui eu que o busquei. Cheguei na agência, ninguém acreditava em mim. Um projeto de US$ 50 milhões. O Brasil não tinha luz, não tinha som… o maior show aqui tinha sido de 40 mil pessoas“, disse Medina em uma entrevista para a Rolling Stone. De fato, se pudéssemos voltar no tempo e recriar aqueles 10 dias mágicos poderíamos, quem sabe, nos recriar em uma só voz e despertar o fogo de uma geração que ousou acreditar que o mundo pode ser nosso. Senhor Medina, daria para fazer um filme !!

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