Por Adilson Carvalho

Sherlock Holmes é um dos personagens mais adaptados da literatura mas nunca havia sido imaginado até 1985 como teria sido a juventude do brilhante detetive, criado por Sir Arthur Conan Doyle. Chris Columbus escreveu o roteiro que, respeitosamente, nos apresentava a uma versão adolescente de Holmes e Watson, como se fosse uma engenhosa prequela, que somente mais de dez anos depois se tornaria uma ferramenta narrativa popular no cinema. Uma série de mortes acontece no campus de uma renomada escola da Inglaterra Vitoriana nos primeiros dias de um John Watson (Alan Cox) de 15 anos em Londres. Seu colega de quarto vem a ser o nada sociável Sherlock Holmes (Nicholas Rowe), cujas capacidades dedutivas notáveis suspeita de conexão entre uma série de mortes aparentes por suicídio. O roteiro de Columbus, produzido por Steven Spielberg e dirigido por Barry Levinson, é brilhante por somatizar todas as características que tornam as histórias de Sherlock tão fascinantes depois de praticamente um século desde a publicação de Um Estudo em Vermelho (1887), primeiro romance do detetive que já nos apresentava os personagens adultos.

O roteiro explora brilhantemente todos os elementos das histórias clássicas como o porquê da frieza tão acentuada de Sherlock, a origem de sua amizade com Watson, e um elemento que nunca esteve presente nos livros de Conan Doyle, um romance com a jovem Elizabeth (Sophia Ward) enquanto as investigações os leva a um labirinto de pistas que os conduz a um culto egípicio milenar, o Rame Tap, responsáveis por sacrifícios humanos que ocorrem debaixo do nariz do detetive de polícia Lestrade (Roger Ashton-Griffiths). O filme foi um triunfo tanto narrativo quanto técnico, tendo sido a primeira vez que um filme mostrava uma sequência inteira feita em CGI, quando um padre testemunha um cavaleiro medieval salta do vitral para matá-lo. A sequência causou surpresa, tendo sido desenvolvido depois de quatro meses pelo talentoso John Lasseter que anos depois viria a se tornar um dos homens fortes da Pixar, e responsavel por Toy Story.

Quase duas décadas depois, Chris Columbus se tornaria o diretor dos dois primeiros filmes da saga Harry Potter, onde também temos um trio de jovens (Harry-Hermione-Ron) em uma instituição tradicional, enfrentando um grande mal. A direção de Levinson é leve e conduz a trama com um equilíbrio perfeito entre ação, humor e romance. No excelente trabalho de dublagem, feita nos estúdios Telecine, o trio Holmes-Elizabeth-Watson recebeu as vozes belíssimas de Mario Jorge Andrade-Mônica Rossi-Oberdan Junior. O filme deve ser assistido até o final pois tem uma cena pós crédito que diz muito sobre os livros de Sherlock, e ainda anuncia uma continuação, que infelizmente nunca foi feita.
Mesmo a abertura do filme com sombras caminhando nas ruas vitorianas é uma homenagem aos filmes de Sherlock Holkmes estrelados por Basil Rathbone ao longo da década de 40. O desenrolar da trama (que não ousarei estragar aqui apesar de ser um filme já reprisado bastante na TV) revelará vários traços das histórias do personagem, e incluindo a gênese de seu arquiinimigo o Professor Moriarty. Embora tenha sido lançado originalmente em dezembro de 1985, no Brasil, o filme chegou em Maio de 1986,. Foi o primeiro filme de cinema produzido pelo ator Henry Winkler (o Fonzie da clássica série de tv Happy Days e também co-produtor da igualmente clássica MacGyver), o filme foi premiado com o Saturn Awards e indicado ao Oscar de melhor efeitos. O orçamento de $18.000.000 não se tornou nenhum fenômeno de bilheteria e chegou a ser criticado por muitos como uma versão menor de Indiana Jones e o Templo da Perdição, já que Holmes enfrenta uma seita profana bem similar. Assista O Enigma da Pirâmide na TV Channel Network.