Por Leandro “Leo” Banner


Utilizando-se de conceitos e personagens dos grandes clássicos da literatura europeia, ALAN MOORE criou com o saudoso artista KEVIN O’NEIL, aquela que seria uma das melhores HQs de todos os tempos: a LIGA EXTRAORDINÁRIA. Originalmente publicada pela Editora AMERICA’S BEST COMICS no formato de minissérie em seis edições, nos anos de 1999 e 2000, sob o título THE LEAGUE OF EXTRAORDINARY GENTLEMEN, a história, que se passa em 1898, se inicia com o agente secreto CAMPION BOND mobilizando WILHELMINA MURRAY (criada no romance “DRÁCULA” de Bram Stoker) a arregimentar e liderar uma equipe de cavalheiros extraordinários para combater uma grande ameaça que paira sob a Inglaterra. Dessa forma, auxiliada pelo CAPITÃO NEMO (criado no romance francês “20.000 LÉGUAS SUBMARINAS”, de Jules Verne), Mina encontra o lendário e já idoso caçador ALLAN QUARTERMAIN (criado no livro “AS MINAS DO REI SALOMÃO”, de Henry Rider Haggard) que, sem perspectivas de viver alguma outra grande aventura no ocaso de sua vida, se entregara ao vício em ópio. Em seguida, com o auxílio do detetive AUGUSTE DUPIN (criado no livro “OS ASSASSINATOS DA RUA MORGUE”, de Edgar Allan Poe) tentam deter a chacina de prostitutas ocasionada por EDWARD HYDE, alterego do doutor HENRY JEKYLL (criado no livro “O MÉDICO E O MONSTRO”, de Robert Louis Stevenson), para, em seguida, cooptarem o último integrante do grupo, HAWLEY GRIFFIN (criado no romance “O HOMEM INVISÍVEL”, de H. G. Wells), sem prejuízo de menções a SHERLOCK HOLMES (criado por Arthur Conan Doyle), cujas histórias integram a continuidade da aventura.

Uma vez estabelecida a união de tão singelo e incomum grupo, CAMPION BOND, sob ordens do GRANDE M, determina que a missão da “Liga” é resgatar um elemento chamado CAVORITA, material capaz de anular os efeitos da gravidade, que se encontra nas mãos de um terrorista chamado “DOUTOR”, que possui um grande império no distrito de Limehouse em Londres. O grupo, então, parte para cumprir a missão sem saber que há outra agenda e interesses obscuros por trás dela. O desfecho da série é simplesmente cinematográfico, com um último ato digno das melhores produções hollywoodianas, tudo isso devido não apenas ao excelente roteiro de ALAN MOORE, mas também graças à fantástica arte do prematuramente falecido KEVIN O’NEIL, cujo traço estilizado é capaz de criar painéis exuberantes com uma assombrosa riqueza de detalhes, e compor sequências de ação verdadeiramente vertiginosas e de tirar o fôlego. Uma obra fantástica que vale muito a pena ser lida, relida e apreciada, constituindo-se certamente num dos TOP 5 melhores trabalhos do genial ALAN MOORE, que nos presenteia com um roteiro redondo, detalhado sem ser enfadonho, descortinando detalhes na hora certa, fluido e cheio de inúmeras sutis referências a outros grandes clássicos , além de ser muito bem estruturado, deixando pistas ao longo da trama acerca de uma mais que provável continuação.

Aqui no Brasil a LIGA EXTRAORDINÁRIA já foi publicada pelas editoras PANDORA BOOKS (2001, 2003), PANINI COMICS BRASIL (2010) e DEVIR (2003, 2004 e 2019, numa bela e caprichada coletânea dos dois primeiros volumes sobre a qual falaremos oportunamente). Entrementes, sugerimos àqueles que nos brindam com sua inestimável atenção, que esqueçam o tenebroso filme homônimo de 2003, estrelado por Sean Connery e dirigido por Stephen Norrington, que pretendia adaptar esse fantástico material. O resultado da adaptação foi pífio, descaracterizando totalmente a trama da obra de MOORE e O’NEIL, muito provavelmente por culpa de Sean Connery que, por ser um dos produtores do filme, desejava mais destaque e protagonismo para seu personagem, Allan Quartermain, o que ocasionou mais de vinte (!!!) tratamentos no roteiro até que chegasse ao ponto desejado por Connery. O resultado foi aquele filme horroroso e totalmente esquecível que conspurcou totalmente a trama da HQ.
Por fim, A LIGA EXTRAORDINÁRIA – VOL. 1, vale repetir, é uma das melhores e mais criativas HQs de todos os tempos, possuindo um perfeito entrelaçamento entre roteiro, arte e cores, ainda que o traço estilizado de O’Neil possa desagradar àqueles que prefiram um visual que remeta a uma arte mais convencional. Não obstante, é uma tremenda obra que vale muito a leitura.
Recomendadíssimo.
Avaliação: 4,5/5
Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻