MEMÓRIAS DE UM CINÉFILO | OS FILMES FEITOS DIRETO PARA TV

Por Adilson Carvalho

Em uma época muito anterior ao streaming, muito antes até mesmo do home vídeo, era a televisão quem levava os filmes para o grande público, depois de sua exibição nos cinemas. Durante as décadas de 70 e 80 a janela de exibição dos filmes era muito grande, ou seja, demorava muito para que um filme fizesse o caminho do cinema para a TV. Tubarão, por exemplo, de 1975 foi exibido pela Globo pela primeira vez em 1984, A Noviça Rebelde, de 1965, foi exibido pela primeira vez na Rede Manchete 18 anos depois, e o épico E O Vento Levou, de 1939, foi estreia na Globo 45 anos depois. Naquela época, as emissoras precisavam adquirir um pacote de produções televisivas, a maioria das quais grandes sucessos na ABC, NBC e CBS. Algumas dessas produções foram bastante marcantes para quem viveu a época.

Haviam filmes que eram impulsionados por grandes estrelas da TV, que em intervalos de filmagem de suas séries como Lynda Carter, de Mulher Maravilha (1975) que fez o interessante: A Última Canção (1980) em que faz uma cantora cujo marido é assassinado, e por conta disso resolve investigar e descobre uma conspiração envolvendo a indústria química. Lynda, que também é cantora, emplaca uma de suas próprias canções no filme. Depois do cancelamento da série ainda fez o bom suspense Tensão na Linha (1982) e a cinebiografia A História de Rita (1983), sobre a icônica atriz Rita Hayworth. Em 1982 Patrick Duffy, de barba, tirou férias de Southfork, Texas, e foi a uma cidade litorânea no Oregon no mistério sobrenatural Lágrimas Para os Estranhos (1982). Adaptações literárias também apareciam no lote como a ótima versão dirigida por David Greene de O Conde de Monte Cristo (1975), estrelada por Richard Chamberlain e Tony Curtis.

Algumas dessas produções se baseavam em histórias reais que surpreendiam pelo impacto emocional e ganhavam o público pelos exemplos de obstinação e coragem representados. É o caso do drama Meu Filho Meu Mundo (1979), estrelado por James Farentino e Kathryn Harrold. Na história, realizada muito antes que o Autismo se tornasse uma condição mais conhecida e debatida, um casal decide tratar do filho autista de 5 anos com métodos anti-convencionais ao que conhecia na época pela comunidade psiquiátrica. O caso real surpreendeu pelo avanço dos pais em se comunicar com o filho adaptando-se ao seu mundo interior, alternativo, em vez de impor um ajuste forçado à realidade externa objetiva. Outro que causou comoção geral na época de sua exibição foi Um Dia De Sol (1973) sobre a história de Kate Hayden (Cristina Raines), jovem que descobre ter câncer terminal e nos poucos meses que lhe restam grava fitas para sua filha pequena, confiando-as ao seu namorado (Cliff De Young), um músico desempregado. O filme, clássico da Sessão da Tarde, popularizou a belíssima balada Sunshine na voz de John Denver.

Capitão América, Exo Man (no meio) e o Incrível Hulk

Muito antes dos filmes de super herói da Marvel e DC no cinema, a televisão realizou várias séries e filmes do gênero. A Mulher Maravilha (1975/1979) com Lynda Carter, o Incrível Hulk (1978/1982) com Bill Bixby/Lou Ferrigno e o Homem Aranha (1977) com Nicholas Hammond tiveram ótima receptividade apesar dos baixo orçamentos. Ainda tiveram filmes como Capitão América (1979), Dr. Estranho (1978) e algumas tentativas frustradas. Namor foi pensado mas diante de problemas no processo de adaptação tornou-se O Homem do Fundo do Mar (1977) e, copiando a premissa de Homem de Ferro, a TV produziu o piloto de Exo Man (1977) sobre um homem (David Ackroyd) que usa uma armadura para combater o crime. Caso curioso de sucesso que foi da televisão para o cinema foi o caso de O Dia Seguinte (1983), thriller sobre o apocalipse nuclear, que causou impacto na época e foi exibido nas salas de cinema. O mesmo aconteceu com os telefimes Buck Rogers (1979) e Galática (1978) – grandes sucessos na TV pré Netflix. Embora muitos desses filmes sejam hoje desconhecidos do público em geral, marcaram a infância e adolescência de muita gente, e deixaram sua marca na memória de quem, como eu, teve a televisão como babá eletrônica.

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