Por Adilson Carvalho

Rafael Sabatini (1875-1950) é um dos maiores romancistas românticos com um talento incrível para imprimir emoção e ação em aventuras históricas, seguindo a mesma linha do francês Alexandre Dumas (1802-1870). Entre seus 34 romances está o audacioso Capitão Blood, publicado em 1922 e adaptado para o cinema primeiro em 1924 – era dos filmes mudos – e 11 anos depois em sua encarnação definitiva, na pele de Errol Flynn (1909-1959) – em papel inicialmente pensado para Robert Donat – no clássico dirigido por Michael Curtis, que completa esse ano 90 anos de seu lançamento nas telas. O estilo de Sabatini inseria personagens fictícios em um pano de fundo histórico.
Voltamos assim ao ano de 1689, o ex-soldado e agora médico irlandês Peter Blood (Errol Flynn), é chamado para cuidar de um ferido da Rebelião de Monmouth, e por isso os guardas do Rei James II (Vernon Steele) o prendem por traição. Incialmente condenado à morte, sua pena é alterada para escravidão e Blood é enviado para Port Royal, na Jamaica, para iniciar sua pena. Por um mero capricho, ele avcaba sendo comprado por Arabella Bishop (Olivia de Havilland), sobrinha do Coronel Bishop (Lionel Atwill), o cruel chefe militar local. O governador Steed (George Hassell), que sofre de gota, recebe Blood para tratá-lo, o que é conveniente para que Blood seja poupado de trabalhos forçados. Nesse momento, piratas espanhóis chegam e bombardeiam a cidade, dando oportunidade a Blood e seus homens de escaparem. Eles capturam um dos navios e salvam a cidade, fugindo depois para o mar, transformando-se também em piratas, que atacam qualquer navio que cruze a sua rota.

Sabatini baseou a primeira parte da história de Blood em Henry Pitman, um cirurgião que tratou dos feridos rebeldes de Monmouth e foi condenado à morte pelo Juiz Jeffreys, mas cuja sentença foi comutada para transporte penal para Barbados, onde fugiu e foi capturado por piratas. Ao contrário do fictício Blood, Pitman não se juntou a eles e acabou por regressar a Inglaterra, onde escreveu um relato popular da sua provação. Para a vida de Blood como bucaneiro, Sabatini utilizou vários modelos, incluindo a história do corsário Henry Morgan e a obra de Alexandre Exquemelin, para os pormenores históricos.

A Warner produziu Capitão Blood (1935) impulsionada pelo sucesso de outros estúdios com fitas de aventura como A Ilha do Tesouro (1934) e O Grande Motim (1935) da Metro e O Conde de Monte Cristo (1934) que faziam o gênero renascer na era dos filmes falados. O filme de Michael Curtiz fez de Errol Flynn – de 26 anos – e Olivia de Havilland – de 19 anos – os astros do momento, primeiro dos oito filmes que fizeram juntos. Apesar disso, a relação de ambos nos bastidores nem sempre era harmoniosa. Na sua autobiografia My Wicked, Wicked Ways, Errol Flynn admite ser um notório gozador, muitas vezes em brincadeiras de mal gosto com Dame Olivia de Havilland. Uma delas foi deixar uma cobra morta nas suas roupas íntimas, que ela encontrou quando as foi vestir. Olivia vivia aterrorizada com a próxima peça que Flynn viria a pregar em seguida. Um ambiente que hoje em dia seria taxado de tóxico, sem dúvida. A sequência do duelo final com o pirata francês Lavousseur é fabulosa em técnica, embora o melhor esgrimista fosse o ator Basil Rathbone, que só perdeu o duelo porque sendo o vilão era assim que o roteiro determinava. No romance original, o Capitão Blood e o Capitão Levasseur lutam por Madamoiselle d’Ogeron, a filha do governador de Tortuga, e não por Arabella Bishop. As duas personagens foram reunidas numa só para simplificar a história.

Se filmes como Piratas do Caribe fazem tanto sucesso, muito se deve ao impacto cinematográfico de Capitão Blood, do magnetismo animal de Errol Flynn, que se tornou eternamente associado ao gênero, e a empolgante trilha sonora de Erich Wolfgang Korngold que se integra ao tilintar das espadas, ao suor das lutas e ao explodir dos canhões em combate mostrando que ao menos na aventura cinematográfica ou literária, a pirataria compensa para nos divertir. O filme está disponível no streaming pelo Looke.