Começando uma série de artigos revisionistas com os indicados ao Oscar 2025.
Por Adilson Carvalho

“Precisamos saber revisitar nossa história. Isso é o que os americanos fazem em seu cinema, e é o que deveríamos fazer também“. Esse foi um conselho que ouvi do fabuloso diretor Sérgio Rezende (Sertão Sertões, Paciente Zero), em uma das entrevistas que fiz. Isto combina exatamente com o que estamos vendo aqui: Nossa história sendo levada para o público e para o mundo. Que todos conheçam o que foi o período ditatorial (1964-1985), e no filme maravilhosamente conduzido por Walter Salles, vemos a história pelos olhos de uma pessoa comum, a dona de casa Eunice Paiva (Fernanda Torres), que por décadas procurou descobrir o destino de seu marido, Rubens Paiva (Selton Mello), ex deputado federal, retirado de casa por forças políticas para interrogatório e desaparecido desde então. Eunice se reinventa para cuidar de seus cinco filhos, se torna advogada e ativista política em uma briga de David contra Golias. O roteiro de Murilo Hauser e Heitor Lorega foi baseado na autobiografia homônima de 2015 escrita por Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice. A história destaca a tenacidade de uma mulher em uma luta incansável, e essa garra se faz sentir nos olhos, na voz e na expressão corporal de Fernanda, que traduz essa garra em um fundo histórico que muitos negacionistas insistem em varrer para debaixo do tapete. Embora o filme fuja da panfletagem partidária, a narrativa de Salles consegue nos transportar para a década de 70 e contextualizar na luta de uma mãe e esposa contra um inimigo que não demonstra piedade. O filme de Salles é eficiente em sua edição por conseguir nos fazer sentir com a dor crescente de uma mulher, uma cidadã que ousou quando poucos o fizeram, mesmo sem empunhar uma arma. O filme vem encantando o público presente nos festivais e eventos de premiação, conseguiu atrair o público americano quebrando recorde de bilheteria nos Estados Unidos, superando até mesmo Central do Brasil (1998), também de Walter Salles e protagonizado por Fernanda Montenegro. Surpreendente se lembrarmos que falamos da terra de Trump. Admirável para que o mundo perceba que temos não apenas essa mas muitas histórias para contar, ainda aqui.

3 Indicações ao Oscar: Melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz para Fernanda Torres.