Por Adilson Carvalho

Nosferatu, não é coincidência, é a mesma história de Drácula, o clássico da literatura renomeado a partir de uma releitura não autorizada do romance feita em 1922 pelo cineasta alemão F.W.Murnau. Mas, lendas de vampiros ou desmortos já faziam parte do folclore europeu, muito antes que Abraham Stoker (1847 – 1912) as usasse como matéria-prima de seu mais famoso romance. A esses mitos e superstições, o autor de Drácula fundiu a figura histórica do príncipe romeno Vlad Tepes que governou a região da Valáquia, atual Romênia, combatendo os invasores turcos com requintes de crueldade notória. Vlad, o empalador, fincava uma estaca de madeira no peito de seus inimigos e bebia seu sangue. A mente criativa de Stoker soube unir todos esses elementos na figura de Drácula, nome da família de Vlad, ligada à Ordem do Dragão – linhagem religiosa do auge do Império Romano. Contudo, o livro de Stoker não foi, como muitos pensam, o primeiro livro sobre vampiros. Antes dele houve O Vampiro (Vampyre) de 1819 de John Polidori e Carmila (1871) de Sheridan Le Fanus.

A obra de Polidori foi extraída da história que Lord Byron contou como parte da mesma competição que gerou o romance Frankenstein de Mary Shelley. O Vampiro é praticamente o precursor do gênero vampiro romântico na literatura de ficção, sendo a primeira narrativa em prosa do gênero. A obra é considerada a primeira história de sucesso para fundir os elementos díspares de vampirismo em um gênero literário coerente, antecedendo Bram Stoker em 78 anos. Polidori foi quem teve a ideia de fazer do vampiro não uma figura folclórica mas um aristocrata, no caso Lord Ruthven, um nobre britânico que arrasta o jovem Aubrey para uma viagem pela Europa, marcada por eventos sobrenaturais, morte e degradação. Lord Ruthven engana, manipula Aubrey e todos em sua busca por um banquete de sangue. Em 1945 houve a adaptação The Vampire’s Ghost com John Abbott no papel principal e com o cenário mudado da Inglaterra e Grécia para a África. A influência é inegável e se estendeu até a era atual, pois o texto é visto como “canônico” e – juntamente com Drácula, de Bram Stoker, e outros – é uma das obras mais antigas sobre o vampirismo.

52 anos depois de Polidori, o escritor irlandês Joseph Sheridan Le Fanu publicou o conto Carmilla, em capítulos na revista Dark Blue, entre 1871 e 1872. A história é narrada por Laura, uma jovem que conta os dias passados na companhia da misteriosa Carmilla e os eventos estranhos que ocorreram na região após a chegada desta. Um clássico da literatura britânica, Carmilla apresenta a primeira vampira feminina da literatura, criando a figura da vampira lésbica. Carmilla é retratada como extremamente bela, encantadora e sensual, dona de hábitos estranhos como não acordar antes do meio-dia, dormir com as portas e janelas trancadas, quase nunca se alimentar e ter acessos de raiva quando ouve um hino fúnebre ou se julga ofendida por um vendedor. Carmilla serve de protótipo literário para incontáveis histórias de vampiros que varrem a Europa Central, onde a história se desenvolve, desde eras medievais. A figura do caçador de vampiros apareceu aqui no personagem Baron Vordenburg, sendo este a inspiração para que Stoker criasse o Professor Van Helsing. A primeira adaptação para o cinema foi Vampyr (1932) de Carl Dreyer, que preferia trabalhar com atores não profissionais, e a maioria dos atores que aparecem nesse filme eram amadores que ele conheceu nas ruas de Paris. Carmilla foi vivida, por exemplo, pela viúva francesa Henriette Gerard. A ela se seguiram várias adaptações, sendo as duas que mais valem a pena mencionar são Rosas de Sangue (1960), de Roger Vadim estrelado por Annette Stroyberg e Carmilla – A Vampira de Karnstein (1970), da Hammer Films, estrelado pela voluptuosa atriz britânica Ingrid Pitt.