Por Adilson Carvalho

Entre 1975 e 1979 os heróis Marvel ganhavam cores pela primeira vez e títulos em formatinho que fizeram parte da história dos leitores, como eu próprio, apesar das deficiências editorias da Bloch Editores. 50 anos depois lembramos aqui da época do Bloquinho, do Clube do Capitão Aza, e de um época que mesmo não perfeita, deixou uma marca na memória afetiva de quem viveu. Foi a Ebal de Adolfo Aizen quem trouxe os heróis Marvel para o Brasil no final dos anos 60, mas o acordo de Aizen era um mero aperto de mão, e a partir de 1972 a Ebal abandonou todos os personagens Marvel ficando apenas com Homem Aranha e Capitão América. Ciente dessa brecha na negociação, Adolpho Bloch (que possui grau de parentesco com Aizen) firmou um acordo de trazer TODOS os personagens em revistas que seriam impressas a cores (a Ebal publicava a maioria em preto e branco, com exceção dos especiais), praticamente passando a perna na Ebal.

Assim a partir de fevereiro de 1975 chegou às bancas a revista Novo Capitão América em formatinho (13,5 x 20,5 cm), colorido com 68 páginas e lombada com grampos. Na capa, o Falcão soca o vilão Serpente diante dos olhos arregalados do Capitão América alertando o parceiro para que não o matasse. A história, desenhada por Sal Buscema e escrita por Steve Englehart, era o final de um arco de histórias em que o Capitão enfrentava um sósia impostor. A Bloch simplesmente começou a história sem nenhuma preocupação em contextualizar para os leitores a história originalmente publicada em Captain America #156. Já com o bom amigo da vizinhança foi diferente, e a Bloch iniciou a publicação de Homem Aranha, também em fevereiro de 1975, com o arco de histórias de Amazing Spider Man #1, #2 e #3 (ignorando contudo a origem do herói do título Amazing Fantasy #15), material esse já publicado pela Ebal anos atrás. Embora a desculpa da Bloch fosse que a Ebal as tinha publicado em preto e branco, o fato é que republicar tudo deu início a uma bola de neve cronológica, já que no Brasil os heróis Marvel passaram a ser publicados com um atraso de 12 anos. O mesmo aconteceu com os demais títulos da Bloch : Mestre do Kung Fu, também iniciado em fevereiro de 1975; O Incrível Hulk e O Poderoso Thor iniciados em março de 1975, Homem de Ferro, Demolidor, Namor e Tocha Humana iniciados em abril de 1975. Este último, curiosamente, misturava aventuras do Tocha Humana original (o andróide Jim Hammond) publicadas em Strange Tales (1962) com as histórias da década de 40 quando a Marvel ainda se chamava Timely Comics. A partir de Tocha Humana #3 (junho de 1975) o título integrou as histórias do Quarteto Fantástico de Stan Lee e Jack Kirby, sendo que o Tocha Humana da equipe era outro, o jovem Johnny Storm, traduzido para Johnny Tempestade. Para a Bloch isso parecia pouco importar.

Além do aparente descaso com a cronologia dos personagens, a Bloch falhou em outros quesitos. As cores anunciadas como sendo o ponto forte da publicação eram mal impressas, muitas vezes borradas ou trocadas em relação ao material americano (Imagine J. Jonah Jameson com cabelo loiro), as traduções eram péssimas como o vilão Ardiloso sendo chamado de Pete Goma-Arábica, Punhos de Ferro virou Punhos de Aço (editado em título próprio entre maio de 1977 e janeiro de 1978), Gwen Stacy passou a ser Gina Stacy, fora o excesso de gírias e outras bizarrices. O período da Marvel pela Bloch foi impulsionado pelo programa de TV do Capitão Aza (Tv Tupi) que passava os desenhos dos heróis Marvel e ainda fazia sorteio com as revistas da Bloch. Logo vieram também Ka-Zar (outubro de 1975), Os Vingadores (novembro de 1977), Conan – O Bárbaro (março de 1976), Os Defensores (maio de 1976), e uma única edição do Motoqueiro Fantasma (1978), quando a Bloch publicava com sucesso títulos de terror com Drácula, Frankenstein e Lobisomem, tudo também da Marvel.
Apesar de todo o empenho da Bloch, praticamente todos os títulos Marvel tiveram vida curta, alguns durando 10 edições, outros menos ou um pouco mais, sendo que Homem Aranha e Capitão América foram os únicos mantidos mensalmente pelos quatro anos que a Bloch prosseguiu com sua empreitada na área de quadrinhos de heróis. Com a Marvel insatisfeita e a própria Bloch inconformada com as vendas abaixo do pretendido, a era Marvel na Bloch acabou em janeiro de 1979 com Homem Aranha #33, ainda trazendo as histórias da fase Stan Lee e John Romita, datadas de setembro de 1970, um hiato de 9 anos que só pioraria quando a RGE passou a publicar Homem Aranha já em fevereiro de 1979, voltando a republicar o material de 1968, mas isso já é outra história.