Por Adilson Carvalho

Nos anos 90, o Capitão América teve uma tumultuada adaptação para o cinema, uma época muito anterior à aquisição da Marvel pela Disney, quando os direitos do personagem foram originalmente comprados pela Universal Pictures, que chegou a fazer dois telefilmes em 1979. O estúdio chegou a planejar um longa estrelado por Jeff Bridges como Capitão América e Peter Fonda como o Caveira Vermelha. O escritor, Jeffery Sprouse, revelou posteriormente um roteiro e peças de arte conceitual que também incluíam Falcão, Barão Zemo e Bucky Barnes como personagens. No final das contas, o filme nunca veio a ser feito e os direitos foram então vendidos aos fundadores para o Cannon Group com Michael Winner (Desejo de Matar) contratado para dirigir um roteiro de James Silke. No entanto, em 1986, Winner descartou o roteiro de Silke e recrutou o roteirista de televisão britânico Stan Hey cuja história envolvia uma trama sobre o roubo da Estátua da Liberdade por um Caveira Vermelha idoso, auxiliado por um culto à morte feminino, e Steve Rogers trabalhando como artista. Michael Dudikoff foi definido para interpretar o herói, e Steve James interpretaria Sam Wilson/Falcão. Em 1987, Winner deixou o projeto e o produtor Menahem Golan, que havia deixado a Cannon em 1989 e, assumiu o controle da 21st Century Film Corporation, que conseguiu os direitos cinematográficos do personagem Capitão América trazendo o diretor Albert Pyun, cuja carreira se resumia a filmes de baixo orçamento e independentes.

Dolph Lundgren e Arnold Schwarzenegger foram considerados para o papel principal, e depois foi a vez de Val Kilmer, mas ele recusou para trabalhar em The Doors. A ideia original de Pyun era ter dois atores diferentes para interpretar Rogers/Capitão América; um antes e outro depois de sua transformação em supersoldado. Ele queria que Matt Salinger, filho do escritor J.D.Salinger (O Apanhador no Campo de Centeio) interpretasse Steve Rogers pré-supersoldado e Howie Long interpretasse o Capitão América pós-supersoldado. No entanto, a Marvel insistiu que apenas um ator interpretasse o personagem, em ambas as fases. Pyun também queria que o Capitão América usasse um traje preto “tático” no filme, para refletir sua aparência nos quadrinhos da época, quando John Walker se tornou o novo Capitão America e Steve Rogers passou a agir como O Capitão, mas isso também foi rejeitado pela Marvel, que queria que ele mantivesse seu traje clássico.

Na edição final Matt Salinger aparece como Steve Rogers, um rapaz franzino e pobre, que se submete ao soro do super soldado nos dias da Segunda Guerra, quando o nazista Caveira Vermelha (Scott Paulin) sabota o laboratório causando a morte da Dra Maria Vasselli (Carla Cassola), chefe do projeto do Super Soldado. Congelado depois de cair de um foguete, durante uma luta com o Caveira Vermelha, o Capitão America (Sallinger) desperta nos anos 90 em meio a uma terrível crise quando o Presidente Kimble (Ronny Cox) foi sequestrado pelo terrorista Caveira Vermelha, ainda vivo. No filme, a organização do Caveira Vermelha, que é italiano e não alemão como nas hqs, é responsável por uma série de assassinatos de alto nível, tendo como alvo pessoas que se opunham às suas atividades militantes. Entre as vítimas mencionadas estão John F. Kennedy (morto em 1963), Martin Luther King Jr. (morto em 1968), Robert F. Kennedy (morto em 1968) e Elvis Presley (morto em 1977).

O filme foi planejado para ser lançado em agosto de 1990 para coincidir com o quinquagésimo aniversário do herói criado por Joe Simon e Jack Kirby em dezembro de 1941. Várias datas de lançamento foram anunciadas entre 1990 e 1991, mas o filme não foi lançado por dois anos antes de estrear direto em vídeo no verão de 1992, assim como no Brasil. Os anúncios na Variety que anunciavam a produção do filme creditavam incorretamente o personagem como tendo sido “criado por Stan Lee”. Isso foi depois corrigido para dar crédito a Jack Kirby e Joe Simon. Stan Lee voou para a Iugoslávia, local das filmagens, e filmou uma participação especial na cena da reunião do sindicato do crime, mas a parte foi cortada do filme, e a filmagem parece ter se perdido. O orçamento do filme era tão baixo que, às vezes, eles ficavam sem filme durante as filmagens, mas Albert Pyun fazia com que os operadores de câmera desligassem o alarme de “câmeras sem filme” e fingiam continuar filmando. Ele acreditava que se eles parassem e encerrassem a produção, ela nunca mais seria retomada. O diretor tentou adquirir os direitos para refazer e relançar uma versão digitalmente aprimorada do filme em 2001, mas a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), que detinha os direitos naquele momento, recusou. Pyun esteve envolvido em um filme do Homem-Aranha (outro herói da Marvel Comics) que a Cannon Films produziria e distribuiria, mas o filme foi cancelado posteriormente por motivos financeiros e de direitos autorais.