Por Adilson Carvalho

Ator, diretor, diplomata tendo ocupado o cargo de Embaixador das Bahamas no Japão (1997 – 2007). Sidney Poitier, que se vico estivesse completaria hoje 98 anos, foi o primeiro ator negro a se destacar em Hollywood fora dos estereótipos a que os atores afro descendentes eram impostos, e isso durante o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Se tornou o primeiro ator negro a ganhar um Oscar de melhor ator por Uma Voz nas Sombras (Lilies of the Field, 1963) no papel de Homer Smith, um homem desempregado que ajuda cinco freiras a construir uma capela mesmo sabendo que não terá remuneração financeira nenhuma.

Poitier tornou-se um símbolo de honradez em uma época que não havia representatividade nas telas e ele se sobressaiu com um talento inigualável com o qual foi inspiração para todos. Foi Poitier por exemplo o modelo para o desenho do herói John Stewart, o Lanterna Verde, nas hqs da DC Comics. Nascido em 20 de fevereiro de 1927, em Miami, Flórida, ele era o caçula de sete filhos de um casal de fazendeiros das Bahamas que frequentemente viajava para Miami a fim de vender tomates e outros produtos. Sidney nasceu inesperadamente em Miami enquanto seus pais estavam de visita. Era prematuro de três meses e não se esperava que ele sobrevivesse, mas seus pais permaneceram em Miami por três meses para cuidar dele. Poitier cresceu nas Bahamas, então uma colônia da Coroa Britânica. Devido ao seu nascimento (não planejado) nos Estados Unidos, ele teve automaticamente direito à cidadania americana.

Aos 15 anos foi morar em Miami com a família de seu irmão, trabalhando em vários empregos enquanto sonhava em ser ator. Tempos depois, quando chegou a Nova York ele era tão pobre no início que dormia na estação de ônibus. Como não conseguia ler, perdeu oportunidade de ingressar no American Negro Theater. Quando trabalhava como lavador de pratos, conheceu um garçom judeu que o ensinou a ler. Se alistou no exército, em 1943, mas foi designado para um hospital da Administração de Veteranos em Northport, Nova York. Depois desse período finalmente conseguiu ingressar no American Negro Theater, onde exercitou sua atuação e onde conheceu e ficou amigo do icônico Harry Belafonte. Em 1947, Poitier foi membro fundador do Committee for the Negro in the Arts (CNA), uma organização cujos participantes estavam comprometidos com uma análise de esquerda da exploração racial e de classe. Sua estreia no cinema foi no thriller noir O Ódio é Cego (No Way Out, 1950) de Joseph l. Mankiewics. Para conseguir o papel para esse filme, ele mentiu para o diretor Joseph L. Mankiewicz dizendo que tinha 27 anos, quando na verdade tinha apenas 22 anos. Em 1958 foi impressionante sua atuação junto de Tony Curtis em Acorrentados (The Defiant Ones), história de um homem negro e um homem branco que fogem de um campo de prisioneiros e precisam aprender a superar as diferenças para fugir já que estão presos um no outro. Amos os atores receberam indicações ao Oscar. Um de seus papéis mais icônico veio a ser quando interpretou o professor Mark Tackery, em Ao Mestre Com carinho (To Sir With Love, 1967), papel similar ao de Glenn Ford em Sementes da Violência (Blackboard Jungle, 1950), onde Sidney é um dos alunos.

Junto com Gary Cooper, é o ator mais representado na lista dos 100 filmes mais inspiradores de todos os tempos do American Film Institute, com cinco de seus filmes na lista. São eles: O Sol Tornará a Brilhar (1961) em 65º lugar, Acorrentados (1958) em 55º lugar, Uma Voz nas Sombras (1963) em 46º lugar, Adivinhe Quem vem para Jantar (1967) em 35º lugar e No Calor da Noite (1967) em 21º lugar. Nesses dois últimos desempenhou papeis que eram notáveis em meio à luta contra o racismo, dois anos antes do assassinato de Martin Luther King Jr. Em Adivinhe Quem vem para Jantar (Guess Who’s Coming to Dinner) interpretou o médico Dr. John Prentice que visita a casa de sua noiva Joey Drayton (Katherine Houghton) para conhecer seus pais (Spencer Tracy e Katherine Hepburn) e apresentar seus pais (Roy Glenn e Beah Richards). O tema do casamento interracial era um taboo na época e o filme dirigido por Stanley Kramer abriu espaço para a discussão.

Já em No calor da Noite (In the Heat of The Night) gravou na eternidade a medida certa de orgulho e dignidade em mundo de preconceitos ao se apresentar “They call me Mister Tibbs!“, incluída entre as melhores citações do cinema na posição #16 pelo American Film Institute. A história de um detetive da cidade grande investigando um crime no Mississipi racista e intolerante levou 7 indicações ao Oscar, levando melhor filme, melhor diretor e melhor ator para Rod Steiger como o Xerife preconceituoso. Gravado no Tennessee, Poitier dormia com uma arma debaixo do travesseiro durante a produção pois recebera ameaças de bandidos racistas locais, forçando a paralização das filmagens. A cena em que Tibbs (Poitier) leva um tapa no rosto de um homem branco não estava no roteiro que Poitier revidaria mas o ator só gravou a cena se ele revidasse esbofeteando o homem branco para que não representasse uma submissão do negro ao branco.

Na década de 70 Poitier voltou a interpretar o detetive Virgil Tibbs em duas sequências Noite Sem Fim (They Call Me Mister Tibbs, 1970) e A Organização (The Organization, 1971). No ano seguinte estreou como diretor em Um Por Deus, Outro Pelo Diabo (1972). Entre o final dos anos 70 e anos 80 o nobre ator se distanciou da atuação dirigindo como Loucos de Dar No (Stir Crazy, 1980) com Gene Wilder e Richard Pryor, Hanky Panky – Uma Dupla em Apuros (1982) com Gene Wilder e Gilda Radner, vindo a se afastar de Hollywood até 1988 quando mostrou boa forma em filmes como Atirando Para Matar (Deadly Pursuit, 1988), Espiões Sem Rosto (Little Nikita, 1988), O Chacal (The Jackal, 1997) e ainda reviveu o papel de Mark Tackery no telefilme Ao Mestre Com Carinho 2 (To Sir With Love, 1995). Em 2002 tornou as o primeiro ator negro a receber um Oscar Honorário pelo conjunto da obra. O ator faleceu em 6 de janeiro de 2022, aos 94 anos.