ISTO É FATO… NÃO FITA! EM DEFESA DE HUGH GRIFFITH (Histórias do Oscar)

Por Paulo Telles

O Oscar é uma das cerimônias mais esperadas no mundo das mídias, ainda mais em se tratando de cinema e arte em geral. Mas não há um evento em que esta premiação em Hollywood não houvesse tido, no mínimo, uma polêmica. E na história do Oscar, polêmicas é o que não faltam. Que pudesse dizer o nosso bom e saudoso crítico de cinema Fernando Albagli, autor do livro Tudo Sobre o Oscar, editado e publicado pela querida e extinta Editora Brasil-América em 1990, com edições atualizadas até 1993. Ou mesmo o inesquecível Rubens Ewald Filho, alcunhado por todos os cinéfilos como o Homem do Oscar, por tratar do assunto de forma didática e estilo inconfundível, característica marcante do nosso saudoso Rubinho.

Charlton Heston e Hugh Griffith em cena de BEN-HUR (o verdadeiro clássico de 1959).

Um registro fatídico e verossímil ocorreu durante o Oscar de 1960, que premiou o filme Ben-Hur (1959), tornando o clássico dirigido por William Wyler (1902-1981) e estrelado por Charlton Heston (1923-2008) o detentor imbatível de prêmios da Academia (11 Oscars!) por quase 30 anos, até empatar com Titanic (1998), que levou em uma só noite o mesmo número de prêmios conquistados. Para saber mais sobre Ben-Hur, acesse a coluna Cine Retro Boavista, em matéria especial de duas partes sobre esta monumental produção da Sétima Arte:

(https://cineretroboavista.blogspot.com/2023/03/ben-hur-1959-versao-definitiva.html).

Entre as 11 premiações em Ben-Hur, estavam por Melhor Ator (Heston), Melhor Diretor (Wyler), Melhor Trilha Sonora (Miklos Rozsa, 1907-1995) e Melhor Ator Coadjuvante, para o sensacional Hugh Griffith (1912-1980). Nascido no País de Gales, Griffith foi bancário antes de iniciar a vida artística, iniciada nos palcos londrinos em 1939. Em 1940, estreou no cinema, atuando tanto em filmes britânicos como também em Hollywood.

Em Ben-Hur de 1959, Griffith interpreta o Xeique Ilderin, um árabe rico que lidera condutores de quadrigas para os jogos no circo de Roma, e para quem o personagem central conduz seus magníficos cavalos árabes para a vitória.  No romance original publicado em 1880 pelo General Lew Wallace (1827-1905), o xeique é uma figura vigorosa e foge drasticamente da imagem caricata, e por vezes, divertida de Griffith. Contudo, o ideal para o ator era fazer de Ilderin um personagem que pudesse fazer o contraste do drama com um toque humor, e Griffith teve total apoio e aval do diretor Wyler para traçar seu próprio perfil do Xeique árabe. E o resultado deu certo. Com o filme lançado nos Estados Unidos em novembro de 1959, grande parte do público e crítica elogiaram o desempenho de Griffith, e no ano seguinte, o ator galês ganhou seu merecido prêmio como Ator Coadjuvante na premiação da Academia.

O Diretor William Wyler

Entretanto, houve quem não estivesse feliz com a atuação, ou mesmo a premiação para Hugh Griffith. Quando o filme chegou na República Árabe Unida, houve inúmeros protestos (os árabes também não gostaram da presença da atriz Haya Harareet no filme, por ser israelense). O povo árabe considerou um insulto a eles a atuação de Griffith, achando-o caricato e, segundo eles, efeminado. Assim, a República Árabe resolveu boicotar Ben-Hur e proibiu sua exibição no país.

Na noite do Oscar de 1960, Griffith não pôde estar na cerimônia (filmava O Grande Motim com Marlon Brando, no Taiti) e William Wyler representou o ator na premiação. Ao subir no palco e receber a estatueta de Griffith em mãos, o cineasta deplorou a atitude do povo árabe em boicotar Ben-Hur, por causa da atuação de Griffith, e declarou:

São boicotadas na República Árabe Unida as obras em que participaram Edward G. Robinson e Elizabeth Taylor, porque esses artistas contribuíram para a criação e o desenvolvimento do Estado de Israel. Ora, assim sendo, também deveriam ser interditados pelos árabes todos os filmes de Hollywood, pois neles há sempre um ator, um diretor, um produtor ou técnico, que de uma maneira ou outra, ajudaram o Estado de Israel. Griffith deu vida ao Xeique Ilderin, transformando-o num personagem pitoresco e divertido.

Hugh Griffith como o Xeique Ilderin. A atuação rendeu-lhe um prêmio da Academia como Melhor Ator Coadjuvante em BEN-HUR (1959).

Apesar dos protestos e críticas bem construtivas do inteligente cineasta contra a ridícula censura do povo árabe, Ben-Hur de 1959 é ainda um dos maiores recordistas da história do cinema, cuja popularidade deveu-se a todo um trabalho de equipe, com Hugh Griffith sendo um dos grandes pilares de toda estruturação. O ator faleceu em Londres a 14 de maio de 1980.

Um caso real em nossos registros, afinal, Isto é Fato… Não Fita!

Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.

https://cineretroboavista.blogspot.com/

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