Por Adilson Carvalho
Foi no embalo da banda inglesa Duran Duran que Roger Moore se despediu do papel que desempenhou ao longo de 11 anos. Aos 57 anos, Moore já havia se cansado do papel de James Bond, e se sentia desconfortável em fazer o papel de sedutor, contracenando com belíssimas atrizes cada vez mais jovens. Moore cumpriu seu contrato final começando com uma eletrizante sequência na Rússia, seguida após os créditos de uma igualmente envolvente perseguição na Torre Eiffel, onde Bond persegue a assassina May Day. Assim começa a 14ª aventura de Bond no cinema, a última de Roger Moore como Bond, adaptando o conto “From a View to a Kill”, que Ian Fleming incluíra na coletânea “For Your Eyes Only”, mas que o autor já havia publicado, em forma seriada, no jornal britânico “Daily Express” com o nome “Murder Before Breakfast”. No livro, Bond investiga o desaparecimento de documentos secretos ligado a um crime cometido por um motoqueiro assassino. Claro que, assim como nos filmes anteriores, pouquíssimo ou quase nada do material original de Fleming foi aproveitado. A trama foi recriada em torno da figura do mega-empresário, e ex-agente da KGB Max Zorin, que planeja monopolizar a produção de microchips, inundando o Vale do Silício em São Francisco. O personagem foi criado pensando em David Bowie, mas este recusou, preferindo fazer o papel de rei dos duendes em Labirinto- A Magia do Tempo. Em seguida, o papel foi oferecido ao ator holandês Rutger Hauer (Ladyhawke – O Feitiço de Áquila) até ser oferecido a Christopher Walken, que se tornou o primeiro ator premiado com um Oscar a trabalhar em um filme de Bond.

As filmagens, iniciadas ainda em 1984, foram atrasadas devido ao incêndio que destruiu os Estúdios Pinewood. Em quatro meses, estes foram reconstruídos e rebatizados de “The Albert Broccoli 007 Stage”. As locações de filmagem incluíam a França, Inglaterra, Islândia e São Francisco cuja prefeita era fã da série e ajudou bastante para manter o cronograma das filmagens. Como os produtores buscavam tornar 007 mais atraente para as plateias mais jovens, a atriz e cantora Grace Jones (de quem Roger Moore não gostou muito, conforme o próprio revelou tempos depois) ficou com o papel da assassina May Day, e a banda britânica Duran Duran gravou a canção-título, que chegou a primeiro lugar nas paradas de sucesso, e chegou a ser indicada ao Oscar de melhor canção. Embora não seja o melhor dos filmes estrelados por Roger Moore, também não é dos piores. Em 1985, ano de lançamento do filme, a sofisticação de Bond encontrava forte concorrência nos filmes de ação explosiva estrelados por Sylvester Stallone e Arnold Schwarzenneger. Ainda assim, o filme, que custou em torno de U$$30 milhões, faturou U$$50 milhões nos Estados Unidos e mais de U$$ 150 milhões no mercado internacional, o suficiente para garantir a continuidade da série.

No elenco, ainda se encontra Patrick McNee, que interpretou o espião inglês John Steed na série de Tv Os Vingadores (The Avengers) – nada a ver com os heróis Marvel – realizada pela TV britânica. O papel da bondgirl Stacy Sutton, foi oferecido a Bo Derek, mas acabou ficando com a ex pantera Tanya Roberts, então com 30 anos. O ator Dolph Lundgren, que logo depois seria o adversário de Rocky Balboa em Rocky IV, era o namorado de Grace Jones e faz uma ponta como um dos agentes russos. Em uma ponta, em meio a multidão que assiste à corrida de cavalos, pode se notar a atriz Maud Addams (de 007 Contra Octopussy) que foi convidada a fazer essa aparição pelo próprio Roger Moore, fazendo de Maud a única atriz a ter trabalhado em três filmes diferentes de 007. Além de Moore, também se despede da série a atriz Lois Maxwell, intérprete da secretaria Miss Moneypenny. O papel de Pola Ivanova (Fiona Fullerton) foi criado pelos roteiristas diante da recusa da atriz Barbara Bach de reprisar o papel de Major Amazova que vivera em 007 O Espião que me amava” Com o fim dessa 14ª missão encerrou-se a era Moore. Novos tempos indicavam a necessidade de renovar a série para uma nova geração, mas isso é assunto para um outro artigo.