Por Adilson Carvalho

Se estivesse vivo hoje meu mestre Rubens Ewald Filho estaria completando 80 anos satisfeito com a atuação de Fernanda Torres no Oscar por Ainda Estou Aqui. Nada mais justo então do que lembrar do “Homem do Oscar“, alcunha mais do que merecida do crítico de cinema que durante mais de 30 anos foi a cara do Oscar no Brasil, participando da transmissão da cerimônia pela Rede Globo (que hoje não mais transmitirá o Oscar), SBT, HBO, Telecine, e por fim pela TNT. Sua assombrosa memória lhe permitia lembrar o nome de atores, diretores, figurinistas, fotógrafos, maestros, técnicos, roteiristas entre vários profissionais indicados ao prêmio da Academia. Rubinho, como era chamado por seus amigos, elevava a cultura cinematográfica a um patamar de popularidade singular

Tive o prazer de tê-lo conhecido, tendo escrito para ele por 9 anos na condição honrosa de seu assistente. No começo, Rubinho me pedia para escrever artigos de apoio sobre os filmes de super herói, sendo eu um colecionador do gênero. Com o tempo ele passou a me confiar textos de outros gêneros cinematográficos alimentando minha paixão pelo ofício, e que ele publicava a princípio no blog que ele tinha no R7 (entre 2010 e 2012), e depois no dvdmagazine, e no jornal A Tribuna. Rubens foi meu mentor, meu mestre e meu amigo, me orientando com uma generosidade rara. Meu querido Rubens era um cavalheiro, um homem culto e digno e nem mesmo o infeliz incidente no Oscar 2018, no qual fez um comentário que foi considerado transfóbico, maculou sua dignidade e profissionalismo, tendo se desculpado então.

Rubens passou por todos os meios midiáticos de seu tempo: Globo, revista Veja, SBT, A Tribuna, TV Cultura, participou de Festivais de Cinema como Gramado, criou o Polo cinematográfico de Paulínia, escreveu o prestigiado Dicionário de Cineastas, publicado pela primeira vez em 1977, coordenou a coleção Aplauso, escreveu as novelas Drácula / Um Homem Muito Especial para a TV Tupi e depois Bandeirantes, escreveu também a adaptação de Éramos Seis para a Tupi e depois SBT, fez teatro, enfim um conjunto de obra fascinante. Foi durante a década de 80 que o vi pela primeira vez apresentando o programa Isto é Hollywood na TV Cultura e bastou isso para que plantasse em mim esse amor pela sétima arte, amor que Rubens teve ao longo de mais de 50 mil filmes assistidos, um recorde. Amo Rubinho e sinto muito sua falta. A noite do Oscar ficou mais triste para mim, mas sigo assistindo a cerimônia. Se o Oscar deve ir para alguém, deveria ter ido para o Rubens, mais do que merecido, e digo em sua memória, Obrigado Rubens, por tudo, sempre.