Por Paulo Telles

Super Western clássico dirigido em 1936 pelo fenomenal diretor das massas, Cecil B. DeMille (1881-1959) e estrelado por Gary Cooper (1901-1961) e Jean Arthur (1900-1991), respectivamente como Wild Bill Hickok (1837-1876) e Jane Calamidade (1852-1903), foi um estrondoso sucesso de crítica e bilheteria em sua época. Afinal, não foi para menos. De Mille tinha uma rara capacidade de transformar espetáculos históricos em diversão, o que ficou bem evidente em Jornadas Heroicas (The Plainsman, 1936). Com muita ação, humor e diálogos inspirados, De Mille encarava o uso da câmera mais como diversão do que como arte propriamente dita (o cinema era a maior diversão segundo o cineasta!). Até mesmo em seus filmes mais sérios, como os religiosos O Rei dos Reis (The King Of Kings, 1927) ou O Sinal da Cruz (The Signal Of Cross, 1931), o competente diretor sabia incrementar doses de humor em suas produções.

Mas um fato muito curioso aconteceu nos bastidores de Jornadas Heroicas. O jovem Anthony Quinn (1915-2001) então com 22 anos de idade e iniciando em Hollywood, conseguiu seu primeiro papel de importância graças a DeMille O diretor buscava algum ator que falasse o dialeto do índio Cheyenne para que pudesse fazer uma narração do famoso massacre de Little Big Horn pelo General George Armstrong Custer (1839-1876) para Wild Bill Hickok (Gary Cooper). Quinn apresentou-se ao cineasta e disse que falava o referido dialeto indígena.
Quinn nem foi submetido a teste e entrou em cena na hora da rodagem. Como ele mesmo declararia anos depois em sua autobiografia (com muitos apontamentos sobre DeMille também!), ele conseguiu convencer o cineasta e na hora da cena inventou uma língua qualquer, conseguindo enganar o diretor e também toda equipe técnica. O truque deu resultado, mas não como esperado para o ator. Quinn se casaria com a filha de DeMille, a atriz Katherine DeMille (1911-1995), tentando angariar com isso o estrelato, o que nunca aconteceria através do diretor (a carreira de Quinn somente decolaria de vez a partir de 1956, com o Oscar de ator coadjuvante conquistado por seu papel em Sede de Viver), e tempos depois quando o cineasta, já doente e sem forças para dirigir o remake de Lafitte, o Corsário (The Buccaneer, 1958), cuja primeira versão o próprio DeMille dirigira em 1938, é que este parece ter dado mais valor ao genro, e entregue a Quinn a direção do seu filme. Mas isto é outra história.
Um caso em nossos registros, afinal Isto é Fato… Não Fita!
Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.