Adilson Carvalho

A estreia de Branca de Neve, estrelado por Rachel Zegler e Gal Gadot, traz a figura da primeira princesa Disney de volta aos holofotes. Clássico originário da tradição oral alemã, que foi compilado pelos Irmãos Grimm, Branca de Neve foi publicado entre os anos de 1817 e 1822, num livro com várias outras fábulas, intitulado “Kinder-und Hausmärchen” (Contos de Fada para Crianças e Adultos). A origem do conto é controversa; é possível ter iniciado na Idade Média e se mantido pela tradição oral. Os Irmãos Grimm, em sua compilação dos vários contos através da Alemanha, publicaram a versão mais conhecida na época, e essa se tornou, com o tempo, a mais divulgada, mas há muitas outras. Existem variações do conto dissiminadas pela Europa. Em uma os anões são substituídos por ladrões, enquanto o diálogo com o espelho é feito com o sol ou a lua, em outra a princesa vive com 40 dragões e seu sono é causado por um anel mágico. O tom do conto original dos Irmãos Grimm é mais sombrio do que o clássico filme animado de 1936 da Disney, bem como de todos os outros transformados em lições morais infantis para se adaptarem aos valores de cada época. O cinema e a TV não demoraram a mexer nesse caldo para produzir variações da história para o entretenimento geral. Vamos conferir algumas destas:
Princesa materialista – Espelho Encantado (The Charmings, 1987/1988). A ABC reuniu um time de roteiristas que imaginaram que a madrasta malvada, Rainha Lilian Neve (Judy Parfitt) fez um feitiço equivocado que transportou todos para o mundo real. Cada episódio mostra os Charmings tentando se adaptar à sua nova vida com Branca descobrindo os impulsos consumistas, o ingênuo príncipe Eric (Christopher Rich) vivendo o stress das responsabilidades de ser o provedor da família, enquanto Lillian, a madrasta malvada, e seu sarcástico Espelho Mágico (Paul Winfield) observam do andar de cima. As crianças Thomas (Brandon Call) e Cory (Garrett Ratlifff) são as únicas que se ajustaram bem à nova realidade. Ainda aparecem nos episódios Luther (Cork Hubbert), o único dos sete anões a acompanhá-los e os vizinhos Don (Paul Eiding) e Sally (Dori Brenner). Já a princesa foi inicialmente interpretada por Caitlin O’Heaney nos seis episódios da temporada de estreia, sendo substituída por Carol Huston a partir da segunda. Os roteiros eram bem criativos em contrapor o mundo do conto de fadas e o mundo real. A família descobre a magia do cartão de crédito em um episódio, em outro Lilian arranja um namorado que um demônio (John Astin) imitando a premissa de As Bruxas de Eastwick (1987) além dos constantes do casal de vizinhos que tinha um casamento falido contrastando com o amor “perfeito” de Eric e Branca. tudo, claro sob o olhar irônico e os comentários divertidos do Espelho, que rouba a cena em todos os episódios, graças ao talento do saudoso Paul Winfield. A série foi exibida no Brasil uma única vez pela Rede Record no início dos anos 90. Fragmentos de seus episódios podem ser encontrados no You Tube.

Princesa Patricinha – Espelho Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012). Misturando comédia e aventura, o diretor Tarsem Singh fez uma versão bem pop do conto dos Irmãos Grimm com Lily Collins como Branca de Neve e Julia Roberts como a madrasta malvada. Ficou em terceiro lugar nas bilheterias e ainda levou o Oscar de melhor figurino. Os personagens anões do filme foram todos interpretados por anões porém são retratados com mais respeito do que normalmente se vê nos estereótipos. Mesmo assim, o filme não ficou livre de críticos que levantaram questões relativas à limitação de papéis para anões.

Princesa Guerreira – Branca de Neve & O Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012). Lançado no mesmo ano que o filme de Tarsem Singh, o produtor Joe Roth pensou em uma adaptação mais sombria no estilo O Senhor dos Anéis, dirigido por Rupert Sanders e estrelado por Kristen Stewart como Branca de Neve e Charlize Theron como a madrasta malvada. Em vez do príncipe encantado (Sam Cafflin), o principal papel masculino ficou com a figura do caçador, vivido por Chris Hemsworth, no auge de seu sucesso como o Thor da Marvel. A polêmica na época foi quando a produção decidiu que os anões seriam interpretados por atores de estatura mediana (Toby Jones, Ian McShane, Nick Frost, Bob Hoskins, Eddie Marsan, Ray Winstone, Johnny Harris e Brian Gleeson) que tiveram seus rostos digitalmente anexados a corpos pequenos. Isso causou um protesto da LPA (Little People of America).

Princesa Pateta – Branca de Neve & Os Três Patetas (Snow White & The Three Stooges, 1961). Segundo longa estrelado pelos três patetas depois do renascimento de sua popularidade. Foi também o filme mais rentável do trio, seu primeiro colorido. Branca de Neve era interpretada por Carol Heiss, campeã olímpica de patinação e Patricia Medina ficou com o papel da rainha má. Os bastidores foram bem atribulados pois Heiss e Medina se hostilizavam o tempo todo, com Heiss fazendo de tudo para que Medina fosse demitida. O trio pateta era formado aqui por Moe Howard, Larry Fine e Joe de Rita, que tiveram que conter muito seu humor físico devido à pressão das famílias que temiam que as crianças os imitassem. Patrica aceitou o papel da madrasta porque estava irritada de ser sempre escalada para interpretar mulheres boazinhas demais. O criador do Razzies Awards, John Wilson, costuma dizer em entrevistas que a primeira vez que ele percebeu que estava assistindo a um filme ruim foi quando viu esse filme aos sete anos de idade.

Princesa desmemoriada – Era Uma Vez (Once Upon a Time, 2011/2018). Criada por Adam Horowitz e Edward Kitsis, a série foi um dos grandes sucessos na Tv americana, produção da ABC. A série investe na mesma premissa da sitcom Espelho Encantado, mas destacando o drama e a aventura, praticamente expandindo os contos de fadas e criando um universo compartilhado. Na cidade fictícia de Storybrooke, no Maine, todos os moradores são personagens de contos de fadas são víitmas de uma poderosa maldição e manipulados por Rumplestiltskin (Robert Carlyle) e a Rainha Má/Regina Mills (Lana Parilla). Após perderem a memória de suas vidas na Floresta Encantada, cada personagem ganhou uma nova identidade com empregos adaptados ao mundo moderno. A única esperança para eles reside em Emma Swan (Jennifer Morrison), filha de Branca de Neve (Ginnifer Goodwin) e do Príncipe Encantado (Josh Dallas), que foi transportada ainda bebê para o mundo real, antes que a maldição fosse lançada, se tornando a Salvadora. Emma é auxiliada por seu filho, Henry (Jared Gilmore), o qual havia entregue para a adoção logo após seu nascimento. Henry tem um livro de contos de fadas, que contém as histórias que foram apagadas após a maldição, sendo também o responsável por fazer Emma acreditar na magia e quebrar a maldição, devolvendo a todos suas memórias. Henry também é o filho adotivo de Regina, criando um conflito e um interesse em comum entre as duas. A série foi criativa ao estabelecer um elo entre o presente real e o passado mágico, unificando todos as histórias de personagens como Cinderella, Chapeuzinho Vermelho, Peter Pan, Pinoquio, Bela Adormecida, Bela, Ariel, Mulan e até mesmo Elza e Anna do bem sucedido Frozen. Curiosamente os atores Ginnifer Goodwin e Josh Dallas eram casados na vida real. A série está disponibilizada pelo Disney Plus.
