HQ TERRITÓRIO NEUTRO | PRELÚDIO DE CRISE NAS MÚLTIPLAS TERRAS.

Comemorando os 50 anos de Crise nas Infinitas Terras, vejamos as histórias que conduziram ao épico evento.

Leandro “Leo” Banner

Prelúdio é um termo que define uma peça musical curta que introduz uma composição mais longa, mas também pode se referir a um texto introdutório, um prólogo ou a um preâmbulo. De certa forma, todas essas definições podem ser aplicadas ao texto que você que nos privilegia com sua inestimável atenção e companheirismo está prestes a ler, uma vez que, para falarmos dos 40 anos da publicação da maxissérie CRISE NAS INFINITAS TERRAS – e vale esclarecer que isso NÃO acontecerá neste post – , são necessárias algumas considerações prévias que nos ajudarão a compreender melhor os detalhes que levaram à concepção dessa fantástica saga que foi um verdadeiro marco na história das HQs.
Tudo começou com o saudoso e criativo roteirista GARDNER FOX que, por ser muito antenado às notícias e evoluções de teorias físicas e científicas, se baseou no então novo e revolucionário conceito trazido pela chamada TEORIA DAS CORDAS, que postulava de forma geral, entre várias outras, a possibilidade da existência de várias dimensões coexistindo simultaneamente mas em frequências vibratórias distintas entre si. Dessa forma, em 1961, na edição #123 do título THE FLASH, GARDNER FOX promove o encontro do FLASH BARRY ALLEN (criado em 1956) com o FLASH da Era de Ouro JAY GARRICK (aqui no Brasil conhecido por muito tempo como JOEL CICLONE), criado em 1940, quando Allen inadvertidamente rompe a barreira vibracional que separa seu mundo do de sua contraparte mais velha. Nessa Terra paralela não apenas Jay Garrick estava aposentado como também todos os demais integrantes da chamada SOCIEDADE DA JUSTIÇA tinham encerrado suas atividades vinte anos antes daquele momento.
Editorialmente falando, essa iniciativa nada mais era do que um reaproveitamento de heróis que, de certa forma, haviam caído no esquecimento quando da reformulação promovida por JULIUS SCHWARTZ em 1956 com o relançamento do então NOVO FLASH Barry Allen na seminal SHOWCASE #4, cuja semelhança com o herói da Era de Ouro era só o nome, uma vez que o uniforme, a origem e até mesmo a identidade secreta eram diferentes. Dessa forma, Gardner Fox reapresentou um herói até então desconhecido (para os novos leitores do começo da década de 1960) para uma nova legião de fãs que ficaram completamente extasiados com aquela aventura entre os dois FLASHES, e passaram a demandar outro encontro, e depois outro e por aí foi (esses encontros foram compilados no Brasil na edição FLASH DE DOIS MUNDOS da Editora Panini Comics, de 2022). Isso reacendeu o interesse pelos antigos heróis e a DC passou a ser inundada por milhares de cartas dos leitores sugerindo novos encontros, que mais heróis da Era de Ouro transpusessem a “barreira vibratória” entre aquela que passou a ser chamada Terra-2 (onde existiam os heróis da Era de Ouro) para a denominada Terra-1 (o planeta dos heróis da “atualidade”, a Terra “principal” por assim dizer). Dessa forma, depois de vários meses de incerteza, Schwartz e Fox atenderam aos pedidos e fizeram velho e novo dividirem espaço outra vez numa trama em duas partes, originalmente publicadas em JUSTICE LEAGUE OF AMERICA #21-22, de 1963, com ilustrações de MIKE SEKOWSKI (lápis) e BERNARD SACHS (arte-final). A edição #21 traz a história CRISE NA TERRA-1, na qual uma trinca de vilões da Terra-1 (planeta da Liga da Justiça) conhece outro trio de malfeitores da Terra-2 (planeta da Sociedade da Justiça), história que, a despeito de sua aparente simplicidade, estabelece um verdadeiro marco nas HQs mainstream que teria seu apogeu pouco mais de duas décadas depois. Mas não nos adiantemos. Na edição #22, com o título chamado CRISE NA TERRA-2, os vilões das Terras 1 e 2 trocam de lugar e começam a gastar a fortuna proveniente de seus saques no planeta em que não são conhecidos. No entanto, como não conseguem superar a própria ganância, os vilões começam a realizar novos roubos nos respectivos planetas trocados, enquanto os Lanternas Verdes Alan Scott e Hal Jordan tentam libertar seus companheiros para deter os trios vilanescos. O resultado desse primeiro encontro não poderia ser outro senão um grande sucesso da Editora das Lendas, de modo que, nos anos que se seguiram, esses eventos ocorreriam praticamente de forma anual, geralmente a cada verão, para felicidade dos leitores. Assim sendo, em JUSTICE LEAGUE OF AMERICA #29, a equipe criativa composta por GARDNER FOX (roteiro), MIKE SEKOWSKI e BERNARD SACHS (arte) presenteia o público com a história chamada CRISE NA TERRA-3, na qual a Liga e a Sociedade da Justiça se unem num confronto titânico contra os vilões mais cruéis e poderosos da Terra-3, o famigerado SINDICATO DO CRIME DA AMÉRICA, uma versão maligna da LJA, que faz aqui sua primeira aparição e que depois se mostrou uma das melhores e mais intrigantes criações da DC Comics. Na edição seguinte, depois de ser derrotada em função de uma artimanha do CORUJA (o equivalente do Batman no Sindicato) a Liga da Justiça só pode contar com a Sociedade da Justiça para ajudá-los a derrotar o Sindicato do Crime da América. Na história UMA TERRA SEM LIGA DA JUSTIÇA, publicada em JLA #37, em 1965, Johnny Trovoada, antigo integrante da Sociedade da Justiça, decide conhecer sua contraparte na Terra-1, que na verdade não passa de um gângster fracassado. Mas ao enganar o herói da Sociedade, o Trovoada da Terra-1 toma o lugar do atrapalhado justiceiro da Terra-2 e se apodera do gênio mágico de Trovoada. Dessa forma, decide exterminar os heróis da Terra-1 viajando no tempo e alterando os eventos essenciais que os criaram, colocando seus capangas no lugar dos heróis, gerando assim um planeta que JAMAIS conheceu os heróis que originalmente compunham a Liga da Justiça, a TERRA-A. Em JLA #38, intitulada CRISE NA TERRA-A, os heróis da Sociedade da Justiça, na Terra-2, se empenham em salvar seus amigos da Liga ao tentar restabelecer a realidade da Terra-1 que todos conhecemos.

Nas edições #46-47, Liga e Sociedade da Justiça se unem mais uma vez para enfrentar uma ameaça sem precedentes proveniente da ruptura do tecido dimensional que separa os dois universos , ocasionando a iminente colisão das Terras 1 e 2, com o Espectro despendendo todos os esforços possíveis para evitar esse choque catastrófico.
Todas as histórias mencionadas foram publicadas pela Editora Panini Comics no encadernado CRISE NAS MÚLTIPLAS TERRAS, em 2008, e ainda que padeçam de algumas soluções simplórias e forçadas em alguns momentos, servem como um excelente ponto de partida para o conceito do Multiverso, além de serem histórias divertidas, empolgantes e deliciosas de se ler. Alguns anos depois, surgiu a TERRA-S, a Terra do Capitão Marvel – hoje denominado SHAZAM – depois que a DC, em 1972, se apropriou do personagem originalmente criado na FAWCETT COMICS por Bill Parker e C. C. Beck em 1940. Maiores detalhes dessa Terra podem ser vistos na recém-republicada edição de GRANDES TESOUROS DC – SUPERMAN VERSUS SHAZAM: QUANDO AS TERRAS SE CHOCAM, da Panini Comics. Alguns outros heróis de outras editoras menores também foram sendo incorporados no multiverso da DC Comics, e ao fim e ao cabo, a continuidade da Editora das Lendas foi se tornando um emaranhado confuso, complexo e difícil de se acompanhar, e aquilo que havia sido uma excelente ideia na década de 1960 acabou culminando no desinteresse de uma legião de fãs que desistiram de adquirir várias séries da editora, um problema que só poderia ser resolvido com uma proposta extremamente audaciosa, partindo de uma ideia que levou ANOS para ser completamente desenvolvida, com um escopo até então jamais visto nas HQs mainstream: CRISE NAS INFINITAS TERRAS, a incrível maxissérie que completou 40 anos de publicação, sobre a qual teremos o privilégio de discorrer… numa próxima oportunidade. 😉
Estejam aqui para celebrar conosco esse verdadeiro marco das HQs mainstream.

Vida longa e próspera e até a próxima!🖖🏻

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