Adilson Carvalho

Diego dos Anjos é diretor, roteirista e editor com especial interesse em histórias emocionais, sensíveis e lúdicas. Formado em Cinema pela Universidade Federal Fluminense e em Publicidade pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com especialização em roteiro pela PUC-Rio e ESPM-RJ, seus filmes já foram selecionados para mais de 90 festivais nacionais e internacionais, conquistando um total de 44 prêmios. Na área corporativa, já dirigiu diversos filmes institucionais e publicitários para empresas como Coca-Cola, Petrobrás, L’Oréal, Unimed, Magazine Luiza, TIM, Itaú, entre outras. Terminando as filmagens de seu último trabalho, o curta O Trilho e a Esfera – que ainda não tem data de estreia prevista – Diego fala um pouco sobre sua vida e carreira:
Adilson : O que movimenta você como criador de histórias?
Diego: comecei na área trabalhando como cinegrafista de estagiário, que eu era, de jornalismo, na UFRJ. Eu sou formado em cinema, na verdade, pela UF, mas também fiz publicidade na UFRJ. E na época na UFRJ, quando eu estava na UFRJ, antes de eu concluir cinema, eu comecei a trabalhar como cinegrafista, estagiário lá do núcleo de comunicação, fazendo pequenas reportagens do próprio dia-a-dia da UFRJ. Lá mesmo nesse núcleo eu comecei também a editar as reportagens que eu ou os colegas filmávamos. Então eu comecei trabalhando com isso, como cinegrafista e editor. E na UFRJ, durante o curso de cinema, é que eu comecei a dirigir, realmente que já era o meu desejo, sempre foi o meu desejo desde sempre. Eu sou apaixonado por cinema desde criança. Eu tenho um marco, vamos dizer assim, que eu considero que foi quando a ficha caiu para mim, que era com isso que eu queria trabalhar o resto da vida. Quando eu assisti a Jurassic Park – Parque dos Dinossauros, no cinema, eu tinha nove anos, minha tia que me levou, minha tia Deysa. E quando surgiram aqueles dinossauros na tela, e a emoção que os próprios personagens estavam sentindo, aquilo me conquistou de uma maneira que mudou minha vida e é o que, vamos dizer assim, me traz aqui até hoje. Então veio dessa fascinação de criança e aí foi ao longo do tempo com o meu próprio amadurecimento e depois com o que eu fui aprendendo na faculdade de cinema e com o meu próprio autodidatismo, vamos dizer assim, fui amadurecendo para outros tipos de cinematografia e para o que eu enxergo como o que é o cinema hoje. E a partir daí veio essa paixão, então desde criança eu já sabia que é isso que eu quero fazer e aí como se faz isso, quem faz o quê e tal, aí eu fui descobrindo, existe o roteirista, existe o diretor, existe o ator, porque no início muito se confundia, eu quero fazer filme, mas eu não quero aparecer no filme, eu quero eu fazer o filme, que é quem está atrás das câmeras inventando aquela história e contando a história.

Adilson: Quem foi sua referência no momento de seu início em sua carreira ?
Diego: Então eu consumi muito cinema americano, por conta do Jurassic Park, a minha primeira referência foi o Spielberg, então eu me tornei inclusive fã, porque eu comecei a reconhecer que aquele nome que estava no Jurassic Park, que aparecia quando acabava o filme, se repetia nos demais filmes que eu comecei a gostar e consumir, então quando eu via De Volta para o Futuro, quando eu via o Indiana Jones, o E.T., eu comecei a ver que aquele nome estava sempre ali. Sou fã até hoje do Spielberg, Tinha uma revista na época, você deve conhecer, que era a SET, eu fui assinante dela, e aí eu comecei a ter outras referências, por mais que ainda fosse muito cinema americano, mas através da SET comecei a conhecer outro tipo de cinema americano, então aí comecei a ter contato com filmes do Stanley Kubrick, filmes ali dos anos 1970, 1960, filmes clássicos, fui descobrindo e vendo quem era o Orson Welles, quem era John Ford, quem era Sérgio Leone, diretores assim que foram, então a partir daí eu fui expandindo meu conhecimento de cinema, um pouco cinema de fora também, eu me lembro que nessa época eu já comecei a conhecer o Almodovar, ele estava lançando tudo sobre minha mãe, tudo isso antes de entrar na faculdade de cinema, e eu me lembro inclusive que esses filmes eu já cheguei aí no cinema para ver, então já estava começando a ter uma visão mais expandida, e entrando na faculdade de cinema em 2003, é que eu começo a ter uma maior consciência do que cada um faz, dessa função, a função de cada papel na construção dessa obra coletiva, que é um filme.
Adilson: E sua vida como roteirista ? Como surgiu a primeira oportunidade ?
Diego : Teve um professor na UFU, Tonico Amâncio, ele foi meu orientador, e ele foi a minha primeira aula de roteiro, foi a primeira aula que eu assisti, quando ele mostrou para a gente um exemplo de narrativa clássica, que foi Crepúsculo dos Deuses, e na semana seguinte ele pegou e falou, agora eu vou mostrar para vocês um exemplo que não é clássico, e aí ele mostrou para a gente a Lira do Delírio, do Walter Lima Jr., que é um completo oposto de construção narrativa, e isso foi uma abertura de mente muito grande, porque eu comecei a ver que existia, como eu falei, eu vinha de muito cinema americano, e eu estava descobrindo já o cinema clássico, Kubrick, Almodóvar e tal, mas ainda assim eles seguem um padrão de narrativa tradicional, narrativa clássica, e conforme eu entrei na faculdade de cinema eu descobri que tem coisas muito mais amplas do que isso. E algum tempo depois, acabou que o meu roteiro foi um dos escolhidos pela banca de professores e se tornou o meu primeiro filme, meu primeiro curta-metragem chamado O Teste.
Adilson: Como você se sentiu na ocasião ?
Diego : Eu me lembro que quando, na aula que eles deram a notícia e tal, o seu filme, o seu roteiro foi escolhido e tal, agora temos esse semestre para produzir, o semestre que vem para editar, para ele ficar pronto, e eu me lembro que isso é uma sensação que eu tenho até hoje, todas as vezes que a gente chega assim, não, vamos iniciar, vamos fazer o filme, tem a euforia de que eu vou, opa, ganhei no caso desse aí, ganhei esse, meu roteiro foi selecionado, vou fazer um filme, rola uma euforia enorme, seguida por absoluto desespero, que é tipo assim, meu Deus, eu tenho que fazer um filme, e assim, e agora, como é que eu faço isso? E isso até hoje, porque cada filme é diferente, rola esse mesmo desespero.

Adilson: Como é assumir as funções de um roteirista e de diretor em uma produção ? Como elas convergem na arte cinematográfica ?
Diego: Nos últimos filmes que eu dirigi, O Trilho e a Esfera e o Esta Noite Seremos Felizes, que eu fui co-roteirista nos dois, eu meio que separei, na minha cabeça, as duas funções. Por enquanto eu sou só roteirista, não quero nem saber como é que esse filme vai ser filmado, como é que eu vou interpretar isso, por enquanto é a história, o que acontece depois dessa cena, como é que acaba, o que é que tem que acontecer no primeiro ato, no segundo ato, pensando assim. Uma vez que a gente finalizou o roteiro, e aí veio a notícia, agora conseguimos a verba, vamos fazer. Aí eu virei a chave e falei, agora eu sou diretor. E aí eu passei a pegar o texto que eu tinha escrito junto e falei, agora o que esse texto quer dizer? Nesses dois filmes últimos eu evitei pensar nisso enquanto escrevia, porque eu não quis que se interferisse na maneira como a história, eu quis que a história seguisse de uma forma mais natural, onde a própria história vai, antes de começar a analisá-la. Porque pra mim o trabalho de direção, eu defini assim, pouco tempo atrás, numa oficina que eu dei, o trabalho de direção é uma interpretação de texto. A direção é a interpretação de texto. Porque é você olhar para aquela história, para aquele roteiro, para aquela mensagem que precisa ser dita, e entender o que você quer dizer com isso. Essa história, o que ela está querendo comunicar ao mundo. A partir daí, entendendo isso, a gente tem um norte. E o trabalho da direção, que é quem está comandando, quem está no volante ali, é justamente garantir que o veículo, o trem, fique indo naquela direção, naquele norte. O norte, pra mim, passou a ser muito definido por isso, essa história quer dizer isso. Isso é um trabalho da interpretação da história. Então, a partir desse momento foi aí que eu comecei a dividir o que é direção e o que é roteiro. Roteiro, pra mim, sou eu estou criando a história. Estou preocupado no como é que o personagem vai se livrar de tal situação. Depois disso, quando vira para a direção, é que eu passo a olhar para aquilo lá e falar, esse personagem fez isso, isso e isso, porque ele sofreu isso e terminou assim.
Adilson: Como surgiu a ideia do curta Esta Noite Seremos Felizes ?
Diego: Olha, o Esta Noite Seremos Felizes, ele surge de uma ideia minha, né? Eu tive a ideia do conceito principal da história lá do casal de idosos, né? Tudo o que acontece. Há muito tempo. Eu não me lembro exatamente quando essa ideia surgiu na minha cabeça. Mas eu… Essa história ficou guardada na minha cabeça durante muito tempo. Não dei a ela prioridade. Eu estava fazendo outros filmes, outros projetos na época e tal. Mas sempre foi uma história que me… É assim, foi bom. Eu quero fazer algum dia, mas… Até que eu contei essa história pra uma produtora, né? Uma amiga minha. Elvira Rocha, que foi a produtora do meu terceiro filme, Flores. E ela me perguntou assim, qual é o próximo? O que mais você tem aí pra fazer? E eu contei essa história pra ela. Do casal de idosos que se encontra toda semana no baile da terceira idade. E ela se encantou na hora e falou assim, para tudo que você está fazendo. E vamos fazer essa história. E aí ela me botou em contato com o Daniel Freire. Que é o roteirista do filme Junto Comigo. Que hoje é um grande amigo. E a gente tem outros projetos que a gente está desenvolvendo juntos. E nós começamos a escrever o roteiro. Ele é um excelente roteirista. Então, 70% ou mais do roteiro é dele. Ele escreveu o grosso do roteiro. Aí trocava comigo. Aí eu fazia sugestões, alterava umas cenas ou perguntava. A gente foi fazendo assim. Até que tem o roteiro do filme. Como é uma história que trata sobre idosos. Os personagens têm 80 anos. E no filme eles foram interpretados por atores. O Othon Bastos, a Bette Mendes e com o Roberto Frota. Vai ser para sempre uma das grandes experiências da minha vida. Eles são também atores já idosos, e uma coisa que eu nunca quis com esse filme. Era que a gente pegasse atores de meia idade. E caracterizasse como pessoas mais velhas. De forma alguma. Porque justamente o que me atraia nessa história. Era a possibilidade de… Trabalhar personagens idosos. Apresentar personagens idosos. Como personagens… É uma história de amor. Então, personagens se apaixonando. Vivendo aquele amor. Completamente por conta própria. Vivendo seus desejos. Sendo felizes. E a gente… Vivemos em uma sociedade ainda. Que considera os idosos como… Uma parcela da população. Vamos dizer assim. Fora.Fora de um certo padrão. A sociedade torna as pessoas de uma idade avançada… Desprezíveis. A sociedade faz isso. A gente tem discutido muito sobre isso. O etarismo nas artes. E constantemente grandes atores do passado comentam. Que existe pouco espaço em produções audiovisuais. Para atores de 60 anos para cima. Mas a gente está vivendo talvez um momento desvirado aí.