Adilson Carvalho

Hoje comemoramos o dia internacional do livro infantil, e vamos aproveitar a proximidade da Páscoa para lembrar de A Fantástica Fábrica de Chocolate, do autor americano Road Dhal, que poucos sabem se inspirou em um fato real para criar a história de Charlie e Willy Wonka. Por volta dos treze anos, Dahl estudava na Repton School, em Derbyshire, que costumava receber caixas de chocolate da tradicional fábrica Cadbury para que os jovens provassem os produtos antes de sua comercialização. Em retribuição, a Cadbury dava a Dahl e os demais presentes, os deliciosos produtos da empresa. Dhal, inclusive, sonhava em inventar uma nova barra de chocolate que chamasse a atenção da empresa fundada por John Cadbury no final do século XIX. O episodio foi a inspiração anos mais tarde para que Dahl escrevesse a história de A Fantástica Fábrica de Chocolate: Nela, o menino Charlie Bucket é sorteado junto a quatro outras crianças, com o bilhete dourado que os levará a um passeio pela fábrica do recluso chocolateiro Willy Wonka.

As coincidências entre a Cadbury e o livro de Dahl são várias: Em 14 de Agosto de 1990, a Cadbury inaugurou um parque temático em Bourneville, no Reino Unido, próximo à fábrica e que atrai milhares de visitantes. O local parece o cenário da história de Dahl com brinquedos e atrações que fazem o visitante se sentir um lugar mágico com rios, cascatas e montanhas. Além disso, o logotipo das barras de chocolate carregam a assinatura estilizada de William Cadbury, lembrando o nome Wonka retratado nas adaptações do livro para o cinema. A diversidade de produtos Wonka reflete na ficção a variedade da Cadbury com chocolate ao leite em barra (surgido em 1905), chocolate ao leite com flocos de arroz, com caramelo, biscoito wafer e uma infinidade de outros que faz da Cadbury a marca preferida dos ingleses e, mundialmente, uma das maiores concorrentes de nomes como a Nestlé, Hershey ou a Ferrero Rocher.
Na história de Dahl, cada criança personifica um aspecto moralizante da educação infantil: Augustus Gloop é o guloso, Veruca Salt a menina mimada, Violet Beauregard a menina fútil e competitiva e Mike Tevee o viciado em televisão. A medida que os quatro são eliminados pelas falhas advindas de sua má criação, os Oompa Loopas, o povo diminuto que trabalha na fábrica, cantarola cantigas moralizantes que transmitem os pensamentos de seu autor, que sempre se preocupou em contar histórias que tivessem um efeito positivo sobre as mentes jovens. Sua narrativa é simples em seu desenrolar e consegue criar um forma de entretenimento educativo. Tal mensagem atinge o público leitor de faixas etárias bem distintas, tanto crianças como adultos se encantam com a mensagem de que a sorte favorece aquele que é humilde. Charlie vence a competição sem saber que o grande prêmio ao final seria se tornar o herdeiro do excêntrico Wonka, e ainda lhe ensina que o valor real da vida não é o dinheiro mas o amor de uma família. Dahl fez de Charlie a personificação de sua visão de mundo em que a recompensa vem para quem é puro de coração. Ferrenho crítico da televisão, o autor escreveu um poema apontando o perigo de ser criado de frente para um aparelho de TV, posição essa que espelhou através do personagem de Mike Tevee. Quando o livro publicado pela primeira vez, no entanto, os editores ficaram preocupados com a descrição dos Oompa Loompas, que segundo as palavras do autor seriam pigmeus com a cor de pele escura. Vivia-se na época a época dos conflitos com os direitos civis e a editora temia que isso atraísse acusações de racismo, levando o autor a mudar a descrição dos Oompa Loopmas a partir da segunda edição. A Fantástica Fábrica de Chocolate foi publicado pela primeira vez em 1964, e 8 anos depois Dhal publicou a sequência Charlie & O Elevador de Vidro” (Charlie & The Great Glass Elevator) de 1972. Dhal era um escritor dedicado às crianças, acreditava que a dimensão imaginativa de um livro superava qualquer atração de TV. Editado pela Martin Fontes, o livro de Dhal mantem sua aura de magia atravessando gerações, e crianças dos 8 aos 80.