HQ TERRITORIO NEUTRO | O PODER DE SHAZAM : 30 ANOS DA REINVENÇÃO DE JERRY ORDWAY

Adilson Carvalho

Quando foi criado por C.C. Beck e Bill Parker nas páginas de Whiz Comics, da Fawcett Comics, datado de fevereiro de 1940, o personagem inicialmente chamado de Capitão Marvel foi injustamente acusado de plágio do Superman. Ironia do destino que nos anos 70, a própria DC Comics veio a licenciar as hqs do herói e inserí-lo em uma das terras do multiverso da DC comics. Depois do evento Crise nas Infinitas Terras (1985), a DC adquiriu os direitos do herói renovando sua história. Desde os anos 70, como a editora Marvel possuía os direitos do nome Capitão Marvel, a DC podia usar esse nome no interior das histórias, mas não no título da revista. A DC demorou para investir no herói de C. C. Beck, embora tenha tido uma iniciativa em 1988 com a edição Shazam: A New Beginning, de Roy Thomas e Tom Mandrake, que ignorou a família Marvel e acabou não seguindo adiante. Tudo mudou quando Peter Krause e Jerry Ordway se uniram para reformular o herói â luz da modernidade na graphic novel The Power of Shazam !

Nela os pais de Billy Batson, ambos arqueólogos de dez anos, estão trabalhando no Egito, escavando a tumba de Ramsés II com seu sócio Theo Adam. Ao assassinar os Batsons mais velhos, Adam também sequestra sua filha Mary e rouba um colar de escaravelho que estava preso a um dos sarcófagos da tumba. Billy foi deixado para trás em casa, na cidade de Fawcett, por causa das notas baixas na escola. Como na história de origem da Fawcett Comics da Whiz Comics # 2 (1940), Billy é abandonado por seu cruel tio Ebenezer e se torna um entregador de jornais para ganhar a vida. Uma noite, Billy encontra um estranho de roupas escuras do lado de fora de um túnel do metrô e o segue até um vagão mágico. O vagão do metrô leva Billy ao reino do Mago Shazam, que designa o garoto como seu sucessor. Ao falar o nome de Shazam, Billy é atingido por um raio mágico e se transforma no Capitão Marvel, um super-herói adulto. Como Capitão Marvel, Billy frustra um plano de Theo Adam e seu empregador, o rico magnata Doutor Sivana, para destruir o prédio da rádio WHIZ e silenciar uma testemunha dos assassinatos de Adam. Os encontros de Adam com Marvel, que é a “imagem exata de C.C. Batson”, juntamente com as pistas da expedição, levam-no a perceber que ele é a reencarnação de Teth-Adam, o herdeiro original do poder do mago Shazam. Ao cruzar o Mago, Teth-Adam foi morto e seus poderes foram atraídos para um escaravelho, o mesmo escaravelho que Adam roubou da tumba depois de matar os Batsons. Pegando o escaravelho da sala de troféus de Sivana, Adão diz o nome do Mago e é atingido por um raio mágico, tornando-se Adão Negro. Adão e o Capitão Marvel lutam um contra o outro no terreno da Feira Mundial Fawcett, financiada por Sivana, e a Marvel vence a batalha ao arrancar o escaravelho de Adão. A Marvel leva Adam para o Mago, que tira a voz de Adam e apaga sua memória. Mais tarde, Billy descobre que o estranho que o levou até o Mago era o espírito de seu pai e que sua irmã Mary ainda está viva. Billy promete, como Capitão Marvel, lutar contra a injustiça e o mal e também encontrar sua irmã desaparecida. Enquanto isso, Sivana perdeu todo o seu dinheiro e suas posses devido à destruição de suas propriedades por Marvel e Adam, e jura vingança contra o Capitão.

Em março de 1995 a revista mensal The Power of Shazam começou a circular como consequência do sucesso da graphic novel de Ordway, que chegou a ganhar o prêmio Comics Buyer’s Guide Fan Award de Álbum Gráfico Original Favorito de 1994. Ordway e Krause reintroduziram muitos dos personagens da Fawcett Comics na continuidade atual da DC, incluindo Mary Bromfield/Mary Marvel, Freddy Freeman/Capitão Marvel Jr., Beautia Sivana, Mister Tawky Tawny, Bulletman, Minute-Man, Spy Smasher, Ibis e Taia, e até mesmo Hoppy, o Coelho Marvel. Os vilões reencarnados na série incluíam Ibac, Senhor Cérebro, Mister Atom, Tia Minerva além de Blaze e Satanus dos títulos do Superman, que foram reconvertidos em filhos ilegítimos do mago Shazam com uma demônia (nome desconhecido). Mary Marvel foi apresentada como adulta, e não em sua forma tradicional de adolescente, e insistiu em compartilhar o nome Capitão Marvel com seu irmão. Capitão Marvel Jr., ressentido por ser chamado de “Júnior” o tempo todo e precisando de um nome que pudesse dizer sem invocar o relâmpago mágico (sua palavra mágica era Capitão Marvel), passou a se chamar CM3. Jerry Ordway escreveu todas as histórias da série e do Anual, e também pintou as capas no estilo da graphic novel. Peter Krause, Mike Manley, Dick Giordano e o próprio Ordway foram os principais artistas da série.

Embora a série tenha recebido boas críticas e tenha contado com a participação de ícones dos quadrinhos, como Curt Swan e Gil Kane, as vendas da série que era inspirada nas histórias da Era de Ouro diminuíram com o passar do tempo, já que na época destoavam muito das histórias mais sombrias e intensas que tomaram as hqs do período, e que se tornaram extremamente populares na década de 1990, eclipsando as aventuras mais leves da Família Marvel. O titulo foi cancelado com a edição # 47 em março de 1999, com mais uma edição especial presa ao evento DC One Million, e ainda uma edição anual . No Brasil, esse material só foi lançado até a edição 12 do título mensal Shazam, da editora Brasil, que implodiu a continuidade das histórias, deixando uma lacuna para os fãs do herói, que seria reformulado mais uma vez por Geoff Johns e Gary Frank com o advento dos Novos 52 (2011), e o nome do herói deixou de ser definitivamente Capitão Marvel, sendo agora apenas Shazam, o nome do mago que é um anagrama da sabedoria de Salomão, da força de Hercules, do vigor de Atlas, do poder de Zeus, da coragem de Aquiles e da velocidade de Mercúrio. Diga a palavra mágica e sinta seu poder é o que os fãs gostam de imaginar ao lerem as aventuras do herói.

Deixe um comentário