NA TELA DA MAX | SUPERMAN III

por Sérgio Cortêz

Direção: Richard Lester. Elenco Principal: Christopher Reeve, Richard Pryor, Robert Vaughn, Annette O’Toole, Annie Ross, Pamela Stephenson e Margot Kidder. O Homem de Aço (Reeve) precisa enfrentar um supercomputador desenvolvido pelo gênio da informática Gus Gormon (Pryor), cuja ascensão meteórica no setor high-tech fora financiada pelo inescrupuloso empresário Ross Webster (Vaughn), um homem com planos para dominar o mundo. Nesse ínterim, Superman acaba sendo exposto à radiação de uma kryptonita sintética – verdadeira gambiarra desenvolvida por Gormon, que não chega a ameaçar a vida do herói, mas que expõe seu lado mais sombrio, transformando-o num perigo iminente para o mundo.

Muita gente torce o nariz para “Superman III”, talvez por não conseguir entender a profundidade do roteiro dos irmãos David e Leslie Newman. Evidentemente o filme não é melhor que o espetacular “Superman”, produzido em 1978 – mas é superior (inclusive em relação aos efeitos especiais) ao seu antecessor, “Superman II – A Aventura Continua” (1980). Já “Superman III” só não leva um emoji “muito bom” por dois motivos: seu início rocambolesco (a película já tinha Richard Pryor no elenco e, portanto, não precisava daquele prólogo “metido a engraçadinho” que mais parece uma sátira da revista MAD), e pelo flerte entre Clark Kent (Reeve) e sua antiga crush de Smallville, Lana Lang (O’Toole), um mega clichê pra lá de provinciano. Superadas as (in) disposições iniciais, o filme constrói-se por um viés psicológico/filosófico que vai além da aventura em si e para um observador mais atento, a saber:

– A luta entre o lado selvagem e o pragmático, o Id versus o Ego, o Yin Yang personificado pelo confronto feroz entre Superman e Clark Kent, alimentado por uma irracionalidade semelhante àquela que leva a forma obscura do herói a possuir a sensual Lolerei Ambrosia (Stephenson), cegando-lho em relação a seus sentimentos tanto por Lana Lang quanto por Lois Lane (Kidder);
– A dicotomia entre criador e criatura a partir do instante em que Gus Gormon e Ross Webster perdem o controle sobre o supercomputador, que passa a seguir suas próprias vontades e parte para o duelo entre máquina e homem, transformando-se assim num inimigo comum a todos;
– A dramática robotização de Vera Webster (Annie Ross) realizada de forma cruel pelo supercomputador, que nos instiga a refletir sobre o risco que corremos quando optamos por ignorar o Imperativo Categórico kantiano, atitude que nos macula o superego e que pode nos trazer resultados desastrosos, como o que acontece à rabugenta Vera Webster.
– Partindo dessa premissa, podemos traçar um paralelo entre a robotização de Vera e a relação entre ser humano e máquina observada nos dias de hoje, quando smartphones assumem o papel de verdadeiros “hipnólogos de última geração”, cobiçados em progressão geométrica a cada novo lançamento, não raro por uma motivação quase infantil suscitada pela mera necessidade de ostentação.

Diante de tais ponderações, a soma de todas as partes faz de “Superman III” um bom entretenimento, capaz de fomentar o debate sobre estas questões, desde que o expectador esteja disposto a assistir o filme para explorar suas nuances, ao invés de apenas compará-lo ao primeiro filme do herói, lançado cinco anos antes.

Deixe um comentário