Adilson Carvalho

O marketing da animação O Rei dos Reis ostenta o fato de ser o primeiro longa-metragem de animação bíblica lançado nos cinemas desde O príncipe do Egito, de 1998. Mas mencionar a obra-prima da DreamWorks ao mesmo tempo em que o mais recente lançamento da produção Koreana do Angel Studio parece inadequada. Os criadores de O Som da Liberdade (2023) se dedicam a produções animadas familiares ao distribuir a adaptação livre do diretor Jang Seong-ho de The Life of Our Lord, de Charles Dickens, que o autor do século XIX escreveu para seus filhos. Para apaziguar seu filho mais novo, Walter (Roman Griffin Davis), um garoto indisciplinado e obcecado pelo Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda (um mito, por sua vez, derivado da história de Jesus e seus apóstolos), Dickens (Kenneth Branagh) conta a história do único rei verdadeiro que não precisava de uma espada para comandar um grupo de fiéis leais: Jesus Cristo. Enquanto Dickens analisa cada um dos milagres de Jesus e outros momentos cruciais antes de sua morte horrível, o jovem Walter entra nas passagens bíblicas como uma figura invisível, observando de fora e se encantando com os contos. Embora haja muitos efeitos de animação na forma de tempestades, rajadas de vento diabólicas e chuva torrencial, há pouca personalidade estética em O Rei dos Reis. Os personagens humanos, visivelmente anglo-saxões, se assemelham ao design genérico visto com frequência em filmes de computação gráfica de baixa qualidade produzidos no exterior: cabeças grandes com pele imaculada e traços faciais pronunciados. Como a maioria dos outros filmes baseados na fé, as mensagens precedem o entretenimento ou o valor artístico. E essa é uma das principais razões pelas quais comparar O Rei dos Reis a algo tão vibrante, envolvente e potente (tanto visual quanto emocionalmente) como O Príncipe do Egito parece insensato. Não é que se espere um humor amplo e risonho em uma história da Bíblia, mas o peso da mão sobrecarrega o filme.