Adilson Carvalho

Uma longa carreira marcada por papeis diversos que pontuaram sua versatilidade: gigolô, jornalista, prisioneiro de guerra, escritor, e tantos mais. Ainda assim sua carreira foi de altos e baixos deixando seu nome entre os grandes atores de uma Hollywood : William Holden … que teria completado 107 anos na última quinta (17/04) e hoje celebramos sua vida e filmes.

O primeiro filme estrelado por William Holden a que assisti foi Suplicio de Uma Saudade (Love is a Many Splendored Thing) de 1955, ícone do romantismo cinquentista no qual Holden interpreta o jornalista Mark Elliiot cobrindo a Guerra da Coreia de Hong Kong, onde conhece e se apaixona pela médica eurasiana Suyin (Jennifer Jones). Além do obstáculo do avanço comunista na China como pano de fundo, o casal sofre com a natureza adultera de seu romance, já que Mark é casado, o que desperta a ira da sociedade e de sua família que não aprova o relacionamento. O casal Holden – Jones fotografado em meio ao esplendor de Hong Kong alimentou os sonhos amorosos ao som da canção-título gravada pelo grupo Four Aces, e que foi premiada com o Oscar. O astro já tinha 37 anos na época, era seu 40º trabalho no cinema iniciado em 1938 com dois papeis não creditados. Nascido William Franklin Beedle Jr, em 17 de Abril de 1918, em Illinois, Estados Unidos, filho de um químico e uma professora de inglês. Seu nome artístico lhe foi dado por Harold Winston, diretor assistente na Columbia, que lhe rebatizou com o sobrenome de sua ex esposa, Gloria Holden. Bill havia sido escalado para o papel central em Conflito de Duas Almas (Golden Boy) em 1939, contrariando a vontade de Harry Cohn, o chefão da Columbia que queria John Garfield para o papel. Tendo recém completado 21 anos na época, Bill era muito inexperiente e estava a um passo de ser substituído quando a diva Barbara Stanwyck (sua co estrela) começou a ajudar o jovem Holden, ensaiando com ele, encourajando – o e ensinando tudo sobre como atuar frente às câmeras. O resultado foi o nascimento de um astro. Em eterna gratidão, William sempre enviava um buquê de rosas vermelhas à atriz no aniversário de estreia do filme, e a grande dama sempre o chamava de “Meu Golden Boy”.

Com o estrelato assegurado, diversos filmes vieram mas nenhum deles escalando o ator para papeis que representassem um real desafio para seu talento. Em 1941 Bill se casou com a atriz Brenda Marshall com quem teve dois filhos. A carreira ficou de lado quando ele se alistou ficando quatro anos no exército até o fim da Segunda Guerra, alcançando a patente de segundo tenente. Dando baixa, voltou a Hollywood fazendo comédia romântica, faroeste e drama, mas nenhum desses papeis foi à altura do grande ator, atuações menores que não impulsionavam sua carreira. Isso mudou quando em 1950 foi contratado para viver Joe Gills, o roteirista azarado que se torna amante e gigolô de uma atriz envelhecida interpretada por Gloria Swanson no pungente “Crepúsculo dos Deuses” (Sunset Boulevard), obra prima de Billy Wilder, que lhe deu sua primeira indicação ao Oscar. Seu porte atlético, olhos azuis e sorriso sedutor ganhava uma química impressionante com as atrizes com quem contracenava. Gloria Swanson disse certa vez que “Bill Holden era um homem por quem eu poderia me apaixonar. Perfeito dentro ou fora das telas”. Em 1953 a estatueta dourada finalmente foi para suas mãos pelo papel do Sargento J.J. Sefton, um oportunista suspeito de ser um espião dos nazistas em um campo de concentração em “Inferno Nº17 (Stalag 17), adaptação da peça de Donald Bevan e Edmund Trzcinski.

De fato, foi um homem sedutor, mantendo um caso de amor notório com Audrey Hepburn com quem filmou Sabrina (1954), também de Billy Wilder. Os bastidores desta comédia romântica foi bastante conturbado devido ao clima hostil dos bastidores. O astro principal era Humphrey Bogart, que hostilizava Hepburn sendo esta defendida por Holden. Este veio a se separar de sua esposa, mas o fato de ter feito uma vascectomia foi um duro golpe para Audrey que sonhava em ser mãe. O casal se separou em meio à continua ascenção da carreira de ambos. Nessa época, no entanto, Bill começou a beber, vício que seria sua ruína nos anos que se seguiram. O coração partido foi temporariamente preenchido por um envolvimento com a belíssima Grace Kelly com quem Bill atuou por duas vezes em As Pontes de Toko Ri (The Bridges of Toko Ri) e Amar é sofrer (The Country Girl) de 1954. Sua popularidade alcançou grande dimensão nos anos 50, época em que a Tv surgia com força e rivalizava com o cinema. William Holden apareceu como ele próprio em um dos episódios de “I Love Lucy”, um dos programas de maior receptividade diante do público. Mulheres e álcool eram uma combinação compulsiva para o ator então próximo de completar 40 anos.

Um dos pontos altos de sua carreira veio em 1955 quando aceitou o papel de Hal Carter, um jovem amoral que chega a uma típica cidade pequena. Férias de Amor (Picnic) de Joshua Logan foi um marco do cinema e tornou-se um espelho da sociedade americana na era Eike. Como seu personagem deveria ser bem mais jovem, o estúdio pediu que Bill raspasse o peito, mas ainda assim a insegurança o fez resistir a fazer a cena em que dançava sensualmente para Kim Novak, esta então com 22 anos. Para garantir a execução da cena, o estúdio permitiu que Bill bebesse para garantir sua entrega à cena. A década de 50 não terminaria antes de um dos mais emblemáticos papeis de sua carreira, a do militar prisioneiro dos japoneses no épico de David Lean A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the Kwai River) de 1957. Foram 7 Oscars para o filme e uma soma milionária para o ator, que recebera uma percentagem dos lucros. Apesar de ser bem pago por Marcha de Heróis (The Horse Soldiers) o filme naufragou nas bilheterias. Ainda assim teve com ele a oportunidade de trabalhar com dois ícones do faroeste: o diretor John Ford e John Wayne, com quem manteve relacionamento nada amistoso fruto das opiniões politicas divergentes entre o conservador Wayne e o liberal Holden.

Encerrando os anos 50 como um dos atores mais bem pagos de Hollywood, William Holden chegou aos anos 60 com papeis menores, abaixo de seu talento, mas voltou a trabalhar com Audrey Hepburn em Quando Paris Alucina (Paris when it sizzles) de 1964 e ainda trabalhou sob o comando de Sam Peckinpah no faroeste Meu Ódio Será Tua Herança (The Wild Bunch) de 1969. Em sua vida pessoal mudou para Genebra, Suiça com a família e fundou o “Mount Kenya Safari Club” que despertou no ator uma grande paixão pela proteção da vida selvagem, paixão essa que compartilhou com a atriz Stephanie Powers (Casal 20) com quem teve um longo romance. Contudo, se envolveu em grave acidente de trânsito na Itália e decidiu voltar a morar nos Estados Unidos. Nos anos 70 ganhou um Emmy pelo drama de TV O Cavaleiro Azul (The Blue Knight) e atuou em três grandes sucessos: Inferno Na Torre (The Towering Inferno) de 1974, Rede de Intrigas (Network) de 1976 e Damien A Profecia II (Damien The Owen II) de 1978. No primeiro destes se juntou a um elenco estelar em um dos maiores filmes catástrofes de Hollywood.

Seu último filme foi dirigido por Blake Edwards em S.O.B (1981), mergulhando nas causas ambientais que defendia com tanto ardor e, com a ajuda de Stephanie Powers, abrindo a “William Holden Wildlife Foundation”. Infelizmente, o álcool era seu calcanhar de Aquiles e refúgio para suas decepções e frustrações, sendo a razão do fim de seu relacionamento com Stephanie Powers. Sozinho em sua casa, levou um tombo depois de ter bebido muito mas não procurou socorro. Segundo os médicos legistas, se o tivesse feito não teria morrido naquele fatídico dia 15 de novembro de 1981 em que um estupido acidente trouxe o fim a uma carreira admirável, um talento notável e uma vida de realizações. Um grande ator, um grande defensor, um homem sedutor, um garoto dourado.