GALERIA DE ESTRELAS | DUDLEY MOORE

Adilson Carvalho

Uma das lembranças mais divertidas dos filmes que assisti quando criança é a risada histriônica de Mario Jorge Andrade dublando o personagem Arthur Bach, interpretado pelo icônico Dudley Moore, ator, compositor e músico britânico, que nasceu há exatos 90 anos no dia de hoje (19/04). Moore ganhou proeminência na Inglaterra em clubes de comédia na década de 1960, tendo sido um dos quatro criadores e atores do espetáculo Beyond the Fringe, um fenômeno na comédia da época. Com um dos membros da série, Peter Cook, colaborou com a rede BBC na série Not Only… But Also. A dupla trabalhou em vários projetos até a mudança de Moore para os Estados Unidos, onde se concentrou na carreira de ator. Filho de um eletricista de ferrovia e de uma secretária, Dudley Stuart John Moore foi prolífico, talentoso, emotivo e divertido. Seu sucesso contrastou com a infância sofrida, pois Moore era uma criança pequena para sua idade, tendo nascido com o pé torto, o que o levou a diversas cirurgias corretivas e tratamento hospitalar à medida que crescia. Aliado à sua baixa estatura, Moore foi vítima de preconceito na escola constantemente. Seu pé direito foi endireitado quando Moore completou 6 anos, mas seu pé esquerdo ficou permanentemente torcido e, consequentemente, sua perna esquerda abaixo do joelho atrofiou.

Aos 11 anos, ganhou uma bolsa de estudos para estudar harpa, órgão, violino, teoria musical e composição na Guildhall School of Music and Drama. Moore revelou-se um talentoso pianista e organista e tocava órgão de tubo em casamentos aos 14 anos. Sua carreira deslanchou na América a partir do sucesso de Dudley em Golpe Sujo (Foul Play, 1978). Ao lado de Goldie Hawn, Dudley roubou a cena dançando Staying Alive dos Bee Gees para seduzir Goldie, simplesmente impecável. No ano seguinte protagonizou a comédia de Blake Edwards chamada Mulher Nota 10 (Ten, 1979) ao lado de Julie Andrews e Bo Derek. Dudley conquistou então uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator em comédia / musical. Seu maior sucesso, no entanto, veio a ser o papel do mimado e alcóolico Arthur Bach na fabulosa comédia Arthur – O Milionário Sedutor (Arthur, 1980) contracenando com Liza Minelli e Sir John Gieguld. A canção The Best You Can Do, de Christopher Cross, que se tornou automaticamente associada ao ator / personagem rebatizada como Arthur’s Theme. Segundo reza a lenda Dudley Moore baseou sua atuação em parte em Peter Cook, cujo excesso de bebida havia prejudicado a parceria cômica entre ele e Moore na década de 1970. O ator fazia o elenco e a equipe rirem tanto que eram necessárias 27 tomadas para filmar uma cena. Dudley veio a receber aqui a única indicação ao Oscar de sua carreira. Seus dois trabalhos seguintes, contudo, não foram tão bem na bilheteria: O drama Seis Semanas (Six Weeks, 1982) com Mary Tyler Moore e a divertida comédia Infielmente Tua (Unfaithfully Yours, 1984) onde fez o marido excessivamente ciumento da bela Natassja Kinski.

Em sua carreira Dudley recusou papéis icônicos como o Willy Wonka de A Fantástica Fábrica de Chocolate (1971), que ficou com Gene Wilder, o Doc Brown de De Volta Para o Futuro (1985), que ficou com Christopher Lloyd, entre outros. O ator teve outro grande sucesso quando fez um bígamo em Minhas Duas Mulheres (Micki and Maude, 1984) novamente dirigido por Blake Edwards. No filme Dudley precisa evitar que suas duas esposas se encontrem, o que se torna complicado quando ambas ficam grávidas ao mesmo tempo. Foi o próprio Dudley Moore quem recomendou Amy Irving (na época casada com Steven Spielberg) para o papel de Maude. De acordo com a biografia de Barbra Paskin, intitulada Dudley Moore: The Melancholy Clown (2000), Moore “…era um admirador ferrenho da bela atriz com rosto renascentista e, se ela não fosse casada na época com Steven Spielberg, ele a teria perseguido em um romance”.

Em 1987 Dudley teve outro sucesso de bilheteria com Tal Pai.. Tal Filho (Like Father Like Son) onde faz um respeitado cirurgião médico que troca de corpo com seu filho adolescente (Kirk Cameron). Logo, no entanto, teve um fracasso de bilheteria justamente ao voltar ao papel de Arthur Bach em Arthur – O Milionário Arruinado (Arthur On The Rocks, 1988), repetindo a parceria com Liza Minelli. Na época o ator afirmou que preferia esse filme a Arthur, o Milionário Sedutor (1981) porque seu personagem foi forçado a crescer e amadurecer. A década de 90 não trouxe boas escolhas de papeis para Dudley que voltou à TV para estrelar a sitcom Dudley (1993), que só durou 6 episódios. Em abril de 1997, após passar cinco dias em um hospital de Nova York, Moore foi informado de que tinha depósitos de cálcio nos gânglios basais do cérebro e danos irreversíveis no lobo frontal. Ele foi submetido a uma cirurgia de revascularização do miocárdio quádrupla em Londres e também sofreu quatro derrames. Em 30 de setembro de 1999, Moore anunciou que estava sofrendo de paralisia supranuclear progressiva (PSP), uma síndrome de Parkinson-plus, e alguns dos primeiros sintomas eram tão semelhantes à intoxicação que ele foi relatado como estando bêbado,. Em novembro de 1999, Moore fez sua primeira aparição pública desde que revelou sua doença, lendo poesia, ao lado de Julie Andrews, em um concerto beneficente na Filadélfia para a instituição de caridade Music for All Seasons. No início, Moore teve dificuldades, mas logo se adaptou e começou a fazer piadas e a improvisar. Ele foi aplaudido de pé, naquela que seria sua última apresentação. Sua doença progrediria rapidamente, exigindo que ele usasse uma cadeira de rodas. Moore morreu na manhã de 27 de março de 2002 em decorrência de pneumonia, secundária à imobilidade causada pela PSP, em Plainfield, Nova Jersey, aos 66 anos de idade. Rena Fruchter estava segurando sua mão quando ele morreu; ela relatou que suas últimas palavras foram “I can hear the music all around me”. (Posso ouvir a música ao meu redor)

Deixe um comentário