Adilson Carvalho

Cinebiografias são sempre interessantes, abrem uma janela no tempo e no espaço para que conheçamos o ser humano por trás da figura histórica. O filme de Anne Fontaine não é o primeiro do gênero com o qual a diretora francesa nos brinda. Ela também dirigiu Coco Antes de Chanel (2009), mas trocando o mundo da moda pela música, ela mostra sensibilidade para tratar todas as nuances da vida de um talento magistral, o compositor, maestro e pianista Maurice Ravel (1875/1937), vivido de forma notável por Raphael Personnaz. Este consegue imprimir na tela as contradições e conflitos de um gênio que fazia a música brotar de sua alma, mas que se torturava diante dos obstáculos criativos para compor uma obra que tivesse 17 minutos para uma apresentação de balé, e que viria a ser o hoje clássico Bolero. O Roteiro, co-escrito por Anne Fontaine e Claire Barre (E mais colaboradores) faz um recorte temporal nos levando à Paris de 1928 quando Maurice transita pelas noites parisienses, conhece mulheres mas busca não o sexo mas algo que desperte o som, a melodia que Ravel consegue extrair de um gesto aparentemente banal como uma luva sendo ajustada as mãos. O filme nos conduz pela composição da obra musical francesa mais tocada no mundo, que foi encomendada pela bailarina Ida Rubinstein (Jeanne Balibar). A cinematografia de Christophe Beaucarne é exuberante para reproduzir a Paris dos loucos anos 20. Mas é a atuação contida de Personnaz quem transforma o filme em uma obra emotiva na medida certa, e que sabe explorar a fantástica trilha sonora à disposição. A abertura dos créditos iniciais já é um espetáculo com a música título do filme tocada e cantada em vários idiomas, simbolizando o alcance de um artista que fazia da sua música uma extensão de sua alma. Distribuído no Brasil pela Mares filmes, Bolero: Melodia Eterna é uma atraente máquina do tempo capaz de fazer nossa alma dançar.
