Adilson Carvalho

Imaginem poder viajar no tempo e se encontrar com seus pais quando estes eram jovens ? O roteirista Bob Gale teve esse pensamento quando revirava antigas fotos de seu pai, e a partir daí nasceu o esboço de De Volta Para o Futuro (Back to the Future). Na história, o adolescente Marty McFly viaja 30 anos para o passado, de 1985 para 1955, em uma máquina do tempo construída por seu amigo excêntrico o Dr. Emmet Brown. Para voltar ao seu próprio tempo, Marty precisa da ajuda da versão mais jovem do Dr. Brown. Enquanto isso, acaba se envolvendo nos eventos que levaram seus pais a se conhecerem. O problema é que ele pode deixar de existir porque interferiu demais nos eventos e por isso corre o risco de não nascer pois seus pais, Lorraine e George, ainda não se apaixonarem. Para complicar ainda mais a situação, Marty precisa voltar para casa a tempo de salvar o cientista. Gale e seu amigo de longa data, o diretor Robert Zemeckis levaram o roteiro para vários estúdios, e foram rejeitados 44 vezes por todos. Somente depois do sucesso que Zemeckis teve com Tudo Por Uma Esmeralda (Romancing The Stone, 1984) que a produção de De Volta Para o Futuro (Back To The Future) foi adiante graças ao interesse de Steven Spielberg que levou o projeto para os executivos da Universal. O papel de Marty McFly foi pensado desde o início para Michael J. Fox, mas este estava comprometido com as filmagens da sitcom Caras & Caretas (Family Ties). O papel foi passado para Eric Soltz (Anaconda), que fez bem as cenas com skate e se esforçou para tocar guitarra na sequência do baile “Encanto em Alto Mar“, mas teve sérios problemas de entendimento com Thomas F. Wilson, o intérprete do vilão Biff Tannen. Pior ainda foi o clima das gravações pois Eric era um ator do método, e insistia para ser chamado de Marty mesmo fora das gravações, se comportando como se fosse um drama e não uma comédia como pretendido por Gale e Zemeckis. Depois de 5 semanas de filmagem Soltz foi demitido e graças a Spielberg foi possível firmar um acordo com a NBC onde Fox filmava Caras & Caretas pela manhã e tarde, e depois das 6 horas filmava De Volta Para o Futuro até a madrugada.

O verão americano de 1985 transformou Michael J. Fox, então aos 23 anos, em um astro, embalado pela fabulosa trilha sonora que inclui a canção The Power Of Love, de Huey Lewis. Robert Zemeckis e Bob Gale pediram a Huey Lewis que escrevesse uma música para o filme. Entretanto, os dois Bobs não ficaram entusiasmados com a primeira música que Huey lhes apresentou. Depois de explicar o que eles esperavam, Huey voltou com The Power of Love. Disseram-lhe então que precisavam de mais uma música e, ao assistir a um trecho do filme, Huey teve a inspiração para Back in Time. Outra mudança no elenco foi a atriz Melora Hardin, substituída por Claudia Wells como Jennifer, a namorada de Marty. A decisão mais sensata foi com relação à máquina do tempo, que no roteiro era descrita como uma câmera tal qual uma geladeira. Modificada, a máquina passou a ser um Delorean DMC-12. O design do carro foi revisado inúmeras vezes incluindo por Michael Schefer, responsável pelo visual de KITT, o Trans AM usado na série A Super Máquina (Knight Rider, 1982). Três carros foram usados para o filme de Zemeckis, modificados para caber todos os ângulos de câmera necessários. O filme ganhou duas continuações em 1989 e a única cena que aparece em todos os três filmes da franquia é aquela em que Doc desce da torre do relógio em um cabo antes de o relógio ser atingido por um raio. O dublê Bob Yerkes, que fez o papel de Christopher Lloyd durante essa cena, recebeu um pagamento extra para as Partes II e III sem precisar fazer nenhum trabalho. Lloyd manifestou seu interesse por um 4º filme onde Dr. Brown e Marty revisitariam a antiga Roma, mas a doença de Michael J. Fox e a postura de Gale e Zemeckis, donos dos direitos da história, deixaram a trilogia como está, uma obra prima do cinema de entretenimento, uma pérola da década de 80 que conquista gerações a cada reprise. O filme pode ser visto na programação da TV Channel Network.