CÍRCULO DO LIVRO | O GRANDE GATSBY : 100 ANOS DA OBRA PRIMA DE F. SCOTT FITZGERALD

Adilson Carvalho

Completamos 100 anos desde a primeira publicação de O Grande Gatsby (The Great Gatsby) e 12 anos desde sua  adaptação cinematográfica mais recente. O livro escrito por F. Scott Fitzgerald ostenta hoje o posto de uma das maiores obras da literatura americana, contrariando a expectativa de muitos em sua própria época, quando sua tiragem inicial foi menor que 25000 cópias. Na verdade, foi somente após o fim da Segunda Guerra que o público norte-americano redescobriu o valor dessa obra – que já teve duas adaptações prestigiosas para o cinema : Em 1974 com Robert Redord, Mia Farrow, Bruce Dern e Sam Waterson, e outra em 2013 com Leonardo DiCaprio, Carey Mulligan, Joel Edgerton e Tobey Maguire. Jay Gatsby é um personagem sedutor e amargurado que pode ser visto como um romântico incorrigível, mas cuja fortuna feita do nada lhe rende suspeitas de atos ilegais, o que não o impede de ser o anfitrião das festas mais badaladas de Long Island, atraindo todo tipo de parasitas e mulheres fascinadas com seu carisma e riqueza. Na qualidade de homem que enriquece do nada, Gatsby é a personificação  do “American Way of Life”, mas não apenas do glamour como também das contradições de uma América que caminharia ao longo dos anos 20 para uma crise que entraria para a história como resultado de um materialismo exacerbado e descontrolado que criou fortunas na mesma medida que destruiria vidas.

Leonardo DiCaprio na versão mais recente da obra

Para entender melhor a obra, nada melhor que conhecer a vida de seu autor, e no caso de Fitzgerald, sua vida está intimamente interligada aos fatos narrados no livro. Os  anos 20, período chamado de “Loucos Anos” devido às grandes mudanças sociais e culturais que acompanharam uma onda de prosperidade que varreu as grandes cidades, não apenas nos Estados Unidos, época em que se passam os fatos narrados em O Grande Gatsby. Os Estados Unidos, recém saídos da Primeira Guerra Mundial, dançavam ao som do Charleston ouvido nos clubes e cabarets, o rádio era a mídia mais popular, a venda de bebidas alcoólicas era proibida pela lei seca e as mulheres conquistaram o sufrágio feminino, garantido pela 19ª emenda. O consumismo alcançava níveis sem precedentes até então com a venda crescente de carros, o uso da energia elétrica se espalha e o cinema se populariza como entretenimento de massa. Nesse cenário de grandes transformações sociais e extrema opulência, os mais abastados se esbaldavam ao sabor das bebidas ilegais e das festas que se tornavam grandes eventos, em torno dos quais a vida se desdobrava em fútil alegria e alheia ao abismo que os separavam da classe trabalhadora.

Mia Farrow e Robert Redford

A publicação de O Grande Gatsby foi elogiada pela crítica, mas não alcançou o público da época que parecia desinteressado em compartilhar a visão crítica do autor e seu desenrolar pessimista e pouco inspirador. O curioso na história é que todos os eventos são narrados pelos olhos do jovem Nick Carreway, primo de Daisy, e que praticamente incorpora a própria persona de seu autor. Assim como seu criador, Nick vislumbra o mundo dos ricos com admiração e vai aos poucos ganhando consciência dos excessos e do processo desmoralizador que acompanha os ganhos e as conquistas materialistas da sociedade americana nos anos 20. Nick é o narrador onisciente que acompanha os fatos, admira Jay Gatsby e torna-se o intermediário deste que busca a reaproximação de Daisy, seu amor do passado que agora está casada com ex jogador rico. Após a publicação de O Grande Gatsby, a vida de seu autor nunca seria a mesma ao começar a sofrer um revés após o outro. Já havia se tornado então um alcoólatra e entre as idas e vindas da Europa, Zelda começou a desenvolver um comportamento perturbador, revelando problemas mentais que a levaram à internação em clínicas psiquiátricas. Fitzgerald, para custear o tratamento deixou os planos de seu quarto romance de lado e voltou a escrever histórias curtas para revistas e jornais, o que não significava muito já que ele estava longe de ser bem pago. Pouco tempo depois, o colapso mental de sua esposa foi irreversível e, tendo sido diagnosticada como esquizofrênica,  o autor não teve escolha a não ser interná-la definitivamente. Mergulhando a cabeça no trabalho, Francis começou a escrever a que considerava seu melhor trabalho, o romance “Tender is the Night” , publicado em 1934, mas isso já é outra história. Gatsby foi publicado no Brasil pela primeira vez em 1962 pela Civilização Brasileira, e em 1970 pela Editora Record e pela L&PM, em 2004. Publicado pela primeira vez em 10 de abril de 1925, a obra de Fitzgerald é o marco de uma época que nos mostra como a opulência, a ambição e a inveja podem eclipsar o amor.

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