Adilson Carvalho
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Na noite de abertura do Festival de Cinema de Cannes, o ator Robert De Niro subiu ao palco para receber uma Palma de Ouro honorária. Ele abraça Leonardo DiCaprio, virou-se para o microfone e soltou a voz: celebrando o evento como um paraíso para a arte, democrático, inclusivo e, portanto, uma ameaça aos autocratas e fascistas. Seu discurso foi inflamado e combativo, mas a resposta de adoração o deixou abalado: ele precisou piscar e se reagrupar. Em um determinado momento, percebe-se que o intérprete de filmes como O Poderoso Chefão II, Taxi Driver e A Missão permitiu-se uma perceptível emoção. “Sim, fiquei sentimental”, ele admitiu na manhã seguinte. “Como eu poderia não ficar?”, disse o ator. que ainda com a voz rouca por causa da noite anterior, mas abafada pela multidão que se agitou quando Tom Cruise apareceu no terraço. “Um tipo diferente de ator”, diz De Niro com tristeza. “Missão: Impossível, essa é uma franquia. Mas eu entendo isso. Eu mesmo já fiz franquias.” O currículo extenso de DeNiro é notável. Ele participou da franquia Entrando Numa Fria (Meet the Parents) e Máfia no Divã (Analyze This and That). Além disso, pode-se dizer que O Poderoso Chefão Parte II faz parte também de uma espécie de franquia. No entanto, quando pensamos nos principais papéis de De Niro, é mais provável que o imaginemos como Travis Brickle ao volante de um táxi, ou empunhando um taco de beisebol como o cruel Al Capone, ou entrando no palco como o astuto Rupert Pupkin. Supõe-se que esses sejam os papéis pelos quais Cannes o adora, e seu relacionamento com o festival já está em sua sexta década. De Niro estrelou dois vencedores da Palma de Ouro (Taxi Driver, de 1976, e A Missão, de 1986) e esteve no festival pela última vez com Assassinos da Lua das Flores (Killers of the Flower Moon), há dois anos. Mas ele já fez tantos filmes que todos começam a se confundir. Fuga a meia-noite (1988), por exemplo, diz ele vagamente. “Foi um filme divertido de fazer.” Cannes, explica ele, é especialmente importante no momento. A situação nos EUA está tão ruim que parece um antídoto no exterior, um retorno aos princípios fundamentais. DeNiro odeia Donald Trump e lamenta pelos Estados Unidos que um dia conheceu. Ele diz: “Temos que parar o que está acontecendo, é uma loucura. Não podemos ter apatia e silêncio. Você tem que se manifestar e correr o risco de sofrer retaliação“. Durante anos, ele foi um dos críticos mais veementes de Trump. É bem provável que ele mesmo corra o risco de sofrer algum tipo de retaliação. De Niro é um gigante, rico como Midas (riqueza estimada: mais de US$ 500 milhões) e, portanto, deveria estar bem isolado. Exceto pelo fato de que Trump é vingativo e gosta de atacar seus desafetos. “O homem (referindo-se a Trump) é um valentão e não se pode deixar que os valentões vençam. Se um valentão pedir seu dinheiro para o almoço na segunda-feira, ele vai pedir mais na terça-feira. Você tem de se impor. E eu não gostaria de olhar para mim mesmo se não o fizesse“. Ele franze a testa. “Eu olho para pessoas como [o secretário de Estado Marco] Rubio. Eu o vejo sentado quando eles [Trump e JD Vance] espancaram Zelenskyy, depois de todas as vezes que ele defendeu a Ucrânia no passado. E eu penso: o que diabos ele vai dizer aos filhos sobre isso? Isso não será esquecido”, diz ele com tristeza. “Historicamente, isso não será esquecido”. Sobre envelhecer DeNiro disse “As coisas mudam, isso é certo. Se você estiver descendo algumas escadas, as pessoas virão ajudá-lo. Percebi que, agora que estou mais velho, as pessoas me olham de forma um pouco diferente. Mas sou velho, poderia ser pior. Eu me sinto muito bem. Estou no controle de mim mesmo fisicamente. Espero que isso dure para sempre“. Ele dá de ombros e meio que sorri. “Mas sei que não vai durar.”