Adilson Carvalho e Leandro “Leo” Banner

A fase inicial do título The Amazing Spider Man (março 1963/julho 1966) estabeleceu as bases, os personagens e as características de Peter Parker como protagonista. Steve Ditko mergulhou no drama existencial com Peter sendo impopular não apenas como herói mascarado como seu alter ego. Mas era hora de mudanças, principalmente depois das várias discordâncias entre Stan Lee e Steve Ditko, entre elas o segredo da identidade secreta do Duende Verde. Foi justamente esta revelação que impactou a história iniciada em The Amazing Spider Man #39 mostrando Peter com seu uniforme visível prisioneiro do Duende Verde no traço do talentoso John Romita (1930/2023). Este iniciou sua fase desenhando o Homem-Aranha quase sem interrupção até Amazing Spider Man #119 (abril 1973) e definiu permanentemente a imagem moderna do herói. O traço elegante de Romita mudou significativamente a imagem de Peter Parker: não apenas seu rosto, penteado e roupas, mas também sua relação com os colegas. Ele o transformou em um cara charmoso que era assediado pelas garotas e não mais o rejeitado da Midtown High. Coube a Romita também definir a aparência de Mary Jane, outro ponto de discussão entre Lee e Ditko, Peter sempre evitava encontrá-la, e assim seu rosto não foi mostrado até Amazing Spider Man #42 (novembro de 1966), quando Peter abriu a porta da casa dela e ela apareceu de repente na frente dele. Mary Jane era linda, com cabelos ruivos e um sorriso hollywoodiano, e ela já começa dizendo a frase: “Encare isso, tigrão… você acabou de acertar na loteria!“. A partir daí formou-se um triângulo amoroso entre Mary Jane, Peter e a doce Gwen Stacy, filha do capitão de polícia. O amor de Peter e Gwen tornou-se o namoro mais badalado do país para seus leitores. Seu primeiro beijo foi mostrado em Amazing Spider Man #59 (abril de 1968) e juntos precisariam superar muitas provações: os sumiços inexplicados de Peter em sua vida dupla, e a morte do Capitão Stacy esmagado por uma chaminé em queda após salvar heroicamente um garoto durante uma luta entre nosso herói e o Doutor Octopus em Amazing Spider Man #90 (novembro de 1970) Antes de morrer, disse ao Homem-Aranha para cuidar de sua filha: “Seja bom para ela, filho! Seja bom para ela. Ela ama muito você“. Em seguida, fechou seusolhos. A cena partiu o coração dos leitores e o site ergueu um muro entre Gwen e Peter.

Romita também apresentou novos vilões como o Rhino, o mafioso Cabelo de Prata, Shocker, o Gatuno, e Wilson Fisk, o aspirante a chefão de Nova York Wilson Fisk, que chama a si mesmo de Rei do Crime, com seu visual realmente ameaçador, uma massa gigantesca de gordura e músculos, careca e vestindo uma jaqueta branca, um vilão inescrupuloso que queria dominar a cidade e que, anos mais tarde, também se tornaria o nêmesis implacável do Demolidor. Romita parecia estar em perfeita sintonia com as ideias de Stan Lee em meio às lutas com os vilões e com os dramas envolvidos, a dupla criativa levou o título do Homem Aranha ao posto de mais vendido. Lee, sempre sensível às questões sociais, apresentou um novo e excelente personagem coadjuvante, Joe “Robbie” Robertson, repórter e editor-chefe do Clarim Diário, inspirado na figura do ator Sydney Poitier, a partir de Amazing Spider Man #51 (agosto de 1967). Robbie era o mais honesto e íntegro dos repórteres e atuava como um contraste com o histriônico e injusto J. Jonah Jameson. Uma das histórias mais marcantes do período chegou às bancas um mês antes, quando Peter desiste de ser o Homem Aranha para viver uma vida normal. O quadro em que Peter joga seu uniforme na lata de lixo de um beco debaixo da chuva foi fielmente reproduzida por Sam Raimi em cena do filme Homem Aranha 2 (2003).

Outra história importante do período foi publicada em Amazing Spider-Man Annual #5 (novembro de 1968), Lee e Romita apresentaram aos leitores a história real de Richard e Mary Parker, os pais de Peter. Eles eram, na verdade, agentes secretos da S.H.I.E.L.D., a organização de inteligência da Marvel liderada por Nick Fury. Eles foram acusados de traição, mas Peter conseguiria limpar seus nomes. Romita precisou de uma folga em alguns momentos de sua longeva fase, e aí entrou Gil Kane (1926/2000) que em um marcante arco publicado entre Amazing Spider Man #96 a #98 (março a julho de 1971), escrito por Lee por sugestão do Departamento de Saúde do governo para tratar da problemática das drogas entre os jovens. Na história, depois do fim do namoro com Mary Jane, e sempre ignorado pelo pai ausente (Norman Osbourne, o Duende Verde), Harry Osbourn se torna dependente químico e quase morre após uma overdose. A história foi muito corajosa e foi publicada sem o selo de aprovação do Comics Code Authority, orgão regulamentador de quadrinhos. Também foi nesse hiato em que Kane substituiu Romita que Peter enfrentou o vampiro Morbius, e viveu uam aventura na Terra Selvagem no estilo King Kong com Gwen Stacy fazendo o papel correspondente de Fay Wray. Quando Romita voltou ao título, Lee estava se retirando para assumir cargos mais administrativos e em seu lugar entrou o jovial Gerry Conway. O relacionamento de Peter e Gwen estava ficando cada vez mais sério, e os leitores pareciam ter a atenção dividida entre outros títulos. Como forma de impulsionar as vendas decidiu-se por uma morte, que a princípio foi cogitado como sendo Tia May. Conway e Romita sugeriram Gwen, abrindo caminho para que Peter se aproximasse de Mary Jane. O pesar da morte de Gwen, assassinada pelo Duende Verde, que morre também em seguida, marcou a memória dos leitores e serviu de divisor de águas entre os anos inocentes e o restante da década, sendo o marco do fim da era da prata dos quadrinhos. Publicada em duas partes em Amazing Spider Man #122 e #123 (junho e julho de 1973), a história concluiu a passagem de John Romita pelo título do Homem Aranha. O artista permaneceu, no entanto, como um dos melhores desenhistas do herói, que voltou a desenhar nas tiras dominicais do Homem Aranha entre 1977 e 1980, mas isso vamos abordar depois.
No próximo artigo desta série a chegada de Ross Andru nos desenhos e a estreia de um segundo título mensal para o Cabeça de Teia.
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