Adilson Carvalho

Por décadas Christopher Lee e Peter Cushing estiveram juntos em cena e assim se tornaram ícones do cinema de terror. Mas a cultura pop os reconhece além. Cushing foi Dr.Who, Sherlock Holmes, Van Helsing e o cruel Gran Morf Tarkin em Star Wars Episódio IV Uma Nova Esperança (1977). Christopher foi Sherlock Holmes, Conde Dookan em Star Wars Episódios II e III, Saruman em O Senhor dos Aneis e o melhor Drácula do cinema. Ambos nasceram no Reino Unido. Cushing nasceu em 26 de maio de 1913 e iniciou sua carreira no teatro londrino antes de se mudar para Hollywood em 1939 onde ingressou no elenco de diversos filmes até conseguir um papel coadjuvante em Hamlet (1948) de Lawrence Olivier, primeira produção britânica a ganhar o Oscar, e onde Christopher Lee teve um papel menor. Lee nasceu em 27 de maio de 1922 e serviu na Força Aérea Britânica na Segunda Guerra antes de despertar para as artes cênicas. Sua mãe casou pela segunda vez com o tio de Ian Fleming, o criador de James Bond, tornando-os parentes distantes. Fez teatro na escola mas quando começou sua carreira, após a baixa militar, foi rejeitado algumas vezes por ser “muito alto“. Aos 26 anos conseguiu seu primeiro papel no drama Corridor of Mirrors (1948) ao que se seguiram pontas e participações muitas vezes não creditada como em Quo Vadis (1951), no qual faz o condutor de uma biga. Embora tenham trabalhado em cerca de 24 produções ao longo de suas vidas, Christopher Lee e Peter Cushing so viriam a firmar uma parceria em cenano início de suas carreiras em Dos 24 filmes que fizeram juntos vamos conferir  dez deles que marcaram a cinefilia de toda uma geração.

1) A Maldição de Frankenstein (1957). Primeiro filme de terror da Hammer Films também é a primeira versão em cores do clássico de Mary Shelley. Peter faz o ambicioso Victor Frankenstein (papel que repetiria em cinco sequências) e Christopher faz a criatura. Através desse trabalho fizeram o gênero terror renascer e criaram um laço de amizade que os acompanharia pela vida toda.  Embora mal visto pelos críticos britânicos, o filme de Terence Fisher impactou os americanos. A amizade de Christopher Lee e Peter Cushing começou aqui quando Lee invadiu o camarim de Cushing, reclamando que “não tenho falas!”. Cushing gentilmente respondeu: “Você tem sorte. Eu li o roteiro“. Eles passavam o tempo entre as filmagens trocando frases de Looney Tunes e rapidamente desenvolveram uma amizade rápida, que durou até a morte de Cushing em 1994.

2. Horror de Drácula (1958). Novamente com Terence Fisher na direção, o filme é até hoje uma das melhores adaptações da obra de Bram Stoker, apesar de mudanças em relação ao texto original. Cushing vive o Professor Abraham Van Helsing e Lee o Conde Drácula, papel que reprisou em mais 7 filmes. A cenografia, a atmosfera gótica e a sexualidade inerentes ao texto de Stoker alcançam perfeito equilíbrio. A capa usada por Sir Christopher Lee foi descoberta em 2007 em uma loja de fantasias de Londres durante seu inventário anual. Ela estava desaparecida há trinta anos e acredita-se que valha cerca de US$ 50.000. Lee foi contatado para verificar sua autenticidade.

3. A Múmia de Ananka (1959). Com Frankenstein e Drácula, a Hammer se distanciou do trabalho da Universal americana com os personagens. Com a versão britânica da Mumia foi diferente. O roteiro guarda bastante semelhanças com o filme estrelado por Boris Karloff. Aqui Cushing é o arqueólogo John Banning, que desperta uma maldição secular quando descobre a tumba do sacerdote egípcio Kharis (Lee). Nem Lee nem Cushing fizeram as diversas continuações que se seguiram. O andar de múmia de Christopher Lee não é totalmente uma atuação. Além de lesões nas costas e no ombro , ele também machucou os joelhos e as canelas ao fazer cenas no “pântano” do tanque do estúdio. Ele não conseguia ver onde estavam os vários canos e acessórios sob a água pantanosa.

4. O Cão dos Baskervilles (1959). Primeira adaptação a cores do texto de Sir Arthur Conan Doyle traz Peter Cushing como Sherlock Holmes e Christopher Lee como Sir Henry Baskerville, herdeiro de uma fortuna, perseguido por um cão monstruoso, parte de uma maldição que acompanha sua família por gerações. O texto é instigante e surpreendente e as atuações de Lee e Cushing deixam água na boca para que tivessem continuado com outras obras de Holmes. Apesar de outras versões, esta ainda é fantástica e superior pelo respeito pela obra do escritor. Para seu papel de Sherlock Holmes, Peter Cushing tinha que usar regularmente um cachimbo na boca. No entanto, Cushing não gostava do sabor do cachimbo, por isso mantinha um copo de leite à mão para tirar o gosto. Sir Christopher Lee admitiu prontamente que tinha um medo mórbido de aranhas e que o pânico em seu rosto durante a cena com a tarântula não se devia à atuação.

5. A Gorgona (1964) Esta releitura do mito grego da Meduza traz Prudence Hyman como o primeiro monstro feminino da Hammer, em um filme bem desenvolvido com Peter Cushing e Christopher Lee como dois cientistas enfrentando uma criatura mitológica que assola uma pequena aldeia. Novamente dirigido por Terence Fisher, o filme traz Lee em uma atuação poderosa mas tardia, aparecendo apenas depois de cerca de 50 minutos de filme.

6. Ela a Feiticeira (1965). Baseado no romance de H. Rider Haggard , o filme traz Ursula Andress, que alcançou o estrelato como o primeira Bond girl em 007 Contra o Satânico Dr. No, como Ayesha, rainha bruxa de um reino perdido, cujo domínio é descoberto por um grupo de arqueólogos. Christopher Lee interpretou Billali, o sacerdote de Ayesha, enquanto Peter Cushing fez o papel do Professor Holly, o principal arqueólogo. Embora a grandiosidade da produção tenha sido geralmente elogiada, parecendo mais cara do que a de outros filmes da Hammer, os críticos modernos costumam considerá-la um pouco cansativa.

7. A Maldição da Caveira (1965). Produção da Amicus, dirigida por Freddie Francis, o filme traz Peter Cushing como o Dr. Maitland, um colecionador de objetos ocultos que se apodera do crânio do Marquês de Sade e rapidamente cai sob seu feitiço sinistro. Christopher Lee aparece como Sir Matthew Phillips, o antigo proprietário do crânio, e é anunciado como “astro convidado” nos créditos. Os descendentes de Sade se opuseram à produção, que originalmente usava o nome do nobre no título, e tomaram medidas legais contra o filme. Embora esse tenha sido o 12º filme em que Christopher Lee e Peter Cushing estrelaram, foi o primeiro em que eles interpretaram amigos verdadeiros com uma longa história juntos.

8. As Quatro Profecias do Dr. Terror (1965). Dirigido por Freddie Francis, foi o primeiro filme do famoso ciclo de antologia de terror da Amicus Productions. Peter Cushing estrelou como o narrador, Dr. Schreck (seu sobrenome significa “terror” em alemão), e guia o público por cinco histórias de terror diferentes. O quarto segmento, “Disembodied Hand” (Mão sem corpo), traz Christopher Lee como um crítico de arte, assombrado pela mão decepada de um pintor cuja vida ele destruiu. O filme é muitas vezes aclamado pelos críticos modernos como uma joia subestimada, tida como certa durante a época em que foi feito.

9. Soro Maldito (1971). Uma adaptação do romance do clássico O Médico & O Monstro de Robert Louis Stevenson da Amicus, dirigido por Stephen Weeks, é estrelado por Christopher Lee como Dr. Charles Marlowe – um psicólogo que inventa uma droga que o transforma em seu alter ego perturbado, o Sr. Edward Blake. Peter Cushing interpreta Frederick Utterson, o advogado de Marlowe, que acredita que Blake está chantageando seu cliente antes de descobrir lentamente a verdadeira natureza da situação. Embora o filme não tenha tido um bom desempenho nas bilheterias, o desempenho duplo de Lee foi elogiado pelos críticos modernos e, apesar de mudar o nome do protagonista, o filme é comumente citado como uma das adaptações mais fiéis do texto de Stevenson.

10. O Expresso do Horror (1972). Dirigido por Eugenio Martín, baseado em um romance de John W. Campbell Jr. serviu de base para o clássico O Enigma do Outro Mundo (The Thing from Another World), de Christian Nyby, filmado por John Carpenter. O filme, no entanto, acrescenta uma nova reviravolta, colocando a aventura em um trem em movimento com Christopher Lee e Peter Cushing tentando conter uma ameaça alienígena que está possuindo vários passageiros. O filme ainda tem Telly Savalas em participação especial antes de fazer a série Kojak. Ao ser lançado, o filme foi relativamente bem recebido e continua sendo um filme de terror divertido, mesmo que outras adaptações da novela de Campbell tenham se tornado clássicos.