Por Adilson Carvalho

Ele foi por duas décadas um dos rostos mais bonitos de Hollywood, um galã que era mais do que um galã, e mostrou isso com uma variedade de papeis em dramas e comédias. Hoje, mais conhecido pela atual geração como o pai de Jamie Lee Curtis (Halloween), ele completaria 99 anos. Vamos comemorar a vida e carreira de Tony Curtis. Nascido Bernard Schwartz em 3 de junho de 1925, filho de um alfaiate húngaro imigrante judeu, o ator teve uma infância bastante difícil no bairro do Bronx, Nova York, onde a família morava nos fundos da alfaiataria. Sua mãe e um dos seus dois irmãos eram esquizofrênicos, o que fez com que ele e o outro irmão fossem internados num orfanato aos oito anos de idade, por impossibilidade do pai de tomar conta de todos. Desde cedo, o futuro astro de cinema precisou aprender a cuidar de si mesmo e de irmão Julius. Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, ele se alistou na Marinha e foi um espectador privilegiado da rendição japonesa na Baía de Tóquio em 1945. De volta aos Estados Unidos, passou a estudar teatro, e em 1948, ao buscar emprego nos estúdios da Universal, foi observado pelo diretor Robert Siodmark, que o colocou contracenando com Burt Lancaster em um papel menor em Baixeza (Criss Cross) lançado em 1949. Foi nesse momento que trocou seu nome de batismo para Anthony Curtis. Depois de alguns papeis menores, conseguiu trabalhar ao lado de James Stewart no western Winchester 73 (1950). O ano seguinte foi importante na vida do jovem ator, que encurtou o nome artístico para Tony Curtis, vindo a conhecer a bela Janet Leigh em uma festa da RKO. Se apaixonaram e se casaram vindo a formar um dos casais mais badalados da Hollywood clássica, além de fazerem 5 filmes juntos começando com Houdini – O Homem Milagroso (1953), O Escudo Negro de Falworth (1954), Os Vikings (1958), De Folga Para Amar (1958) e Quem Era Aquela Pequena ? (1960). No mesmo ano ainda tiveram uma participação pequena não creditada em Pepe (1960).

Apesar do sucesso, Tony sempre se incomodou em fazer personagens que se apoiavam em sua beleza como o herói mascarado de No Reinado da Guilhotina (1955) ou o ambicioso artista circense de Trapézio (1956), neste formando um triângulo romântico com Gina Lollobrigida e Burt Lancaster. E foi ao lado deste que Tony mostrou talento para muito mais do que seu rosto expressava, interpretando o ambicioso assessor de imprensa Sidney Falco em A Embriaguez do Sucesso (1957) e no ano seguinte fez John “Joker” Jackson, recusado por Robert Mitchum, em Acorrentados (1959), ao lado de Sidney Poitier sobre dois prisioneiros, um branco e outro negro, que fogem da lei e precisam deixar preconceitos de lado para sobreviver. Apesar da admiração mútua e da camaradagem entre o elenco e a equipe, a filmagem não foi nem um pouco fácil, sendo fisicamente exaustivo para Tony Curtis e Sidney Poitier, que tiveram que correr por campos, pântanos e bosques e lutar um contra o outro com os punhos abertos, tudo isso enquanto estavam acorrentados. O mais extenuante de tudo foram as cenas em que os dois homens acorrentados são arrastados pelas corredeiras de um rio e sua tentativa desesperada de sair de um poço de barro profundo durante uma tempestade. Curtis disse que não havia dublês para a cena do poço de argila, que ele considerou a sequência mais difícil do filme. Ele também disse que tinha um dublê para algumas cenas na água, enquanto Poitier tinha um boneco como substituto em pelo menos uma cena. Além de tudo, a maior parte do extenuante trabalho de dublê foi feita pelos dois astros.

Em 1959, teve a oportunidade de trabalhar com Cary Grant, a quem admirava muito, na comédia de Blake Edwards Anáquas a Bordo. Nesse mesmo ano teve um ponto alto de sua carreira no icônico Quanto Mais Quente Melhor (1959) de Billy Wilder, até hoje celebrado como a comédia mais engraçada de todos os tempos. Na história, após testemunhar um assassinato da máfia, o saxofonista Joe (Tony Curtis) e seu velho amigo Jerry (Jack Lemmon) improvisam um plano rápido para escaparem vivos de Chicago. Disfarçando-se como mulheres, eles se juntam a uma banda de jazz onde todos os membros são do sexo feminino e pegam um trem com destino à ensolarada Flórida. Enquanto Joe finge ser um milionário para ganhar Sugar (Marilyn Monroe), a cantora sexy da banda, Jerry vê-se perseguido por um verdadeiro milionário (Joe E. Brown).

Mesmo com o papel de destaque em Spartacus (1960) de Stanley Kubrick, o ator começou uma fase problemática tanto pessoal como profissionalmente. Seu casamento com Janet Leigh colecionava histórias de traição e desentendimentos levando ao inevitável divórcio. Cansado de ser visto como um mero rosto bonito, esteve com Natalie Wood nos divertidos Médica, Bonita & Solteira (1964) e A Corrida do Século (1965), voltando a trabalhar com Blake Edwards. No mesmo ano, Tony dublou uma versão sua da idade da pedra em um dos episódios de Os Flintstones no qual Fred & Barney conhecem os atores Ann MagRock e Stony Curtis. Em 1968, fez a narração de O Bebê de Rosemary, de Roman Polanski, mas não foi creditado. Contudo, seu maior desafio foi viver Albert DeSalvo, baseado em fatos reais contando a história do estrangulador de Boston em O Homem Que odiava as Mulheres, refilmado como minissérie recentemente com Keira Knightly. De acordo com o crítico Ben Mankiewicz, Tony Curtis pressionou o chefe da 20th Century-Fox, Richard D. Zanuck, para conseguir o papel de DeSalvo, mas foi rejeitado, pois Zanuck não conseguia ver além do histórico de Curtis em interpretar comédias e protagonistas românticos. Então, Curtis contratou um maquiador e um fotógrafo e tirou várias fotos para enviar a Zanuck, que não reconheceu o ator de forma alguma. Esse esforço fez com que Curtis conseguisse o emprego.

Apesar do esforço, sua carreira nas telas entrou em declínio inevitável e o ator encontrou sua paixão na pintura. Na década de 70, o ator renasceu na TV participando de várias produções como a série de detetives Persuaders, ao lado de Roger Moore, e o papel de vilão na versão de TV de O Conde de Monte Cristo (1975), adaptado da obra de Alexandre Dumas. Com papeis menores em outras produções, algumas das quais no cinema como A Maldição do Espelho (1980), adaptado da obra de Agatha Christie, o ator se firmou como um pintor bem sucedido, mas lamentava nunca ter ganho um Oscar. O ator faleceu em 29 de setembro de 2010, deixando sua marca em diversos trabalhos, pois o carinho do público sem dúvida suplanta o reconhecimento que buscou até o fim.