
Apesar das tentativas de Joel Schumacher de fazer um novo filme depois do fiasco de Batman & Robin (1998), o homem morcego ficou na geladeira até a primeira metade da década seguinte quando Christopher Nolan, recém saído dos ótimos Amnésia (2000) e Insônia (2002), assume o posto de diretor e apresenta uma visão mais realista do herói dos quadrinhos, explorando a atmosfera noir e produzindo um filme de ação sem deixar de lado a abordagem psicológica que ficou superficial nos filmes anteriores. O roteiro assinado por David Goyer para Batman Begins acerta na escalação de um elenco que não eclipsa, mas que fortalece a história, destacando Christian Bale perfeito como Bruce Wayne com sua “máscara” de playboy irresponsável e desinteressado ou como um cruzado de determinação férrea. Michael Caine confere nobreza ao mordomo Alfred, o sempre ótimo Gary Oldman assume o papel do Tenente Gordon com semelhança impressionante com o traço de David Mazzuchelli, já Morgan Freeman confere a credibilidade habitual com a qual sempre atua, e Liam Neeson surpreende como o vilão Ra’s Al Ghul.

Nolan tem a fama de ter ficado tão fascinado com os olhos azuis brilhantes de Cillian Murphy (Oppenheimer) que ficou tentando encontrar motivos e maneiras de fazer Crane tirar os óculos. Murphy havia sido uma das opções para fazer Bruce Wayne, além de Heath Ledger, que viria a ser o Coringa pouco depois. No papel de Dr. Jonathan Crane / Espantalho, o futuro intérprete de Oppenheimer impressiona e faz de seu vilão uma presença marcante na história, sendo esta a primeira versão live action do vilão das hqs. Antes do início das filmagens, o escritor e diretor Sir Christopher Nolan convidou toda a equipe do filme para uma exibição particular de Blade Runner: O Caçador de Andróides (1982). Depois do filme, ele disse a toda a equipe: “É assim que vamos fazer ‘Batman’”. Além disso, Rutger Hauer, o ator que interpreta o ambicioso executivo Sr. Earle nesse filme, também estrelou Blade Runner (1982), interpretando o andróide Roy. Nenhum dos grandes nomes do elenco foi informado inicialmente de que se tratava de um filme do Batman, pois o roteiro que lhes foi enviado tinha o título de The Intimidation Game (O jogo da intimidação). Sir Michael Caine comentou que, quando viu o título pela primeira vez, presumiu que o roteiro era algum tipo de filme de gângster, e em muitos momentos o roteiro explora essa essência, principalmente no antagonismo representado por Carmine Falcone (Tom Wilkinson). Ao contrário destes, o personagem de Rachel Dawes (Katie Holmes) não existe nos quadrinhos, tendo sido criada por Sir Christopher Nolan e David S. Goyer. O papel foi escrito expressamente para Katie Holmes, com Claire Danes e Reese Witherspoon como alternativas. O grande mérito da adaptação de Nolan é que o filme funciona muito bem tanto para os aficionados pelo gênero como para os que apreciam um filme de ação convencional. Para muitos é o filme definitivo a mostrar a origem de um dos mais importantes heróis da DC Comics, um marco sem dúvida.
