Adilson Carvalho

Hoje, no aniversário de 99 anos de Mel Brooks, vamos lembrar de cinco de seus grandes sucessos enquanto aguardamos a recentemente anunciada continuação de S.O.S Tem um Louco À Solta no Espaço, e uma adaptação para série de TV de O Jovem Frankenstein. Parece que a atual geração está redescobrindo o talento cômico de Mel Brooks. Vamos conferir em qual streaming podemos encontrar essas pérolas do humor de uma época em que não era necessário ser politicamente correto para fazer rir.
Banzé no Oeste (1974). Lançado originalmente entre o sucesso de Primavera Para Hitler (The Producers) em 1967 e o fracasso de Banzé na Rússia (Twelve Chairs) em 1970, Mel Brooks filmou a história de Andrew Bergman sobre um xerife negro contratado por um especulador desonesto para expulsar cidadãos de uma cidade somente de brancos que fica no caminho de uma ferrovia. A história foi roteirizada pelo próprio Mel Brooks com Richard Pryor (1940-2005), que a princípio interpretaria o xerife mas os executivos da Warner não aceitaram pois o talentoso Pryor já vinha com problemas com álcool e drogas. Assim, o papel foi para Cleavon Little (1939-1992), que em cena demonstrou química humorística com Gene Wilder (1933-2016), no papel do pistoleiro Jim. Brooks conseguiu manter Pryor como roteirista junto dele, de Andrew Bergman, Alan Uger e Norman Steinberg mas ainda assim os problemas continuaram com os censores da Warner cortando 80 por cento do roteiro, e exigindo de Mel que reescrevesse tudo, considerado como ofensivo demais. Disponível na Apple TV.

O Jovem Frankenstein (1975). Foi durante as filmagens de Banze no Oeste (Blazing Saddles) que Gene Wilder (1933-2016) teve a ideia de uma paródia dos antigos filmes de terror da Universal. O roteiro desenvolvido veio a ser uma comédias mais celebradas cinema, inicialmente rejeitado pela Colúmbia que não gostou da ideia de filmar em preto e branco. Mas Mel Brooks e Gene Wilder não estavam dispostos a abrir mão de recriar o clima das antigas fitas de terror estreladas por nomes como Boris Karloff e Bela Lugosi. A história apresenta o Dr. Frederick Frankenstein, que se ressente do passado de sua família, inclusive corrigindo a exata pronuncia de seu infame sobrenome. (É Frankenstin!!!!) Gene Wilder pediu que Mel Brooks não aparecesse como ator, como geralmente faz, para que o publico não associasse automaticamente à uma paródia, e assim mantivesse o clima pretendido, e a ironia por trás da ambientação e da atuação de um elenco animadíssimo. Gene Wilder assume seu papel de protagonista ao lado do excelente Marty Feldman (1934-1982), com seu visual atípico, olhos esbugalhados e pescoço comprido e a frase de efeito “Walk this way” , que virou música do Aerosmith, quando Steven Tyler (líder da banda) assistiu o filme e simplesmente adorou. A fabulosa Madeleine Khan (1942-1999) a princípio ficaria com papel da secretaria Inga mas pediu a Mel o papel da noiva neurótica e rejeitada. Teri Garr ficou com o papel de Inga e teve que usar sotaque alemão por exigência de Mel, o que não foi problema. Madeline Khan ficou perfeita como uma dondoca que, rejeitada pelo jovem Frankenstein, se apaixona pelo seu monstro, interpretado pelo excelente Peter Boyle (1935-2006). No elenco ainda temos a genial Cloris Leachman (1946-2921) roubando todas as cenas como a governanta Frau Blucher, e como se isto não bastasse, temos Gene Hackman em aparição não creditada como o cego, em uma sequência simplesmente hilária. Disponível no Google Play.

Alta Ansiedade (1977). Após realizar a comédia muda A Última Loucura de Mel Brooks (1976), Mel decidiu-se por um projeto mais ambicioso ao escrever o roteiro, produzir, dirigir, compor a trilha sonora e protagonizar uma paródia aos filmes de Alfred Hitchcock (1899-1980) assumindo a ousadia já nos créditos de abertura com a dedicatória “em homenagem ao Mestre do Suspense“. Alta Ansiedade (1977) foi uma sucessiva e divertida colagem de várias referências aos filmes do diretor inglês. O próprio nome do filme se refere a uma incontrolável vertigem sentida por Thorndyke (Brooks) tal qual James Stewart em Um Corpo que Cai (Vertigo) de 1958. Na cena em que Thorndyke é atacado na cabine telefônica o local, próximo da lendária ponte Golden Gate, é o mesmo que aparece em Um Corpo Que Cai. Em outro momento, nosso neurótico protagonista é atacado por pombos no parque, sendo acertado por caca de pombo, numa clara referência a Os Pássaros (The Birds) de 1963. Mas o toque mais genial, logo na primeira meia hora de filme é o Dr. Thorndyke no chuveiro sendo atacado pelo mensageiro maluco com um jornal, repetindo a famosa cena de Psicose (Psycho) de 1960, com direito à tinta do jornal escorrendo pelo ralo tal qual fosse sangue. Simplesmente hilário !!!! Nessa cena, o mensageiro agressor é vivido pelo diretor Barry Levinson que fez Rain Man (1989) e O Enigma da Pirâmide (1985). Disponível no Disney Plus.

História do Mundo – Parte I (1981). Certa vez o diretor e roteirista Mel Brooks fez piada de que faria a história do mundo, sendo que a piada virou realidade e diante de um projeto de dimensões tão dantesca, Mel decidiu filmar alguns sketches cobrindo períodos específicos começando com a invenção do fogo pelos homens das cavernas, Moisés descendo do Monte Sinai com três tábuas de pedra, Jesus dizendo aos apóstolos `Um de vocês me traiu‘, até a Revolução Francesa. Mel pesa mais a mão em sua paródia, sem fazer concessões e resvala muitas vezes em um humor mais grosseiro. Na sequência inicial, por exemplo, os homens das cavernas replicam a cena de 2001 Uma Odisséia no Espaço, mas com os primitivos se masturbando. Já na sequência da Revolução Francesa, uma placa diz “Rue de Merde“, ou seja “Rua de Merda” traduzido do francês. Mel interpretou 5 personagens diferentes no filme: Moises, Comicus, o Grande Inquisidor Torquemada, Jacques, and o Rei Louis XVI. No elenco mais uma vez uma tour-de-force humorística reunindo Madeleine Khan, Ron Carey, Harvey Korman, Cloris Leachman e Dom DeLuise. O ator John Hurt (1940-2017) fez uma ponta pois o ator havia feito antes O Homem Elefante (1980), que foi produzido pelo próprio Mel Brooks, e o ator buscava um trabalho que fosse divertido e o fizesse relaxar do conteúdo deprimente de O Homem Elefante. Em 2024. Em 2023, Mel co-produziu a minissérie de 4 episódios Historia do Mundo Parte 2 atendendo pedido de seus fãs que sempre cobraram uma continuação. Disponível no Prime.
S.O.S Tem um Louco à Solta no Espaço (1988). Depois de sete anos sem filmar, Mel Brooks voltou com essa paródia sci-fi. O cenário hollywoodiano não era o mesmo nas telas e o público se dividia entre loucademias de polícia e a anarquia cômica de Jim Abrahms e os irmãos Zucker. Mel conseguiu a benção de George Lucas para fazer uma paródia de Star Wars, um fenômeno pop, e aproveitou para inserir vários clássicos da ficção científica no bolo como referências a Alien e Planeta dos Macacos. O próprio George Lucas se ofereceu para cuidar dos efeitos especiais com sua empresa a Industrial Light and Magic; e só fez uma exigência, que não houvesse venda de produtos relacionados com o filme. Mel aceitou mas não resistiu a colocar em SOS Tem um Louco à Solta no Espaço (Spaceballs) um piada sobre o consumismo com a loja do Yogurt, uma paródia do mestre Yoda, vivido pelo próprio Brooks. O filme torna-se uma metralhadora giratória de piadas com gags para todos os cantos da galáxia. Disponível no Disney Plus.
