Adilson Carvalho

Há 40 anos o Brasil engatinhava o caminho de volta a um governo civil com a posse de José Sarney, a democracia parecia renascer quatro meses depois do Rock ‘n Rio. Fora do Brasil, a antiga União Soviética iniciava um processo de lenta abertura política ao som de guitarras, teclados, bateria e saxofone por conta do histórico lançamento do álbum Brothers In Arms, da banda britânica Dire Straits, em seu quinto álbum de estúdio. Guy Fletcher, Alan Clark, Terry Williams, John Illsley e Mark Knopfler alcançaram um marco então inédito tornando-se o primeiro álbum a vender mais de um milhão de cópias em formato CD, além das milhões de cópias no formato vinil, que era o padrão na época. São 55:07 minutos de canções inspiradíssimas mesclando o rock gravado e mixado digitalmente e baladas reflexivas, todas escritas por Mark Knopfler, com exceção da icônica Money For Nothing, que teve participação de Sting na composição e no vocal. Quatro décadas depois, Knopfler, atualmente com 75 anos, lembra com carinho e uma dose admirável de humildade ao dizer “Foi muita sorte. De fato foi uma época fantástica. Era o que todos nós queríamos e estávamos buscando. Suponho que você também poderia dizer que as consequências foram muito maiores do que qualquer coisa que poderíamos ter previsto.” Para marcar seu 40º aniversário este ano, Brothers In Arms está sendo relançado mais uma vez, nos formatos de CD de luxo e vinil antigo, com a adição de um show completo gravado em San Antonio, Texas, na noite 91 da turnê da banda.

Outro fator memorável foi a popularização da linguagem jovem na mídia através da consolidação da MTV como canal do Pop Rock. O videoclip de Money For Nothing, todo em animação digital, vindo a ser o primeiro clip exibido pela MTV Europeia. A letra foi composta por Knopfler enquanto ele estava em uma loja de eletrodomésticos, com o baixista John Illsley. Enquanto olhavam os aparelhos televisores, um vendedor reclamava enquanto o baixista assistia a um canal musical televisivo. O vendedor dizia: “Eu deveria ter aprendido a tocar algum instrumento musical. E não ficar carregando TVs, fornos de microondas, refrigeradores. Vejam esses aí: ganham a vida fácil, sem trabalhar…“. O verso inicial, “I want my MTV“, foi tomado então como um slogan para a MTV. A música ainda gerou uma polêmica na época pelo uso do termo homofóbico “faggot”, substituído nas apresentações ao vivo. Foram três semanas no primeiro lugar das paradas de sucesso, além da excelente recepção do público com a animada Walk of Life, e as baladas Why Worry e Your Latest Trick, todas campeãs de execução nas rádios internacionais. Why Worry também foi incluída na trilha sonora internacional da novela Roda de Fogo, um grande sucesso na Rede Globo.

Ainda mais do que uma Fender Strat, a guitarra mais fortemente associada ao trabalho de Knopfler no Dire Straits é, obviamente, o ressonador National Style 0 que aparece contra um fundo de céu azul na capa de Brothers In Arms. No entanto, ele não era um mero adereço e ainda é muito usado hoje em dia para trabalhos em estúdio e ao vivo – Mark o usa para tocar a introdução de Romeo And Juliet, por exemplo. O álbum começa e termina de forma magistral, primeiro com a melodiosa So Far Away que fala de um casal que está se distanciando física e emocionalmente, e que conta com o violão de James Taylor, e fecha com chave de ouro com Brothers In Arms, um hino anti belicista inspirado na então recente Guerra das Malvinas (2 de abril de 1982 a 14 de junho de 1982). Um trabalho primoroso que marcou uma geração ao som daquela guitarra na MTV.