Por Paulo Telles

No aniversário de 109 anos de Olivia De Havilland, a eterna Melaine Hamilton
Dama do cinema internacional, a atriz Olivia de Havilland (1916-2020) é lembrada como uma das grandes estrelas clássicas da Sétima Arte, uma longa vida e carreira, por sinal, muito bem-sucedida, sendo laureada com dois Oscars da Academia. Mas o que poucos conhecem é que existe nos Estados Unidos uma lei com o nome da atriz. Você sabia?

Na Velha Hollywood, pelas décadas de 1930 e 40, todos os atores eram presos a contrato, o que os tornavam praticamente como escravos do sistema de estúdios tão vigente, obrigando-os a fazer um filme que o estúdio mandasse sem que o artista tivesse direito de recusar. No caso de Olivia, seus desempenhos haviam começado a render nomeações ao Oscar, e isso a deixou esperançosa em relação à possibilidade de a Warner considerar o seu desejo de interpretar papéis por meio dos quais ela pudesse mostrar todo o seu potencial artístico. Olivia, no entanto, tornava-se cada vez mais frustrada com os papéis que lhe eram dados.

Cansada de interpretar moças ingênuas e recatadas e dos papéis de donzelas em perigo, a doce Olivia tornou-se uma rebelde estrela, passando a recusar os papéis cujos perfis não correspondessem ao que ela visava interpretar, e solicitando ao seu estúdio aqueles que pudessem oferecê-la a chance de destacar-se e realizar-se artística e profissionalmente. A resposta do estúdio foram seis meses de suspensão contratual. Como a própria lei era quem permitia que os estúdios suspendessem o contrato de atores que recusassem filmes, ela realmente não pôde fazer nada durante este meio tempo. Na teoria, essa ordem permitia que os estúdios mantivessem controle indefinido sobre um contrato não corporativo.

Muitos aceitavam essa situação, enquanto poucos tentavam mudar o sistema (o caso mais notável foi o de Bette Davis, que abriu um processo malsucedido contra a Warner na década de 1930). Com interesse em trabalhar para outros estúdios, pois sabia que fora da Warner receberia melhores ofertas de papéis, De Havilland não via a hora de seu contrato terminar. Quando isso finalmente ocorreu, em 1943, Olivia ainda foi informada de que deveria continuar a trabalhar para a produtora por mais seis meses para compensar o período em que esteve suspensa. Olivia, cujo pai era advogado e ela mesma tinha noções de leis, sabia que não era certo que tais contratos excedessem sete anos; portanto não se via obrigada a pagar pelo período em que esteve suspensa, uma vez que os sete anos de contrato com a produtora já haviam terminado.
Apoiada pelo Screen Actors Guild, Olivia abriu um processo contra a Warner. Durante a batalha judicial, ela ficou fora de Hollywood por cerca de dois anos, fazendo tours para entreter feridos na II Guerra. E acabou sendo bem-sucedida na ação judicial, reduzindo o poder dos grandes estúdios e prorrogando maior liberdade aos atores, tendo podido rescindir o seu contrato, estando agora livre para fazer filmes em qualquer outro estúdio. A Warner, porém, nunca prometeu contratá-la novamente.

A decisão judicial, conhecida como Decisão De Havilland, por meio da qual se originou a Lei De Havilland (De Havilland Law), foi uma das mais significativas e de grande alcance em Hollywood, cuja norma de eficácia perdura até hoje. Com isso, tornou-se uma defensora pioneira dos direitos trabalhistas dos atores. Sua vitória valeu-lhe o respeito e admiração de seus colegas, entre eles a própria irmã, Joan Fontaine (1917-2013), sua rival, que certa vez comentou: Hollywood deve muito a Olivia.
Um caso glorioso envolvendo uma das grandes e inesquecíveis estrelas de Hollywood, afinal, Isto é Fato…Não Fita!
Paulo Telles é crítico de cinema, escritor e radialista (DRT 21959-RJ) além de colunista e redator do blog Cine Retro Boavista.
https://cineretroboavista.blogspot.com/
“Isto é Fato… Não Fita! “ Era um quadro do extinto programa Cine Vintage, pela Web Rádio Vintage.