Adilson Carvalho
Iniciando uma série de artigos em homenagem a Sylvester Stallone no aniversário de 79 anos que celebramos em 6 de julho próximo.

Eu tinha 15 anos quando Rocky – Um Lutador foi exibido pela primeira na Tv brasileira, pela Rede Globo. Era final de 1984 e haviam passado oito anos desde seu lançamento original nos cinemas norte-americanos, mas no Brasil o filme só chegou a nossas telas em 7 de Janeiro de 1977. Minha geração gritava “ROCKY!” como se fosse uma luta de verdade e nem imaginávamos do incrível paralelo entre criador e criatura. Stallone era Rocky e Rocky era Stallone, que então aos trinta anos vinha de passagens inexpressivas no cinema: Pontas não creditadas em filmes como “Bananas” (1971) de Woody Allen, e “Klute o passado condena” de Alan J.Pakula (1971) e até um filme pornô no currículo, “O Garanhão Italiano” (The Italian Stallion) de 1970. Quando Sylvester Gardenzio Stallone assistiu na TV a uma luta entre o campeão Muhammmed Ali e Chuck Wepner, em Março de 1975, ficou impressionado com a resistência do desfavorecido Wepner contra o favorito Ali, um embate que todos apostavam não duraria além do segundo round. Wepner levou a luta até o 15º round e chegou a nocautear Ali no 9º, e embora este tenha ganhado os pontos necessários, Wepner sobressaiu-se moralmente contra todas as apostas. Foi essa característica que Sly dramatizou e fundiu a sua própria história, um homem simples, de descendência italiana, teve infância problemática e foi limitado em sua expressão facial por uma paralisia no lado inferior esquerdo de seu rosto devido a complicações no parto. Stallone precisou vender seu cachorro por não ter condições de alimentá-lo e tendo praticamente dinheiro nenhum, escreveu o roteiro de Rocky e saiu batendo de porta em porta, recebendo a proposta de US$ 125,000 que o estúdio pretendia filmar com Ryan O’Neal (Love Story) ou Robert Redford (Butch Cassidy). Sly recusou e condicionou a venda de seu roteiro a tê-lo como o protagonista. Os produtores Irwin Winkler e Robert Chartoff conseguiram um acordo no qual o estúdio pagaria US$35,000 e Stallone ficaria com a chance de interpretar seu personagem, sem contudo ser pago como ator. O orçamento de ‘1 milhão foi cedido com a condição de que se o ultrapassasse os produtores usariam recursos próprios para terminá-lo. No final das contas, estes tiveram que hipotecar suas casas para complementar o custo que totalizou, 1.1 milhão de dólares. O resultado foi uma bilheteria milionário resultado de uma identificação do público da era Watergate com a mensagem de um pugilista desacreditado que chega ao sucesso por acreditar em si próprio. Na cerimônia do Oscar de 1977, a Academia reconheceu e entre 10 indicações ganhou 3 : melhor filme, diretor para John G.Avildsen e melhor edição. O filme também foi um triunfo técnico sendo o primeiro filme a utilizar a steadicam (câmera acoplada ao corpo do operador ligado a um sistema de rolamentos que a estabiliza durante o movimento desta sem que haja tremidas) como na sequência em que Rocky corre pelas ruas do mercado e segue em direção a escadaria do Museu de Arte da Filadelfia ao som da contagiante “Gonna Fly Now”, do compositor italiano Bill Conti.
O papel de Audrey, a namorada do herói quase ficou com a atriz Bette Midler, mas foi eternizado por Talia Shire, irmã do diretor Francis Ford Coppola. Já Mickey, o treinador de Rocky, seria interpretado por Lee Strasberg, o fundador do renomado Actor’s Studio. No entanto, o estúdio não conseguiu contratá-lo e o papel ficou com o veterano Burguess Meredith (o Pinguim do clássico seriado “Batman”). O filme de Avildsen foi o primeiro filme sobre esportes a ganhar o Oscar, alem de indicações ao BAFTA e premiação no GLOBO DE OURO. Desde então, o filme de Stallone ganhou 5 sequências: Rocky II – A Revanche (1979), Rocky III – Desafio Supremo (1982), Rocky IV (1985), Rocky V (1990) e Rocky Balboa (2006), além do spin-off Creed – Nascido Para Lutar (2016), que já gerou duas continuações. . A propósito, Butkus, o cão de Rocky, visto no primeiro filme é aquele cão que pertencia ao ator e que ele vendera antes da fama. Assim que vendeu o roteiro, Stallone o comprou de volta e o colocou em cena. Lembram da cena romântica em que Adrian patina no gelo ao lado de Rocky. Este não patina porque o ator não sabia. E o primeiro beijo dos dois na casa de Rocky foi dado com a atriz Talia Shire extremamente resfriada. Sua hesitação em cena era para evitar que Sly contraísse o resfriado, o que deu à cena a dimensão exata da personalidade retraída da personagem. Aliás, em análise, os personagens Rocky, Adrian, Mickey e Polly são azarões, rejeitados pela sociedade representada pelo abastado e bem sucedido Apollo, vulgo “o doutrinador”. Vitória e derrota, luta e sucesso são todos nuances de uma vida refletida em cada minuto dos 120 dessa belíssima história, um paralelo entre ator e personagem que contagia quem assiste hoje, quarenta anos depois e nos invade com a vontade de sair por ai ao som do tema de Bill Conti. Bom, ao menos eu me sinto com essa vontade. Os filmes da saga Rocky estão disponiveis na Prime Video,
