Por Adilson Carvalho

Se o crime é uma doença, conheça a cura. Com essa frase emblemática no poster, chegava às telas do cinema em agosto de 1986 Cobra, dirigido por George Pan Cosmatos (1941-2005), que trabalhou com Stallone um ano antes em Rambo II A Missão (1985). Na época, o filme foi cercado de muita polêmica sendo acusado de extremamente violento, com 52 mortes ao todo, sendo 41 deles mortos em cena por Stallone. Na história, o policial Marion Cobretti, vulgo Cobra, é meio que rejeitado pelo departamento de polícia, acusado de ser muito violento. Relegado ao Esquadrão Zumbi, “os últimos da lista”, especializados em fazer serviços que ninguém mais quer fazer, Cobra é incumbido de proteger a modelo Ingrid (Brigitte Nielsen), única testemunha de uma série de assassinatos. Dois anos antes, Stallone foi quase contratado para fazer Um Tira da Pesada (1984), mas reescreveu o roteiro desagradando os produtores que queriam um filme mais leve. Stallone se desligou do projeto, que foi parar nas mãos de Eddie Murphy, mas guardou suas anotações de roteiro que foram usadas em Cobra (1986). Na época do filme, Stallone ainda era casado com Brigitte Nielsen, com quem também apareceria em cena em Rocky IV (1985). Apesar da truculência e do roteiro extremamente raso, é a presença de Stallone quem torna o filme uma pérola. Contracenando com ele, estão as figuras icônicas de Reni Santoni (1938-2020) e Andrew Robinson, ambos atores do elenco do clássico Perseguidor Implacável (Dirty Harry) com quem Cobra guarda suas semelhanças: ambos policiais durões, que ignoram as regras se necessário, e caçam serial killers. No filme de Eastwood, Robinson era o assassino, e em Cobra ele é um policial enquanto que o silencioso Brian Thomspson faz o papel do vilão psicótico. O nome do personagem de Stallone foi uma homenagem à John Wayne (1907-1979), cujo nome verdadeiro era Marion.

O filme rendeu $12,653,032 para um orçamento de cerca de $25 milhões, extremamente abaixo do resultado conseguido por Rocky IV e Rambo II A Missão, apesar do faturamento internacional de $160 milhões. O baixo faturamento doméstico cancelou qualquer possibilidade de sequência, embora os fãs sempre demonstrassem a vontade de ver Cobra em uma continuação. Cobra recebeu 6 indicações ao Framboesa de Ouro nas seguintes categorias: Pior Filme, Pior Ator (Sylvester Stallone), Pior Atriz (Brigitte Nielsen), Pior Ator Coadjuvante (Brian Thompson), Pior Roteiro e Pior Revelação (Brian Thompson). Um filme típico dos anos 80, Cobra pode não ser o melhor filme de Stallone, nem mesmo um dos melhores de seu gênero, mas tem lugar na memória afetiva de quem viveu a década que bastava ser durão para salvar o dia e se tornar um herói.
Voltamos com o ciclo de revisitações aos filmes de Stallone ainda essa semana com Falcão.